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Estou morta vocês não veem? / Duda Rodrigues

 



VOCÊS NÃO SABEM

  

Sinto os olhares de preconceito quando passo

Eu sei que meu corpo, meu cabelo, minhas roupas, o meu falar e o meu agir incomoda vocês.

A minha alma está em pedaços. Pedaços não!

Está perfurada de bala, está rasgada de faca, está cheia de hematomas graças ao teu cassetete; graças às tuas mãos sujas que me deram vários socos e pés imundos, que me

acertaram com chutes e pontapés.

Estou morta vocês não veem?

Meu olho tá roxo! Meu corpo tá na vala ou será que está enterrado debaixo da cama?

Sou eu que numa fila de hospital posso

ficar por último, pois aguento dor por mais tempo. Estão nos matando e vocês só se importam com meus seminudes/nudes, roupa, batom vermelho e como fico quando estou bêbada.

Vocês cantam e rebolam com nossas músicas, ganham curtidas nas redes com as roupas, penteados, poesias, fotos, vídeos, trechos de livros que nós produzimos;

Ganham títulos pelo nosso talento nos esportes, usam nossos discursos, nos elogiam quando convém e nos matam com 80 tiros.

Nos humilham e nos matam no supermercado.

Fingem não escutar quando dizemos “não consigo respirar”.

Quando gritamos "não consigo respirar"

Fingem não escutar nossa respiração parar

Mais iai? Vocês sabem o que sinto?!

Não, vocês não sabem o que eu sinto!

 

  

CORTES

 

Para que ele me quisesse peguei uma faca na cozinha e cortei um pouco da minha barriga

Cortei também um pouco da minha vagina.

Cortei um pouco daquela gordura que fica debaixo do braço e queixo

Pesquisei clareadores de axila e virilha.

Fiz depilação e parei de reclamar.

Queria que com essas mudanças você ou alguém me notasse quem sabe assim não teriam vergonha de me assumir

Depois de todos os cortes, clareamentos e de todas as outras mudanças eu já não me reconhecia mais.

Já não era tão pulsante. Tão viva.

Pois tudo o que me restou foi o espelho, a faca, o sangue e o meu corpo mergulhado no desejo de ser aceita.

 

Sobre a autora:

 

Duda Rodrigues, 24 anos, Cearense e residente de Pacatuba. Escreve desde 2014 e se denomina "uma escritora desconhecida, conhecida por umas escritas aí.". Poetisa, produtora cultural e social média. Lançou um ebook de poesias autorais (2020). Produziu saraus da juventude fogo no pavio (2017 - 2019). Foi pesquisadora do podcast Literapretacast (2022). Responsável pela trend e arte "E FORA DO STORY TU TA BEM?" (2021) Social média no coletivo bota o teu (2021 -2022) Contribuiu com a poesia "Desencontros" para a Coletânea de Poetas Brasileiros - Editora Persona (2022).

 

Instagram @dudadascasa


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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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