Traçado Urbanístico / Silvia Ugidos
Tal
como qualquer cidade
também
nós escondemos
turvos
itinerários, edifícios arruinados,
escuras
vielas de rancor ou desejo,
arrabaldes
de medo ou parques para o amor,
cantos
em penumbra onde ocultar segredos,
praças
que nunca visitamos
e
aborrecidos museus onde expor lembranças
que
não interessam a ninguém.
A
nós
também
nos habitam cidadãos terríveis:
funcionários
do tédio,
mensageiros
de moto levando para muito longe
o
pequeno embrulho — primoroso e com laço —
dos
remorsos.
Viajantes
que passam por nós
com
as suas malas a caminho de outros corpos
e
sobretudo
transeuntes
alheios à nossa própria vontade,
incivis
e teimosos;
têm
nomes ridículos
tal
como os sentimentos amor, rancor ou medo
e
especulam — como vulgares comerciantes —
com
o preço
por
metro quadrado do nosso coração.
(Silvia
Ugidos, in Poesia Espanhola anos 90. Trad. J.M.Magalhães. Relógio D´Água, 2000)
Sobre a autora:
Silvia Ugidos nasceu em Oviedo em 1972. Publicou poemas em várias revistas e foi incluída em várias antologias, incluindo Selección nacional e La Generación del 99.
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