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Dez poemas de encantos com Cecília Rogers

 


Bênção

 

Benzedeira chegou

ramo de arruda na mão

água, sal grosso

benção de luz

na casa escura

são murmúrios sombrios

no escutar da criança

respingos de sal

cristalizam

lágrimas no ar.

A folha úmida

desce pelo corpo

ardendo a ferida

na ranhura da alma

- Deus nos proteja, mãe

é preciso afastar o mal

mas

onde ele está, mãe?

 

Ruínas

 

No dentro da casa

a luz do dia desfia

o escuro da memória

Me agarro

às paredes rachadas

flutuo sobre ruínas

 

Murmúrios

 

A chuva grita

do lado de fora

relâmpagos se desenham

nos espelhos

Clarões

na penumbra da casa

No coração da menina, susto

do lado de dentro

Medos juntados

nos murmúrios das rezas da mãe

no imaginado da cabeça

e do coração

não deseja o mal-querer não

Clama proteção divina

na miudeza das rezas

cobre os espelhos

esconde reflexos

escurece a visão

medo do fogo

do que sente

nos murmúrios ardentes

das rezas da mãe

 

la loba

 

adormeço asas

deixo-me queimar

da terra, recebo forças

- minha mulher, selvagem.

 

sublimação

 

uma mulher lê

onde já não está

quente e volátil – vapor

no espelho da palavra.

 

seus olhos

 

fotografei o amor

na luz refratária

do entardecer

 

(o sol em seus olhos)

 

linha de corte

 

céu e mar

na linha de corte

o horizonte volátil

 

o espelho líquido

captura

a iluminura do peixe. 

 

resistência

 

dispo-me das folhas

e permaneço

– serei sabor

e renovação.

 

Eu

 

Me invento

verso-paisagem

dele me alimento

No céu de minha agonia

sou

pássaro ao vento

em voos de melancolia

No mar de sal

mergulho sereia

transbordo-me inteira

Abarco minha floresta

cultivo sementes

gesto cores no ventre

Sou natureza

êxtase

correnteza.

 

sua reza-poesia

 

Ela adentrou a casa da mãe. Escutou os ecos de sua reza chamando. Passou pelo escuro da sucupira na sala. A mesa posta para receber o pão. Seguiu os sussurros. No quarto escuro da memória, sentiu o desfiar da dor nas contas do rosário. No oratório, os santos todos olhavam para o vazio do tempo. Ela pegou o terço da mãe e deslizando as contas entre os dedos, começou a sua reza-poesia. Mistério de luz no caminho ancestral.

 

 

Sobre a autora:

Cecília Rogers nasceu e reside em Niterói-RJ. É mãe, avó e escritora. Engenheira por formação, é também Mestre em Literatura Portuguesa e Africana (UFF). Acredita na força do coletivo das mulheres e das palavras como via de denúncia e transformação. Livros publicados: Ardia a poesia em Maria (Pachamama,2018), Poesia de Vó (Outramargem,2020), Contas do rosário (Penalux,2021), Submersa (versões ebook/Amazon, artesanal, 2022). Além dos contos em e-book, Sem ar (2022) e Invasão (2023,) no gênero insólito, como parte do projeto das Autoras Assombradas, coletivo de que faz parte. Também participa do Coletivo de mulheres escreviventes. Publicou em antologias e revistas digitais. Teve um poema premiado no concurso Carvalho Jr. do Maranhão e outro finalista no Prêmio Off Flip em 2022. Seu primeiro romance nasce pela Mondru editora em 2023.

Instagram @ceciliarogers.poet


8 comentários:

  1. Nossa, que poesias lindas! Apesar de não ser chegada no estilo, eu confesso que amei os versos, que trazem uma mensagem profunda e marcante demais.
    Bjks!
    Mundinho da Hanna | http://mundinhodahanna.blogspot. com

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  2. O que mais achei interessante, é como todas as poesias estão intimamente ligadas à natureza. Isso passa uma sensação muito boa. Gostei demais.

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  3. Olá, tudo bem?
    Achei os poemas lindos! Não conhecia a autora ainda, mas deu para ver que ela escreve de forma muito sensível e envolvente. Gostei principalmente do poema "Eu".
    Beijos

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  4. Apaixonada demais nesse seleção que você fez! muito muito bonita! Fiquei ainda mais encantada com a poesia "eu", muito profunda e bonita.
    Adorei conhecer mais da autora também.

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  5. Oie, tudo bem? Gosto muito de poemas que "conversam" com a gente. Muitas vezes sinto que o autor sabe coisas sobre nossa vida e traduz isso em seus poemas. Esse murmúrios é meu favorito. Nada como ficar em silêncio ouvindo o som da chuva caindo lá fora. Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Quantos poemas lindos, o que eu mais gostei foram " Eu " e " Seus Olhos". Ambas trazem muita profundidade. Que bom foi conhecer mais um pouco da autora e seus poemas.

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  7. Gostei de ver poesia por aqui. Ha tempos não vejo tantas poesias reunidas. Poesias mais alto astral com dramaticas também, esta versatilidade que a autora traz é dinamica e faz ter um interesse maior na leitura.

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  8. Suas postagens são ótimas, estou seguindo seu blog e curtindo bastante!! Parabéns!

    tubidy.net.br é bom para assistir vídeos em 4k?

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

Instagram: @poesianaalmabr