E jamais houve arma mais poderosa do que a palavra | Luiz Carvalho
A PALAVRA
(para Umberto Eco,
in memoriam)
No princípio era o verbo. Depois vieram os
substantivos, os adjetivos, os pronomes. E o homem começou a produzir discursos
e a conquistar seu mundo por intermédio da palavra. Nominar para conhecer,
conhecer para conquistar. E jamais houve arma mais poderosa do que a palavra.
E o homem usou a palavra para continuar
suas descobertas. Para perpetuar suas experiências. Para acumular seu
conhecimento.
E o homem usou a palavra para cativar
amigos, para seduzir amantes, para celebrar comunhões.
E o homem usou a palavra para conquistar
fiéis, para dominar territórios, para exercer o poder.
E o homem criou novas palavras para velhas
coisas. Traduziu-as para novos idiomas, diversificou-as na torre que buscava a
própria palavra em sua origem.
A palavra, no entanto, sempre se impôs a
qualquer homem. Sempre perdurou para além de qualquer discurso. E onde já não
há rosas, ainda seu nome perpetuado para além de sua efemeridade. E onde já não
há existência, palavras renitentes continuam existindo.
Mesmo hoje, a palavra, transformada em
pulso eletrônico, em onda magnética, em pixel luminoso, concretiza-se na
matéria etérea de significados da qual é feita.
Dominá-la e entregar-se ao domínio que nos
impõe. Eis o sentido último do encanto, do jogo e de nossa devoção e vício: a
palavra, e seus ecos, vivida como profissão.
(Crônica de abertura da obra Crônicas do Ofício - Editora Cajuína 2022)
Sobre o autor:
Luiz
Eduardo de Carvalho foi professor, publicitário e assessor de
imprensa, jornalista e gestor cultural. Dedica-se exclusivamente à literatura
desde 2015, recebeu mais de 70 prêmios literários e publicou: O Teatro
Delirante, Retalhos de Sampa, Sessenta e Seis Elos, Frasebook, Xadrez,
Quadrilha, Evoé, 22!, O Pirata Grilheta e os Dragões do Mar, Um Conto de Réis
(e de Rainhas), Crônicas do Ofício, Curtas-metragens, Cabra Cega, Q Absurdo! e
Multiversos.
Instagram: @decarvalholuizeduardo
uma honra estar com este texto numa publicação tão caprichada e zelosa! muito obrigado
ResponderExcluirConvido os leitores do Poesia na Alma a conhecer o livro Crônicas do Ofício, da editora Cajuína.
ResponderExcluirSimples, objetivo e, ao mesmo tempo, profundo. Uma reflexão que nem sempre fazemos, apenas discursamos, discutimos, marcamos papéis e telas com os signos e não nos damos tempo para um pouco de meditação do quão a escrita (e a linguagem) fazem diferença em nossas vidas e de como seu uso pode ser prejudicial em mentes doentias.
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