O amor eterno dos tempos modernos
O perigo das comédias românticas
Ouvi no rádio: uma pesquisa acaba de
revelar que os filmes românticos americanos prestam um desserviço, alimentando
e agigantando no público – sobretudo feminino- a expectativa do amor eterno. O
risco é grande, devemos deixar de ver comédias românticas?
Hollywood desenforna comédias românticas
porque sabe que as pessoas gostam delas, e porque gostam vão vê-las nos
cinemas, e indo vê-las nos cinemas alimentam suas fantasias de amor eterno, e
suas fantasias agigantadas as levam a querer ver a representação do amor tão
suspirado, representação que encontram nas comédias românticas que Hollywood
desenforna. A questão parece circular.
Mas as pessoas corriam atrás do amor
eterno bem antes das comédias românticas. Deixemos de lado o mito do Andrógino,
criatura una dividida em duas por exigência do deus, que para sempre procura
sua outra metade. Esqueçamos Freud, as teorias da ausência, a incompletude que
atormenta os seres humanos. Nem uma palavra sobre os contos de fadas.
Criticado, quase banido pela modernidade, o sonho do amor eterno continua firme
simplesmente porque o amor de longo prazo pode acontecer, e os que o
conseguiram garantem que é bom.
Dizem que é bom, mesmo sem cavalo
branco. Que não tem essa de felizes para sempre. O que está valendo é felizes
hoje, amanhã veremos. Mas hoje se capricha no sexo, na cumplicidade, no apoio
recíproco. E amanhã, se der, se capricha de novo.
Bem mais modesto que o mito. O amor
eterno dos tempos modernos não é destino, bilhete premiado mandado pela sorte,
é resultado. Resultado de que? Todos perguntam.
Receitas não faltam, e são sempre
semelhantes. Nos saltam em cima das capas das revistas, nos recebem nas
livrarias, é impossível ignorá-las. Deveria ser fácil. Mas mesmo com o
receituário em punho, o bolo costuma solar. Então agora, para ajudar os
cozinheiros, surgiu o “love coaching”, a preparação amorosa através da internet
ou presencial. “Minha meta é avançar rapidamente”, diz a francesa Benedict Ann,
personal do amor, “recebo pessoas que passaram anos em terapia, e que me
afirmam : você me disse mais em duas horas que meu psi em anos.” Por 120 euros,
Benedict faz o diagnóstico amoroso do cliente, e o orienta nos sucessivos
estágios que o levarão ao sucesso. Sua sistemática, diz ela, é “concreta”e
pragmática”.
Com personal do lado, o amor deixa de
ser coisa de amador. A ciência também há muito se esforça para demonstrar que o
que comanda a escolha amorosa não é o amor. Já se tentou atribuí-la aos
feromonios, substâncias que ligadas ao olfato, desencadeiam respostas fisiológicas
e de comportamento. Foi bom para vender perfumes. Depois se pensou em
transferi-la para a área genética, a escolha ditada pela busca de um parceiro
com genes de imunidade diferentes, aumentando a possibilidade de sobrevivência
dos descendentes. Foi bom para vender testes de DNA, que comprovariam
compatibilidades.
No final das contas, sem saber realmente
o que leva duas pessoas a se escolherem, continuamos dizendo que é o amor. E se
duas pessoas se escolhem porque se amam, sentem que o melhor seria ficarem
juntas, para sempre. É um desejo que vem incluído no pacote amoroso. Para vê-lo
acontecer, já que na vida real é tão improvável, vamos ver comédias amorosas.
(Marina Colasanti. 2012. Minas Gerais.
Fonte: Marina Colasanti)
Oi Lilian
ResponderExcluirEssa crônica (?) foi tudo para mim, ela retrata muito do que eu penso kkkkkkk o sofrimento que vem de busca infinitamente por esse amor avassalador e romântico presente nos filmes, nossa tem filme que termino de ver e me acho um completo lixo por não ter encontrado o tão sonhado par perfeito.
Mas o resto do texto vem com uma acalanto, ninguém realmente sabe o que é o amor, ninguém sabe o que leva duas pessoas a se juntar não é mesmo? Mas também acredito que é importante fazer valer a pena o aqui e o agora e não ficar pensando no amanhã, o que espero é que seja eterno enquanto dure.
Beijos!
Eita Já Li
Obrigada por visitar o blog
Excluircomo sempre textos incríveis, nem sei porque ainda me surpreendo com o conteúdo que você traz pro blog. esse me deixou reflexiva, porquê como boa jovem eu amo essas comedias românticas, amo esses romances de filme que sempre dão certo ''no final'', e esse texto tocou justamente nesse meu ponto.
ResponderExcluirObrigada por visitar o blog
ExcluirOlá,
ResponderExcluirAh eu amei o texto.
Confesso que gosto de assistir comédias românticas justamente por ser ficção, porque na vida real nada é tão divertido (e nem duradouro) quanto na ficção. Até acredito que algumas pessoas fiquem com outras pra sempre, mas não acho que seja um privilégio de todos. Enfim gostei muito!