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Sangro religiosamente como um acorde de compasso que se repete | Tati Reis

 


SANGUE SAGRADO

 

Eu sangro,

Sangro religiosamente, como um acorde de compasso que se repete,

Sangro o sangue de quem sangra, mas não morre,

E sangrar dói,

Dói a cabeça que pensa,

Dói o coração que sente,

Dói a alma que orienta a existência,

Sangro o fio vermelho da concretude

de vidas que não virão,

Sangro o sagrado,

Com a certeza de que estancado o sangramento,

outro virá em tempo de fazer doer tudo novo.

 

ESPÉCIE MULHER

 

A mim essa espécie Mulher,

Foi designado o triste fardo de existir,

Existir sem questionar,

Existir pra obedecer,

Dizem que meu corpo não me pertence,

Querem me calar,

Me usar,

Me estraçalhar,

Mas em mim não há resignação,

Mesmo quando calo, calo porque quero,

O silêncio que me impõe,

Eu quebro um a um de punho cerrado,

Pelas ruas,

Pelo tempo,

Pela história,

A mim nunca calaram.

 

Sobre a autora:

Tati Reis, 38 anos, Paulista da Cidade de Campinas, é Assistente Social, estudante de psicanálise e música (teclado e percussão). Amante da palavra, falada, cantada, recitada e principalmente escrita e cravada no papel. Escreve desde sempre para não se afogar nos seus sentimentos, ensaia ser artista desde 11 mas só aos 35 pode se dar a esse luxo, vive mais nas plateias dos teatros e com livros na mão do que qualquer outra pessoa que conheça.

Instagram: @tatyreismatias

(Texto selecionado para o projeto Leitura Feminista, iniciado em 2019, em parceria com o blog Barda Literária que este ano, no mês de março, apoiará poetisas)


Um comentário:

O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

Instagram: @poesianaalmabr