As conchambranças de Quaderna - Ariano Suassuna
Escrito em 1987, sendo um dos últimos trabalhos escritos por Ariano Suassuna, As conchambranças de Quaderna marca o retorno do escritor, depois
de mais de duas décadas sem produzir novas peças de Teatro.
O termo Conchambrança deriva de
conchamblança, que significa conchavo - algo combinado - e foi dessa maneira
peculiar que ele viu o termo ser utilizado no sertão paraibano. Ao fim da
leitura, percebe-se claramente que foi uma escolha que bem simboliza as três
histórias aqui reunidas. O personagem Dom Pedro Dinis Quaderna revolve suas
memórias, e nos presenteia com episódios que ocorreram por meio de conchavos a
fim de resolver situações pra lá de bizarras, contadas de maneira divertida,
com um humor característico da escrita de Ariano.
As peças podem ser lidas sem uma ordem
específica, e o elo de ligação entre elas é justamente Quaderna, que vivenciou
e nos revela suas aventuras. Aos que já conhecem a obra de Ariano, talvez deva
notar que Quaderna já apareceu em outro momento, como personagem-narrador do
romance A pedra do Reino. Quaderna se utiliza de sua esperteza [outra
característica de personagens do "Teatro Suassuna"] para sobreviver
em meio às adversidades sociais que o rodeiam.
Na primeira peça vemos um funcionário
público envolvido num esquema de corrupção. Quaderna parece ter a solução
perfeita para que todos se safem da Justiça e não descubram o rombo nos cofres
do governo. O segundo Ato consiste num casamento sendo desestruturado quando um
homem conhece a própria cunhada e resolve trocar de noiva no momento de fechar
o acordo nupcial. Quaderna - envolvido até os ossos - precisa evitar um
desastre e através de sua artimanha, almeja proporcionar um desfecho
satisfatório para todos - incluindo a si mesmo.
O terceiro ato é sobre traição, contrato
com o Diabo e um juiz aparvalhado tentando não levar a pior em meio aquelas
pessoas que só querem resolver as coisas com derramamento de sangue. Quaderna
mais uma vez, usa de manobras articuladas para acalmar os nervos dos
envolvidos.
Figuras como o Diabo, moças solteiras
querendo casar, sertanejos, políticos corruptos, ciganos, senhores de Terras,
entre outros personagens típicos da cultura nordestina simbolizam diversos
aspectos sociais inseridos nas tramas de maneira divertida e inteligente. Com
uma prosa irreverente e repleta de coloquialismos, Ariano nos entrega a vida
cotidiana do homem nordestino, bem como estereótipos que - usados com esmero -
caracterizam de maneira única a cultura popular.
As críticas sociais estão presentes em
textos que dialogam com o leitor e o transportam para os cenários de caatinga e
poeira do Sertão. Uma viagem literária que certamente você não vai querer
deixar de fazer algum dia...
(Resenha
produzida pela colunista Maria Valéria, criadora do blog Na Literatura Selvagem)
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