sexta-feira, 21 de julho de 2023

O jeito é te seguir nesta risada | Paulo Lucas

 


TRÊS SONETOS

 

(I)

Penso bastante em todos os segundos

Em que senti contigo os bons ardores;

É como se avistasse um prado em flores

Num bosque dos mais belos e fecundos.

 

Tento sentir nos lábios teus sabores...

Reavivar prazeres moribundos...

Me vagam na lembrança, vagabundos,

Pequenos flashes dos nossos amores...

 

Voltar ao meu passado... Já pensei-o.

Sentir na mornidão destes meus lábios

A maciez fervente do teu seio...

 

Mas vivo num presente tão sem glória:

Tecendo versos bobos, pouco sábios,

E tendo um só prazer – tua memória!

 

 

(II)

 

Já não sei mais viver sem teu suspiro;

Já não enxergo mais sem teu olhar;

Sem teu abraço – angelical retiro –

O que sobrou no mundo pra abraçar?

 

Vivo eu aprisionado a relembrar

O falecido amor, do qual deliro,

Formando com meu choro quase um mar

Como a mulher de Heitor refém no Epiro!

 

Sinto, meu bem, tenções wertherianas

De pôr um fim no meu abatimento,

Deixando muitas cartas doidivanas...

 

Mas até nisso falta-me a coragem!

Sou incapaz de heroico movimento

Não vendo nem sentindo a tua imagem...

 

 

(III)

 

Tendo eu forte pendor para a tristeza

E tu uma alegre calma que agracia,

Eu rezo, pois, a Deus e à Natureza

Que, como a lua à noite e o sol ao dia,

 

Tu chegues ao meu céu de aura sombria

E dê-lhe, com teu beijo, uma clareza.

E nada mais a Deus eu pediria

Senão de ser amado ter certeza...

 

Mas como tu é tão leve quão veludo

Tu ris desta paixão – e ris de tudo

Que eu falo, como se tivesse graça!

 

O jeito é te seguir nesta risada

Dizendo: o que é o amor? O amor é nada!

E rir como um palhaço na desgraça...

 

Sobre o autor:

Paulo Lucas Santos Fares é um estudante de Letras pela Universidade Federal de Pernambuco, nascido em 25 de fevereiro de 1999 na cidade do Recife. Atualmente participa de antologias e concursos de poesia, além de divulgar seus textos em plataformas como Medium e Trema.

Instagram: @paulolucasfares


Um comentário:

  1. Parabéns Paulo! A tristeza que transpassa, também alimenta uma esperança e se faz seiva nova em poesia.

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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