O espaço que separar nossos olhares / Franziska Stoecklin
O
AMIGO
Tu estás muito longe.
O espaço que separar nossos olhares
não pode ser atravessado
em um só dia.
Minha saudade é tão grande
que ela me leva, audaz,
a perto de ti.
Eu te vejo
na solidão de tua torre
no quarto de abóbada ogival.
Como um culto obscuro
de uma pequena divindade,
tu reinas em um trono enorme.
À tua frente há um livro branco
no qual escavas números e sinais.
A noite nasce no mar,
enorme e cinza.
Uma lua pontuda como uma foice
flutua.
As ondas quebram, surdas e fortes,
nas escarpas desgastadas.
Em cima está tua torre,
como um ídolo da permanência.
As ondas marulham, quebram, quebram
no penhasco, em eterna
regularidade.
Isso é para ti como a cantiga
de um enorme coração.
E às vezes tu te apavoras
quando de maneira indomável
e delirante retumba.
E então mais uma vez o sentes
como a batida do teu próprio
coração.
O mar marulha surdo
e forte no sangue,
e ultrapassa o vigor frágil
do teu corpo de menino.
Desejas erguer templos
que durem como pirâmides
e anunciar um novo mito.
(Franziska
Stoecklin (1894 – 1931), poeta suíça nascida em Basel, tradução de Gabriel
Rübinger-Betti)
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