Cheguei ao extremo de mim | Maria de Melo
SEI QUE PODES
Cheguei ao extremo de mim,
Sinto a dor de um rompimento que me cercava!
O
muro do silêncio fora quebrado
Sangrando
caminhei
Olha o Rio – estou atravessando
É tempo de travessia?
Sim!
Mulher!
Se eu cá, não faço a travessia agora,
Ficarei para sempre na margem superficial do Rio
À margem de mim mesma
Sim!
O que fiz até agora!
Não!
Isso eu não quero
Tô no princípio de uma longa jornada
Ah!
Tenho que seguir
Quero romper os medos
As dificuldades pelo caminho
Para
remarcar o renascimento
Quando me olhei e vi
A imensidão que havia
Ali, havia coragem
Pelo renascimento
Pela liberdade
Pra lutar
Voar no meu
florescimento.
A MENINA FLOR
O desejo feminino é sigilo
Para a menina flor
A descoberta da própria sexualidade
No fogo e no gozo de suas sensações
Uma plenitude toma conta
No desejo sádico da menina flor
O afogo milenar sobre suas descobertas
É cruel; misógino, destrutivo
Como isso pode?!
O desejo na menina flor
No passado, foi vedado; no futuro, será
proibido
E no seu existir, é socialmente inexistente!
O desejo na menina flor
Está marcado na boca do esmero
O gozo saindo pela boca é sua natureza
Denota a sua mulher-menina
Menina-mulher tira o pano sob a credulidade
O teu prazer feminino é teu!
Que no presente, deveria ser estímulo
Ah! Minha mulher-menina,
Oh! Minha menina-mulher!
Que floresceu no seu prazer, no apogeu lunar
Oh, não! Isso é sua natureza lunar
Como pode o toque na menina flor
Sua plenitude ser ausente, pecado e vulgar?!
Agora, como pode o toque violento
Ser aceito sem concessão de teu querer?!
Assim, a menina flor chora
Uma lágrima fria! Que desprazer e agonia!
Sagrando! Foi mais uma vez anunciada
Oh! Roubaram nossa liberdade!
Oh, senhor! Você, ladrão fálico
Pertence à sociedade secreta
Presente pra manter a sociedade secreta,
O sexo precisa ser sigilo e vazio
Como muro obsoleto de seu gozo
Que desprazer de seu ilícito prazer
Aquele crime do senhor, sim, senhor!
De seu íntimo perverso e amargado
Amargado! Sim, Senhor!
Que esmagou, sagrou e quebrou
As pétalas da nossa menina flor
Ô! Sem nada, vazia e perdida
A nossa menina flor
Fica vulnerável como presa
Esperando ser invadida pelo senhor!
Ah, não! Não mesmo! Ela resiste como menina
flor.
Sobre a autora:
Maria
de Melo é natural de São
Caetano, município do Agreste de Pernambuco, mora em Jaboatão dos Guararapes
(PE). Escritora, geógrafa e poetisa de eterna alma regionalista com pretensões
de ser universal. Autora dos livros A Renda Fundiária na
transposição do Rio São Francisco (Índica/2021) e A Jitirana Poética (Toma Aí um Poema/
2023). Escreve poema, crônica e romance.
Instagram: @mariademelo.escritora/
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