Agrura de Caiena / Elie Stephenson #PoesiaRotaMundo
A rua anda sem desvios
todas as ruas são assim onde moro
longas alas de cemitério
bordejadas de túmulos-casas
vistas do céu as ruas se cruzam
todas e cada uma em ângulo reto
membros de pedra vigas de ferro
de uma prisão sem grades
As ruas retas sem ponto final
como rígidas lombrigas
nas entranhas da cidade
mais do que nunca solitária doentia
[e anêmica
as crianças iam outrora
jogando “bola no buraco”
e seus risos de dálias
nos protegiam dos urubus
as ruas calçadas de laterita
tabuleiro de xadrez do sol poente
vestem hoje meias de noite
e sobre seu ventre sem umbigo
passeiam os papa-defuntos
e se pensaria ver nos sinais
vermelhos
sempre passar um enterro.
(Elie
Stephenson, Poemas da Guiana Francesa [Poemas escolhidos de Catacumbas de Sol
de Elie Stephenson]. Cadernos de Literatura em Tradução, n. 16, p. 211-226.
Tradução de Dennys Silva-Reis)
Sobre
o autor:
Elie Stephenson (1944) nasceu na Guiana Francesa
e é professor universitário, dramaturgo e poeta. Participou de diversas coletâneas
de poemas, incluindo Une Flèche pour un pays à l'encan, Catacombes de Soleil,
La Conscience du feu.
***
Poesia selecionada para o projeto RotaMundo
em parceria com o blog Na Literatura Selvagem que neste mês terá poetas dos
países: Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
Aaah que lindo. Amei esses versos 🖤
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