E de novo estamos nós na beira do abismo/ J.M. Gouveia
O ABISMO
E
de novo estamos nós na beira do abismo
Encarando
o futuro com fascínio e temor
Enquanto
a ansiedade sobrepõe nosso cinismo
Os
ecos do passado reverberam toda dor
Lá
de baixo se eleva odor acre e viciado
Nos
penetra as narinas e atinge o céu aberto
Fraquejando
nossas pernas e por fim pondo de lado
Cada
fio de esperança de que tudo dará certo
Mas
teimosos e obtusos enxuguemos nossos prantos
Sem
espada derrubar. Sem escudo esmorecer.
Se
a esperança racional nos abandona pelos cantos
Que
o instinto ancestral salvaguarde nosso ser
CONHAQUE DE
ALCATRÃO
Batido
boteco batuta birosca
Singelo
sem teto sentou-se no chão
Em
frente ao ermo enfim se enrosca
Cachaça
e cachimbo, cama sem colchão
O
álcool apaga alguma angústia
Sempre
sacia certa sensação
A
falta de fé e a força da fúria
diluem
em doses de desilusão
Agora
aguarde antes do ataque
A
faísca fugaz findará a aflição
Da
coragem cretina que alcança o conhaque
Do
amor mais amargo que aquele alcatrão.
MORTO-VIVO
Abro
o olho, mesmo morto sinto a terra
Corpo
gelado. É a vida que se encerra
Não
há a passado, presente ou porvir
Não
sou mais eu mas continuo a existir
O
verme rói. A mosca pousa. Chaga aberta.
Vida
novamente em meu corpo ela inserta.
Rebentos
que a nutrição terei de prover
Herdeiros
meus que toda carne ao de comer
Me
levanto, só que manco quase caio
É
difícil pois cada passo é um desmaio
Vago
pelas ruas sem destino ou missão
Tu
perguntas se em vida era diferente
Inútil
fui e o serei eternamente
Melhor
agora pois não causo frustração.
Sobre o autor:
J.M.
Gouveia nasceu no Rio de Janeiro e desde cedo interagiu com a
Arte de diversas formas. Entende que o simbolismo da expressão humana se dá
para maior entendimento do indivíduo e do divino.
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