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A mulher forte / Gabriela Mistral #PoesiaRotaMundo

 



Eu me lembro do teu rosto que se fixou nos meus dias,

mulher de saia azul e de tostada frente,

que na minha infância e sobre minha terra de ambrosia

vi abrir o sulco negro em um abril ardente.

 

Alçava na taberna, profunda, a taça impura

quem um filho te prendeu ao peito de açucena,

e sob esta lembrança, que te era queimadura,

caía a semente da tua mão, serena.

 

Segar te vi em janeiro os trigos da tua filia,

e sem compreender dei a ti os olhos em vigia,

esbugalhados ao par de maravilha e pranto.

 

E o barro dos teus pés ainda beijara,

porque entre cem mudanças não pude encontrar tua cara

e a sombra ainda te sigo nos sulcos com meu canto!

 

(Gabriela Mistra, in A mulher forte e outros poemas. Trad. Davis Diniz. Editora Pinard, 2021)

 

Sobre a autora:

Gabriela Mistral (1889-1957) foi uma poetisa, educadora e diplomata chilena, primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura.

 

Gabriela Mistral, pseudônimo literário de Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nasceu em Vicuña, no Norte do Chile, no dia 7 de abril de 1889. Era filha de um professor, descendente de espanhóis e índios. Desde cedo, demonstrou um interesse duplo: tanto pela escrita como pela docência. Com 16 anos decidiu se dedicar à carreira de professora. Quando estava com 18 anos, seu namorado se suicidou, fato que marcou sua obra e sua vida. Em 1914, quando tinha 25 anos, ganhou um concurso de poesia nos Juegos Florais de Santiago, com “Sonetos de La Muerte” – começava a nascer “Gabriela Mistral”, nome criado em homenagem aos poetas que admirava o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral. Em 1922, publicou seu primeiro livro de poesias, “Desolación”, onde incluiu o poema “Dolor”, no qual fala do suicídio de seu namorado. (Fonte: ebiografia)

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Poesia selecionada para o projeto RotaMundo em parceria com o blog Na Literatura Selvagem que neste mês terá poetas dos países: Argentina, Chile e Brasil.


Um comentário:

O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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