inoperantes
versos
pendendo
dos
braços
das
mãos
dos
dedos
da
operária
falanges
que
operam esta coisa
aqui
e
outras
coisas
tantas
que
nem pensa
que
opera
enquanto
faz
só
faz
pés
nos
sofás
cansados
de dias
pernas
moventes
que
seguem operando
até
quando
pousam
numa
certa almofada
tremulam
exibindo
ansiedades
membros
pensam
sobre
o
fim
do
dia.
qual
dia?
qual
fim?
qual
meio?
estamos
sempre no meio
nos
presentes
pré
e
pós
operatórios
o
braço cansa,
a
nuca também
a
forma desinforma
e
cai
em
gesto seco
o
gesto poderia ser simples,
um
só:
escrever
do
lado de lá
há
desejo imenso e vário
enquanto
pensa nos desejos,
a
operária opera
paga
contas
faz
café
corrige
redações
responde
e-mails
renasce
caminha
rega
as plantas
toma
o café
varre
a casa
paga
sustos
faz
amor
corrige
atenções
responde
espelhos
refaz-se
dança
rega
as esperas
toma
o amor
varre
as preocupações
(Opiniães –Revista dos Alunos de Literatura Brasileira. São Paulo, ano 12, n. 22, jan.-jun. 2023)
Sobre a autora:
Ayana Moreira Dias é mestre em Literatura Brasileira (UFF), especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas (UFRJ), atriz (E.T.E. Martins Penna), professora, escritora, pesquisadora e transcritora de parte da obra de Carolina Maria de Jesus. E-mail: ayanamoreira@hotmail.com
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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.
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