Uma janela cuja cortina nunca foi aberta | Patrícia Gavazzi
Expediente
Na
gangorra dos dias e das noites,
vislumbro
a estética apática
desses
fins de tarde embaçados.
Com
o propósito pregado na cabeça,
como
uma janela cuja cortina nunca foi aberta, escondo meu abismo.
No
reflexo da porta de vidro, confiro minha existência,
enquanto
viro a chave sem sentido.
Tranco
o vazio das minhas obrigações,
deixando-o
em segurança para o próximo turno.
E
atravesso a caverna de concreto com a pupila dilatada e com meu coração desregrado,
na
direção errante do poente.
Lembro
que já esqueci de você
e
que um casal de urubus apareceu,
mas
não pousou em minha sorte.
Consulto
a previsão do tempo para quebrar a concentração e o gelo.
Esqueço
de lembrar de você.
Palavras
repetidas insistem em prevalecer.
Me
irrito com elas.
Me
irrito com a primeira pessoa do singular.
Me
irrito com quem desce escada segurando no corrimão.
E
nada basta para frear minha inquietude ante os cumprimentos de bom-dia.
Sobre a autora:
Patrícia Gavazzi é bacharel em Letras pela Unicamp, é tradutora e copydesk. Tem poemas publicados na página @mulheresnapoesia.
Instagram:
@orla.da.poesia
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