Por que Subestimam o Povo? | por J.M. Gouvêa
Bom, vamos à polêmica. Zapeando pelos
vídeos curtos de alguma rede social, me deparei com um pseudo-intelectual.
Destes que cita livros que leu apenas o resumo (vide Fahrenheit 451). Ele
bradava que o hino nacional brasileiro era excessivamente parnasiano e que
assim o era de propósito, para que o povo não o entendesse. Ao meu ver existem
dois problemas nessa afirmativa, e eu gostaria de compartilhar minha visão com
vocês e espero do fundo de meu coração que vocês exponham suas opiniões nos
comentários.
Primeiramente, devemos considerar que a
letra do Hino Nacional Brasileiro foi escrita no início do século passado.
Obviamente a norma culta era diferente e os costumes e vocabulário da época
eram outros. Ao meu ver, é um retrato daquele momento e deve ser interpretado
como tal. Para uma pessoa de 2023 pode soar bem complexo realmente, mas se
ouvido há 100 anos, provavelmente era mais facilmente interpretado. Devemos
levar em consideração também que não é um texto didático, muito menos técnico.
É uma música. Uma poesia que precisa ter ritmo, métrica e dinâmica. Não que uma
prosa não precise, mas versos e estrofes se alimentam de coisas assim. E
obviamente precisa ser lírico. É necessária a beleza quando se constrói um
símbolo nacional. Ele irá representar nosso país, nossa cultura e nossa gente
pelo mundo inteiro. Você não gostaria de ser representado ou representada por
algo xoxo, gostaria?
Em segundo lugar, identifico uma
problemática muito grande em se aliar o erudito ao discriminatório. Aliás,
discriminatório para mim é presumir que alguém não irá entender algo só porque
é “do povo”. Naquele tempo já existiam dicionários e hoje em dia andamos com
enciclopédias completíssimas ao alcance de um ou dois cliques. Mesmo que o
verbete não seja usual, uma mente interessada – e estimulada a tal – pode
rapidamente se inteirar de seu significado. Ou o smartphone só nos permite
decorar dancinhas e ficar por dentro das fofocas dos artistas?
Eu mesmo já ouvi críticas aos meus poemas
por utilizar palavras “difíceis” e de complexa compreensão. É claro que em
2023, é temeroso elaborar um texto similar ao de nosso hino nacional, com o
risco de parecermos anacrônicos. Mas imagino que um texto se torna monótono,
repetitivo e previsível se escrito apenas com palavras do “dia a dia”.
Precisamos entender que quanto maior é o
vocabulário de uma pessoa, maior é seu poder de análise e de discernimento
cognitivo. Com o pretexto de defender os interesses do povo, muitos o rebaixam
e o subestimam. O povo não é burro, é apenas subestimado. E um povo que
acredita ser incapaz de entender as coisas, é mais facilmente usurpado e
vilipendiado.
Enfim, essa foi minha consideração sobre o
tema. Agradeço pela atenção e espero não ter sido prolixo, copioso, dilatado,
fraldoso, verborrágico, difuso, loquaz…
Pseudo-intelectual é daqueles que aparecem em assuntos que menos esperamos, já me deparei com alguns 'puxando' temas ridículos e que nem faz sentido mais hoje em dia. Gostei da reflexão e pessoas assim sempre surgem onde menos esperamos.
ResponderExcluirDebyh, obrigado pelo seu comentário! Temas sem sentido são o arroz com feijão dos pseudo-intelectuais hahaha
ExcluirOlá. A meu ver, de toda forma, o hino não foi escrito exatamente para o povo. Uma vez que sua compreensão mais profunda exige um certo nível de estudo de História. E a educação no país sempre foi precária para manter o povo alienado e não ciente de sua
ResponderExcluirprópria dominação disfarçada de independência. Ele representa uma visão romantizada e colonizadora da nação, mesmo com sua dita "independência". Mas o povo ficou totalmente independente do governo? E já foi muito utilizado em uma tentativa de propagar o falso patriotismo e ideia de unificação do povo em campanhas de governos ditadores. Por isso, se perdeu o significado. Ou pelo menos, pra muitos brasileiros discriminados já não significa nada. Vejo por esse ponto também. Enfim, interessante conferir o seu ponto de vista. Não acho as palavras complexas, apenas poéticas e com muitas expressões portuguesas, digamos assim. Mas estão abertas há interpretações. Essa é a minha interpretação por uma visão crítica e de historiadora
Debora, muito obrigado pelo seu ponto de vista!
ExcluirOi.
ResponderExcluirÉ bem comum nos depararmos com pensamentos assim, de que as coisas coisas já estão ultrapassadas e precisam de uma reformulação. Em certos caso é até necessário e compreensível, mas tem coisas que obviamente são retratatos de uma época e que precisam de preservação. Entendo que a língua é viva, acompanha a evolução do povo, mas isso não significa extinguir o que já foi registrado, no entanto também entendo a necessidade de ser chegar a mais públicos, já que infelizmente não somos um país, na prática, igualitária, infelizmente.
Pedro, obrigado pelo seu tempo! Gostei muito de como você pôs em palavras, resumidamente, o assunto de maneira tão bem descrita. Concordo bastante com você.
ExcluirMesmo com a utilização de palavras que não são tão comuns na atualidade, eu me encanto com a poesia do nosso hino. Gostaria que ele fosse mágico e transformador. Que ao entoa-lo nós nos transformássemos em um povo com mais amor pelos seus.
ResponderExcluirMas, chega de utopias. Eu gostei muito da sua colocação... Bem longe de verborragias. Todavia pontual. Muito obrigada pela reflexão do dia.
"Chega de Utopias" deveria estar escrito na nossa bandeira! Obrigado pelo seu comentário, Carol!
ExcluirOi, tudo bem? Achei interessante essa reflexão. Primeiro quanto ao rapaz que lê apenas resumos, como assim? Acredito que nem lendo somente uma sinopse ou resenha é possível ter ideia do impacto de um livro. Quanto as palavras "difíceis" ou jeito erudito de escrever eu gosto, principalmente nos clássicos da literatura como O cortiço, A moreninha, entre outros. Uma leitura mais densa tem mais chances de nos ensinar algo do que leituras mornas. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirNo livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, no futuro os livros eram super resumidos para que todos pudesse "conhece-los". Procure para ler, você vai adorar.
ExcluirMuito interessante essa ideia de que um texto rebuscado fale mais ao nosso intelecto. Talvez como uma comida bem temperada atiça mais o nosso paladar? Muito obrigado pelo seu tempo e volte sempre!
Oi, tudo bem? Achei interessante essa reflexão. Primeiro quanto ao rapaz que lê apenas resumos, como assim? Acredito que nem lendo somente uma sinopse ou resenha é possível ter ideia do impacto de um livro. Quanto as palavras "difíceis" ou jeito erudito de escrever eu gosto, principalmente nos clássicos da literatura como O cortiço, A moreninha, entre outros. Uma leitura mais densa tem mais chances de nos ensinar algo do que leituras mornas. Um abraço, Érika =^.^=
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