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RESENHA Édipo Rei | de Sófocles

 


Tive algumas leituras interessantes em Agosto, e entre livros maiores resolvi intercalar alguns mais curtinhos, dentre eles Édipo Rei, de Sófocles. O autor é um dos mais famosos autores de tragédia grega, que escreveu inúmeras peças, mas que infelizmente se perderam no tempo, chegando até nós pouca coisa de seu legado. A peça mais famosa dele é Édipo Rei, que explora a desgraça que se abate sobre Édipo, ao matar o próprio pai e apaixonar-se por sua mãe - sem saber de tais fatos.

 

Não considero spoiler ter dito isso, pois creio que todo mundo sabe dessa história, que geralmente já vem escrita nas sinopses dos livros. Pois enfim, eu mesma não tinha lido o livro ainda mas já sabia da história lendária do personagem Édipo, sua mãe Jocasta e todo o enredo da peça, só não tinha tido a chance ainda de ler realmente a obra em si.

 

 

A escrita de Sófocles nos traz momentos densos e sombrios, é narrada pelos próprios personagens, como num teatro. Em suas curtas páginas [93 ao todo], Sófocles nos apresenta a trajetória de Édipo, que logo quando bebê foi entregue para ser morto por causa da profecia de um respeitado Oráculo da cidade de Tebas, que dizia que o futuro rei de Tebas deitaria no leito de sua mãe Jocasta após matar seu pai. Com medo de que isso viesse a se tornar realidade, o rei Laio e Jocasta ordenaram a morte de seu primogênito, mas por um acaso do destino a vida da criança acaba sendo poupada, tendo seus pais ignorado esse fato.

 

Os anos passaram e Édipo, que foi criado por pais adotivos acaba 'retornando ao lar', e no meio do caminho, em uma briga, comete o assassinato de um homem, homem este que era o rei Laio, seu verdadeiro pai. Mais uma série de acontecimentos o leva a casar com a viúva do rei, Jocasta - sua verdadeira mãe, chegando a ter filhos com ela. Muitos anos depois da morte de Laio, surge o Oráculo revelando a tragédia, para desespero de Édipo, então Rei de Tebas, e de sua mãe/esposa Jocasta, a quem Sófocles dá destino cruel...

 

Importante ressaltar que as tragédias gregas têm cunho filosófico e sempre trazem uma 'moral' na história. A de Édipo seria dizer que 'ninguém foge a seu verdadeiro destino', que todos estamos destinados ao que nos é reservado e que em algum momento da vida, por mais que as nossas decisões e percalços indiquem um caminho diferente, no final, tudo tende ao fadado desfecho, seja ele qual for, não importa o quanto fugirmos dele... Para quem lê, ficam algumas perguntas: se por acaso os pais não tivessem 'se livrado' do filho ainda bebê para que a profecia não se cumprisse, ele teria realizado tais atos? Se ele descobrisse que seus pais eram adotivos, e sabendo da profecia que lhe caía aos ombros, ele teria se exilado da terra onde foi criado, a fim de não cometer tais crimes contra quem lhe criou? Acabou cometendo, mas não com as pessoas que ele julgava serem seus pais...

 

Certamente, Édipo Rei é a tragédia mais conhecida de Sófocles, e com certeza a pior delas [no sentido de cruel, e não de qualidade]. O nome Édipo ficou marcado por dois crimes considerados ultrajantes na sociedade grega: parricídio e incesto. A peça é puro fatalismo. Há outros personagens dignos de nota na peça: Creonte, que deseja usurpar o poder após descobrir os infortúnios do sobrinho [ele é irmão de Jocasta], Tirésias, o Oráculo que desafia o rei, ao contar sobre seus crimes perante os tebanos, sem medo de ser punido por isso, pois os Oráculos eram considerados sábios e nem o rei poderia lhes fazer algum mal, bem como alguns personagens secundários, mas de vital importância para a compreensão da história.

 

Mesmo tendo cometido os crimes de forma inconsciente, Édipo culpa aos deuses pelos seus infortúnios, e castiga a si mesmo, abandona o palácio e a vida real, bem como suas filhas pequenas, andando errante pelo mundo...

 

Para quem nunca leu uma peça grega, eis uma boa opção para começar... O teatro grego de tragédia é composto de textos curtos, linguagem poética e filosófica, e deixa pontos importantes à reflexão... São excelentes metáforas para inúmeras situações do ser humano até os dias de hoje, e escritos de forma bela, trágica e cruel...

 

Sobre a resenhista:

Maria Valéria é formada em História, professora de cabelo colorido, piercings e tatuagens. Também dá aulas de Arte, Cidadania e Geografia. Sonha em fazer um mochilão pelo mundo, pegando carona, com uma câmera nas mãos, fotografando paisagens e pessoas que passariam por outras pessoas sem ninguém notar. Como diria Ana Cristina César, pois sem saber, ela escreveu isso sobre mim:

"Sou amativa antes de tudo

embora o mundo me condene..."


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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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