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Tecelã, minha boa tecelã | Lilian Torres

 


MOÇA TECELÃ

 

Tecelã, minha boa tecelã

De que material costura

Suas toalhas?

Passa a linha e cruza os pontos

Sobe o dedo e vira a agulha.

 

Segura o instante

que existe entre os elos

Por onde vagueia a linha

E quais nomes dos pontos que usa

No instante maior?

 

Qual a cor e o material

Adorável tecelã

Que tua desenvolta mão

Gira e cose a tapeçaria?

A cor e sólida ou desliza sob a luz?

O material e firme ou quebradiço?

 

Minha gentil tecelã

Passaram-se horas

Tuas peças não estão prontas?

A vida que tu lhe transpõe já não basta?

Essa tua visão gasta

Esses pontos sem brilho do teu olhar.

 

A máquina, tecelã

Vem e te arrebata os ofícios da profissão

Tecelã, qualquer maltrapilho cose suas vestes

Tecelã minha boa tecelã.

 

A maquina suga tão pouco da alma

Mas desfigura a beleza dos teus pontos

Está quase acabando

A vida e a peça que está a coser.

 

RITO PATRIARCAL

 

Na constante busca

Me perdi por inteira,

Pedaço por pedaço

Como uma trilha

Um retumbar ao longe

Pra lá do sol se pondo

E eu aqui sem pernas

Sem braços

Escutando atentamente o ritual realizado

Estará no meio o pagão a quem me roubou os membros?

Já sucumbiu?

Louvam a lua como necessitam de água

A vida só lhes ocorre à noite

Na penumbra, e eu os ouço

O silêncio.

Os batuques dos tambores.

Ao menos sei onde estão,

Impossibilitada de fugir

Esculto atentamente os sons abafados que propagam,

Parecem cada vez mais perto,

Cada vez mais perto,

Vez mais perto

Mais perto,

Perto...

(Já não se ouvia nada e nem se via)

 

Sobre a autora:

Lilian Dayane de Carvalho Torres é uma jovem de 22 anos, formada em Letras - português e Inglês pela UFRPE/UAST. É a atual presidente do grêmio literário Joaquim Inojosa que compõe a Academia Princesence de Letras e Artes - APLA.

 

(Texto selecionado para o projeto Leitura Feminista, iniciado em 2019, em parceria com o blog Barda Literária que este ano, no mês de março, apoiará poetisas)



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