Uma batalha ao amanhecer / Gabriella Araújo
ESCARAMUÇA
Uma batalha ao amanhecer, e já me encontro
sangrando por fogo amigo;
Sou exercito de uma mulher só, tribo sem
aliados
Tentaram colonizar minha selvageria, mas
ela só brotou barricadas maiores,
Sou a bala que atinge e a arma que
dispara.
Sou o ditador que arquiteta e a bandeira
branca hasteada.
Sou o alvo do morteiro e o tanque que
intimida
Sou a enfermeira que estanca o sangramento
e o bisturi que corta a fáscia.
Na escaramuça encenada por conhecidos sou
qualquer coisa menos a heroína.
Luto uma batalha para alcançar minha
morada
Território neutro, protegido e não
maculado à beira mar,
Cuja trilha sonora é a valsa de ondas
quebradas;
A morada que não me pertence e só existe
em uma lembrança inventada,
Por ela continuo enfraquecendo fronteiras
Por ela sou escudada quando batalhas
perdidas ricocheteiam meu alento
Por que me tomas como estrangeira minha
própria casta?
Sinto frio enquanto incendeio.
Meus crimes de guerra contra eu mesma;
Não importa a guerra aqui fora
Outrora possuo uma linda morada na aurora.
ESPELHO
O que fazer para te agradar sem que tenha
me apoucar
Seu silencio abundante em opiniões,
reverberam no que é intimo
Cavo lacunas e me fragmento para caber em
seu julgamento
Em suas muitas formas nunca se ausenta de
lugar algum.
Não é pintor, mas revela belezas, não é
escritor, mas altera perspectivas
O que te mostro, reflito, o que escondo é
conflito.
Impossível seria algo de uma face só,
mostrar além do irrefletido
Permita que eu decida, o que fazer com que
me é afigurado?
Faço consagrado meu corpo, de bom grado, minha
corpulência;
A essência de minha existência merece
reverencia por tanta resiliência.
Se possível extirpar de meu arcabouço toda
qualidade de amar,
Me acuso de não fazer bom uso dela
A mando para onde o vento faz chuva
Assim também serei solo encharcado que
apanhou consolo.
Se aproxime o suficiente para não se
importar
Ou se distancie o suficiente para não
acreditar.
Numa estrada de vai e vem, numa tentativa
de fazer o bem;
Direções nunca se encontram a céu aberto,
O longe e perto fazem parte do incerto.
Perto do mar aberto, liberto e
recém-descoberto,
Aonde a vontade de acertar foi encoberta
Cabe uma caminhada de mente aberta.
Sobre a autora:
Gabriella
Araújo, natural de Aracaju-SE, reside no Maranhão desde os 6
anos, graduanda de Enfermagem na Universidade Federal do Maranhão, não se
imagina vivendo sem a escrita e livros, eles são companheiros fieis em meio a
solidão. Divide morada com as folhas quando se sente sem lar. Escreve para
sobreviver e para confortar o máximo possível aqueles que se encontram em
páginas.
Instagram: @literatabrie / @gabigaraujo
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