MÚSICA
Não toco
Arranho uns poucos acordes
Desafinados
Esqueço as cifras
Perco o rumo, o ritmo, o chão
Da capo
Dedilhados sem muito jeito vibram as
cordas de aço
Tudo bem, não sou mesmo um virtuose no que
faço
Escolho a canção, aprendo a introdução
E me sinto músico de renome me
apresentando num paço
Tampouco canto
Vou jogando as palavras
Descompassadas
Esqueço a letra
Perco o rumo, o ritmo, o chão
Da capo
De algum canto da memória me virá o verso
esquecido
E se não vem, não me sinto vencido
Só de estar com o violão, afugento a
solidão
E acalento meu coração combalido
SUICÍDIO
Tentarei escrever uma poesia
Mas não vou postá-la na rede social
Terá ela de fato existido?
A minha inteligência e simpatia
Só parecem ter valor no âmbito virtual
Em posts eloquentes ou divertidos
A boa ação que faço discretamente é
fugidia
E o ombro amigo que cedo só é real
Se estiver aos olhos de todos, exibido
O amor que devoto ou que já devotei um dia
Só vale alguma coisa, afinal
Se for feito para ser compartilhado e
curtido
Reunirei meus últimos vestígios de
valentia
Clicarei em “deletar conta”, para espanto
geral
E então terei realmente morrido
UNIVERSO PARALELO
Às vezes dou asas à imaginação
Invento mundos, crio diálogos e cenas
Vivo imerso num mundo doce de ilusão
Que existe no meu pensamento, apenas
Talvez exista outro tempo, outro lugar
Onde os eventos tenham seguido diferente
direção
Eu posso ter tido coragem para amar
No desconhecido de uma oculta dimensão
Lá não há por que se arrepender ou chorar
A cada novo amanhecer eu posso constatar
Que na minha alma não há nenhuma cicatriz
Só abundância de coisas boas a realizar
E sigo pleno de alegrias no meu caminhar
Protagonizando histórias de um amor feliz
Sobre o autor:
Ronaldo
Dória Júnior é carioca, nascido em 1985. Autor do
livro de contos As mãos da professora de
literatura portuguesa, obra vencedora do Prêmio Uirapuru 2021 e publicada
em 2022 pela editora Folheando.
Instagram: @ronaldo_doria_jr
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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.
Instagram: @poesianaalmabr