Você se lembra?
Você se lembra?
Você se lembra de todas as pessoas
que já amou?
Eu lembro.
Carrego em mim
um pedacinho de cada uma delas.
Um momento.
Uma história.
Um sorriso.
Uma memória.
Não sei se lembram de mim
ou se ficou um vazio onde eu costumava
estar.
Mas eu me lembro.
Vácuo
Preencho espaços vazios
Noites silenciosas
Conversas vazias
Quietas, ociosas
Preencho os não-espaços
As nunca-conversas, o não-lugar
Preencho um vazio
Que insistem em me colocar
Um vazio oco e solitário
Esquecido, abandonado
Que fora de suas paredes
Nunca é lembrado
Preencho a não-existência
O não-pertencimento
Preencho tudo que nada é
Preencho o esquecimento
visceral
barriga aberta
exposta
à vista
fluídos
sentimentos
crus
e à mostra
sem vergonha
sem pudor
o cheiro fétido inebriando
as feridas
os medos
as dores
a podridão
exposta
causa da morte:
poesia
Autore:
Laila Enby
(ele/ela) é escritor, poeta, artista. É também uma pessoa não-binária, autista
e TDAH. Seu diagnóstico só chegou aos 30 anos de idade, mas o deslocamento e a
sensação de não pertencer estiveram sempre presentes. Laila se define como um
artista em recuperação, cujo tratamento tem sido as palavras.
Instagram: @umfuturoeeenby
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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.
Instagram: @poesianaalmabr