segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Resenha | A mulher que escreveu a bíblia, de Moacyr Scliar

 


A mulher que escreveu a Bíblia trata-se de uma trilogia de histórias em que Moacyr, a partir de trechos e passagens bíblicas, constrói narrativas recheadas de sarcasmo, humor e críticas ácidas aos acontecimentos descritos na bíblia. Com uma maestria literária, ele consegue dar toda uma trajetória a personagens secundários e figurantes da história do livro sagrado.

 

A mulher que escreveu a Bíblia fala sobre uma mulher que descobriu que, numa vida passada, foi escolhida para ser esposa do grande Rei Salomão, e como ela era feia, o rei não queria saber de ir pro leito conjugal com ela. Mas, ela tinha a habilidade de ler e escrever e o rei passou a utilizá-la para escrever sua história [e a do povo judeu] no livro sagrado. Enquanto isso, ela tenta todas as artimanhas possíveis para conquistar seu Rei e esposo, a fim de que ele consuma o casamento, mesmo ela sabendo de sua 'feiura'.

 

Há passagens hilárias no livro, em que ela "se vira" para conseguir um orgasmo, bem como suas observações acerca de sua aparência. É de dar pena da personagem, e ao mesmo tempo, você simpatiza com ela, torce para que ela alcance seu objetivo. Moacyr sabe contar de maneira criativa uma história que não te deixa desistir do livro.

 

“Essa é a história que tenho lido, dia e noite, desde que ela se foi. Procuro a mim próprio, nessa história. Procuro-me nas linhas e nas entrelinhas, procuro-me nos nomes próprios e nos nomes comuns, procuro-me nos verbos e nos advérbios, nos pontos, nas vírgulas, nas reticências. E não me acho. Assim como não me acho em lugar nenhum. Estou perdido.”

 

Fazem parte da trilogia A mulher que escreveu a Bíblia, Os vendilhões do Templo [a história de um dos vendilhões expulsos do templo por Jesus, que ficou prejudicado em seu 'negócio' de vender pombos para sacrifícios no templo] e Manual da paixão solitária [que fala sobre o relato de Judá, irmão de José do Egito e Tamar, sua nora]. Mas cada livro é solto, não é preciso ler um para entender o outro, mas de qualquer forma, é leitura interessante...

 

Bom, espero que tenham curtido. Beijos e até mais...

 

Sobre a resenhista:

Maria Valéria é formada em História, professora de cabelo colorido, piercings e tatuagens. Também dá aulas de Arte, Cidadania e Geografia. Sonha em fazer um mochilão pelo mundo, pegando carona, com uma câmera nas mãos, fotografando paisagens e pessoas que passariam por outras pessoas sem ninguém notar. Como diria Ana Cristina César, pois sem saber, ela escreveu isso sobre mim:

"Sou amativa antes de tudo

embora o mundo me condene..."


7 comentários:

  1. Olá,
    Interessante não conhecia o livro, nem a trilogia, e gostei da ideia de pegar personagens conhecidos da bíblia acrescentando outros e fazendo uma nova história.

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  2. Pessoalmente não sou muito fã de roterização biblica com humor acido ou questões que possam estar criar certos desconfortos, mas acredito que a pesquisa pelos trechos que abordou vão alem dos livros biblicos e o eu poetico. Pode estar associados a pesquisas temporais também.

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  3. Não sei se fiquei mais interessado nas histórias criadas dos personagens bíblicos ou da história da personagem... kkkkk. A Bíblia contem uma quantidade imensa de outras histórias, isso é um dos motivos de ser tão complexa. Muito bom, obrigado pela indicação !

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  4. Eu ouvi falar desse livro outro dia, e estou tentando me lembrar onde... Achei grande coincidência. Acredito que deve ser uma obra, sobretudo, divertida. Porque que tema interessante, hein? As pessoas tem cada ideia. hahahaha

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  5. Aain, foi uma das primeiras leituras q fiz de moacyr. Me apaixonei pela forma como ele conduzia suas historias e adoro a provocacao que ele faz com textos bíblicos. Quanto mais incomodar, melhor rs
    Que bom que curtiu a resenha, Lili

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  6. Olá, tudo bem?
    Ainda não conhecia o livro, mas lembro de ter ligo outro do Moacyr Scliar há muito tempo e ter gostado da escrita dele. Achei a proposta bem diferente e ousada, fiquei curiosa para ler.
    Beijos

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  7. caramba!!!! eu to apaixonada e curiosa, e instigada e ''oi lilis me envia por correio quero ler hoje'' kkkkk. eu não sabia desse livro e a ironia é que a poucos minutos eu estava assitindo (no caso ela passando na TV do meu lado) a séries reis na record e passando a história de salomão kkk.

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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