Eu sendo pedra mole sendo aniquilada | Maitê Lamesa
GUELRAS
o martelo forja a bigorna
o som da pedra
sendo esculpida
sobre a pedra
sendo lapidada
eu sendo pedra mole sendo
aniquilada
o som vem do ar
do ar carregado de som
na água, o som do grito é
lento
o socorro não vem
dizem os evolucionistas:
o ouvido
evoluído das guelras dos
peixes ancestrais
mas fossem minhas guelras
antes garras
e não só artefato
para respirar
água
fossem elas garras
para agarrar
esses fósseis
ancestrais
DAY TRADERS
os zilhões de números
do mercado financeiro
setas para cima
setas para baixo
um gráfico sempre a mostrar
um pulsar no peito.
as mãe operam nas bolsas
day and night traders
poucas
variáveis
muitas externalidades
sempre os derivativos
a bolsa não fecha para balanço
mas há sempre expressiva
alta no serviço do lar
e sempre
uma queda brusca na real(idade).
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Mãe solo:
uma única consoante
para te servir de consolo
Sobre a autora:
Maitê Lamesa
é mãe, natural de Jaú/SP, advogada formada em direito pela UEL (Universidade
Estadual de Londrina) e mestranda em relações internacionais pelo Programa San
Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC-SP). Mora atualmente entre São Paulo e a zona
rural de São Joaquim da Barra/SP. Escreve desde 2008, mas apenas em 2022
resolveu começar a publicá-los, para acalmar águas internas, para voltar a
respirar.
Instagram:
@microcentimavos
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