Quando Clara acordou, teve a sensação de já ter vivido essa história | Carolina Brito
CLARA E VICTOR
Como se o vento desse uma boa espreguiçada
no meio da tarde e balançasse lento pelas folhas das árvores, naquele caminho
de terra.
– Se eu soubesse como te dizer essas
coisas, se eu as pudesse explicar, você até poderia me entender. Quem sabe não
ficaria olhando para as pedras, a procurar um sentido.
– Por que com a gente é assim, Clara? Tu
me falas com essa magia, desse nosso encontro, dessa conexão que temos. No
primeiro momento, sinto e tudo é cristalino. Depois, quando me afasto em minhas
dúvidas, perco noites, fico assombrado. E me despeço a cada instante.
– Tens receio de construirmos algo juntos,
Victor? Queres isso?
Eu
quero muito estar contigo e te ver, te ouvir. A tua presença, o teu sorriso me
são familiares, confortam-me como essa terra macia. O teu abraço faz eu criar
raízes e me nutre de novas seivas. Contigo vou para o inesperado. E isso eu não disse a ela.
Clara diz, com serenidade, “Calma Victor,
aquieta teu coração. Vem cá, coloca tua mão no meu peito e respiremos um pouco.
Estamos cansados meu bem. Estamos muito cansados ”.
Victor se aproximou de Clara e respiraram
fundo aquele ar limpo da mata. Ouviam de perto as águas da pequena cachoeira
que hora iriam visitar.
– Lembra que tive um sonho contigo,
Victor? E, quando resolvi te contar, tu ficaste tão entusiasmado, que desatasse
a falar de sonhos, que gostavas de escrever os sonhos que tinhas, num caderno
reservado para essa finalidade, e chegaste a me mostrar uma colagem que fizeste
nele de um moinho de vento?
– Quanta memória um sonho traz Clara,
lembro que falávamos sem parar, que gostava de ouvir tua voz, o som de tua voz
e ainda gosto.
– Eu também gosto de ouvir tua voz
querido, bem o sabes.
Victor a beija com carinho e dá um sorriso
largo, enquanto Clara volta no tempo, lembrando do sonho que tivera: Ela saía
de um trem, do alto de uma passarela, avistava-o; ele que estava sentado, no
parque ao lado, lendo um livro na grama, com ar sereno. Ela conseguia ver cores
que dele emanavam, eram suaves. E pensou em se aproximar para cumprimentá-lo.
A recepção foi terna e a conversa fluiu no
parque. O sentimento parecia de almas que já eram afeitas pelo tempo. Saíram de
mãos dadas a pegar um outro trem. Quando Clara acordou, teve a sensação de já
ter vivido essa história. Um sonho que mais parecia uma lembrança, misturada
com a realidade.
– Será que te conheço de outras vidas,
Victor Tomas?
– Será, Clara Anne?
(Risos)
Sobre a autora:
Carolina
Brito e Silva nasceu em Recife-PE. Ama as artes em
todas as suas formas de expressão. Poetisa. Servidora Pública e Coralista do
TJPE. Participou de Antologias Poéticas,
pelas Editoras: Vivara e Invicta. Contribuiu com poemas para o site: Poesia
na alma, para as Revistas Artes do Multiverso e A Linha do
Trópico.
Instagram:
@poesianatural22
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