terça-feira, 4 de julho de 2023

Quando Clara acordou, teve a sensação de já ter vivido essa história | Carolina Brito

 

CLARA E VICTOR

 

Como se o vento desse uma boa espreguiçada no meio da tarde e balançasse lento pelas folhas das árvores, naquele caminho de terra.

– Se eu soubesse como te dizer essas coisas, se eu as pudesse explicar, você até poderia me entender. Quem sabe não ficaria olhando para as pedras, a procurar um sentido.

– Por que com a gente é assim, Clara? Tu me falas com essa magia, desse nosso encontro, dessa conexão que temos. No primeiro momento, sinto e tudo é cristalino. Depois, quando me afasto em minhas dúvidas, perco noites, fico assombrado. E me despeço a cada instante.

– Tens receio de construirmos algo juntos, Victor? Queres isso?

 Eu quero muito estar contigo e te ver, te ouvir. A tua presença, o teu sorriso me são familiares, confortam-me como essa terra macia. O teu abraço faz eu criar raízes e me nutre de novas seivas. Contigo vou para o inesperado.  E isso eu não disse a ela.

Clara diz, com serenidade, “Calma Victor, aquieta teu coração. Vem cá, coloca tua mão no meu peito e respiremos um pouco. Estamos cansados meu bem. Estamos muito cansados ”.

Victor se aproximou de Clara e respiraram fundo aquele ar limpo da mata. Ouviam de perto as águas da pequena cachoeira que hora iriam visitar.

– Lembra que tive um sonho contigo, Victor? E, quando resolvi te contar, tu ficaste tão entusiasmado, que desatasse a falar de sonhos, que gostavas de escrever os sonhos que tinhas, num caderno reservado para essa finalidade, e chegaste a me mostrar uma colagem que fizeste nele de um moinho de vento?

– Quanta memória um sonho traz Clara, lembro que falávamos sem parar, que gostava de ouvir tua voz, o som de tua voz e ainda gosto.

– Eu também gosto de ouvir tua voz querido, bem o sabes.

Victor a beija com carinho e dá um sorriso largo, enquanto Clara volta no tempo, lembrando do sonho que tivera: Ela saía de um trem, do alto de uma passarela, avistava-o; ele que estava sentado, no parque ao lado, lendo um livro na grama, com ar sereno. Ela conseguia ver cores que dele emanavam, eram suaves. E pensou em se aproximar para cumprimentá-lo.

A recepção foi terna e a conversa fluiu no parque. O sentimento parecia de almas que já eram afeitas pelo tempo. Saíram de mãos dadas a pegar um outro trem. Quando Clara acordou, teve a sensação de já ter vivido essa história. Um sonho que mais parecia uma lembrança, misturada com a realidade.

– Será que te conheço de outras vidas, Victor Tomas? 

– Será, Clara Anne?

(Risos)

 

Sobre a autora:

Carolina Brito e Silva nasceu em Recife-PE. Ama as artes em todas as suas formas de expressão. Poetisa. Servidora Pública e Coralista do TJPE.  Participou de Antologias Poéticas, pelas Editoras: Vivara e Invicta. Contribuiu com poemas para o site: Poesia na alma, para as Revistas Artes do Multiverso e A Linha do Trópico.

Instagram: @poesianatural22


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