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Luas antigas engordam | Elisa Ribeiro

 


A NOITE

 

A névoa embaça as fachadas das casas
cachorros ocupam as ruas
estão vazios os bares
embora não passe das oito

Paredes pichadas
Michael Jackson tocando ao fundo
pequenos ajustes seriam necessários
— que os olhos dela se fixassem —
a história que ela conta importa menos
que o movimento de sua língua-boca

A comida não é grande coisa
respiram após o cansaço
o amor tempera
e luas antigas engordam
o brilho dourado
da noite.

 

A PRAIA

 

Insiste o barulho do mar
esquecemos abertas as ventanas
a música, não lembro
transpiramos
o sol às minhas costas te cega
teus claros tingidos em ouro
longos, teus cílios repousam
pelos lábios entreabertos
brilham as quinas dos dentes
salivo por todas as bocas
você avança, eu recuo
meu cume há três milissegundos
suspensa a respiração
mergulhamos
(lentos)
no ar rarefeito

TRÊS LUAS

 

Na primeira
tiro você pra dançar
escolho a valsa, ralento o ritmo
você me ensina novos passos
desato meu lastro
confio.

Na segunda
você escolhe o cardápio
agridoce, sou várias
a conversa não termina
decido
manter vagos meus vazios.

Na terceira 
o tempo se dobra
às minhas costas
prefiro o futuro sem bordas
são seus todos os riscos.

 

Sobre a autora:

Elisa Ribeiro nasceu no Rio de Janeiro e vive em Lisboa. Poeta e escritora, é autora dos livros de poesia A perfeição dos avessos (Folheando, 2022) e Aragem (Urutau, 2021) e da coletânea de contos A segunda natureza (Verlidelas, 2020). É coautora do livro O condomínio do divã (Verlidelas, 2021).

Instagram: @elisas.ribeiro 


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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

Instagram: @poesianaalmabr