Resenha – Crocodilo – Um filho que não morre
A finitude é algo que fascina e amedronta
parte substancial da sociedade, principalmente, quando esta vem pelo suicídio,
pelo direito de tirar a própria vida. Até onde esse direito é saudável, real e
como interfere na vida daqueles que seguem vivos? Crocodilo, livro de Javier
A. Contreras, Companhia das Letras (2019), abre um diálogo sobre suicídio
pelos olhos de quem vive as fases do luto, a dor da perda, neste caso, o pai de
Pedro, que pulou do décimo primeiro andar de um edifício.
A verdade é que nunca saberei o que aconteceu naquele fim de tarde porque o Pedro, definitivamente, estava morto. Só me restava então especular sobre toda a situação e, com isso, alimentar a cruel dúvida. Um sentimento talvez ainda pior do que a própria perda.
Pedro era um jovem artista, aos 30 anos já
era premiado por seu trabalho no cinema. Ele comete suicídio sem deixar nenhum
tipo de carta ou rastro do motivo, o que, obviamente, deixa seus pais atônitos.
O leitor então se depara com um Pedro pelos olhos de seu pai, Ruy, um
jornalista de 70 anos, que desesperado com o luto e a ação do filho, resolve
investigar as reais motivações ou se realmente foi suicídio.
A morte do Pedro significa também a minha morte como pai...
Os capítulos do livro são divididos por
dias, que começa do zero, dia da morte de Pedro, até o dia sete. Cada um dos
capítulos mostra um aspecto do luto que Ruy, amigos, namorada, fãs e
conhecidos, estão sentindo. Após o choque da notícia, Ruy, além do processo de
culpa, dor e álcool, entra num transe existencial que define como ‘ex-pai’, porém, se apropriando de seu
conhecimento como jornalista, resolve investigar a morte do filho.
As pessoas acham que podem entender, mas não têm a menor ideia do que se passa na cabeça de um pai que perde um filho assim. Um filho que não morre. Um filho que se mata. Elas veem filmes e novelas na tevê que tratam de suicídio e acham que é mais ou menos daquele jeito. Mas não é. A realidade é menos romântica. É uma mistura de sentimentos ruins. Culpa, raiva, decepção, ressentimento, vulnerabilidade, pânico, tudo junto. O amor, nessa hora, não chega nem perto.
Nesse processo de investigação, o narrador
mostra informações sobre a infância de Pedro, como os pais se conheceram, os
amigos. E como detetive afiado, começa a vasculhar a vida do filho, uma simples
lista, o faz procurar a namorada de Pedro, que também vive seu luto. Depois, um
nome estranho entre as últimas chamadas do filho, que ninguém sabe quem é. As pesquisas
sobre as causas do suicídio e o suicídio na história vão se incorporando à
história e o tema ainda tabu ou vulgarizado pela sociedade e a mídia, é exposto
em sua complexidade.
Nas entrelinhas, muitos acreditavam que a morte do Pedro pudesse ser decorrente de uma depressão – mais uma no rol das palavras impronunciáveis relacionadas ao suicídio.
Conforme os dias passam, quem mais parecem
anos, as buscas levam Ruy até um psicólogo, um profissional da saúde, sim,
porque suicídio é uma questão de saúde pública, muitos fios soltos vão se
prendendo para este pai, não a dor, a angústia, a solidão, estes continuam lá e
só o tempo...
Ruy, o suicídio é um ato muito complexo. É passível de generalização, mas temos que ter cuidado para não vulgarizar. É um ato particular que muitas vezes dá pistas que podem e devem sim ser analisadas e até tratadas com medicação, mas tantas vezes se mostra silencioso. (...). É preciso ter cuidado. Agrupar as pessoas em categorias impede que enxerguemos o ato de forma mais ampla. As razões que levam pessoas ao suicídio podem ser tão vastas quanto o número de suicidas, ainda que partam de uma matriz comum.
Crocodilo vem
para romper com a enxurrada de livros que romantizam e vulgarizam a temática. A escolha do nome tem uma simbologia única, sensível, que diz muito sobre Pedro e
sua família, não é uma ideia imposta, mas uma peculiaridade que une e adentra
no processo de superação do luto, algo que simplesmente não se explica, mas se
relaciona com a vida dos que ficam e a morte de quem foi, um fio de esperança.
Oi, a temática do suicídio é mesmo bem delicada, realmente não dá pra imaginar a dor de um pai ao perder o filho dessa forma. Certamente lerei esse livro quando puder.
ResponderExcluirOi Lilian, gostei muito da temática do livro, já me senti sofrendo com a dor do pai que vai em busca das motivações do filho para o suicídio. Não conhecia a obra, mas com certeza quero ler. Ótima resenha.
ResponderExcluirBjos
Vivi
Blog Duas Livreiras
Que livro intenso, ele parece ser bem curto mas com toda certeza me deixaria bem afetada.
ResponderExcluirLer sobre um pai que perde o filho ao se suicidar deve ser uma experiencia muito intensa, fiquei curiosa pra ler!
Também gostei muito dos seus quotes, deu até um choque kkkk
Nossa é uma história bem forte, a temática do suicídio atrelada ao do pai que perde esse filho é um assunto que requer muito trabalho pra ser feito da maneira correta. Vou deixar a sugestão salva pra eu em breve ler o livro.
ResponderExcluirOlá, que significativa e marcante gostei muito de conhecer por aqui, vou pesquisar sobre o livro para saber mais!
ResponderExcluirOi, Lilian.
ResponderExcluirEssa com certeza parece ser uma história emocionante sobre a superação do luto. As pessoas que ficam são muito afetadas por um suicídio... Infelizmente não é um tema sobre o qual eu tenha vontade de ler por razões muito pessoais.
Gostei muito da sua resenha e dos quotes que você destacou!
Beijos
Camis - blog Leitora Compulsiva
Confesso que nunca tinha lido um livro assim. É como um tapa na cara da sociedade e outros livros que tratam o luto como algo simples.
ResponderExcluirBjks!
Mundinho da Hanna
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Lilian, perdoe a vulgarização e termo chulo da minha expressão, mas PQP!
ResponderExcluirQue livro, que história. Eu sou psicóloga e não dou conta de lidar com esse assunto, hein?
Sério... trabalhar é uma coisa. Agora me embrear na história de Ruy e Pedro, EU NÃO CONSIGO LIDAR. O livro parece ser poético em sua complexidade, mesmo que buscando não romantizar o tema. Que acredito, de fato, o autor não o fez. Fiquei apaixonada por sua resenha, e pedindo a Deus que um dia dê conto de ler uma história sublime dessa. Me tocou!
E, claro... Fiquei curiosa com o título. Será que dou conta??
Beijão
Carol, do Coisas de Mineira
Nossa, essa reflexão e questão social é fundamental!
ResponderExcluirGostei muito do fato do livro abrir um diálogo sobre o suicídio pelos olhos de quem vive a dor da perda de um ente querido e junto dela as fases do luto. No caso, o pai do Pedro. Realmente, muitos livros com essa temática romantizam e até vulgarizam um assunto tão sério e delicado como este.
finalmente lendo a resenha desse livro que te gerou tanto sofrer ao escrever né? suicídio é um tema tão falado e refalado mas pouco analisado e realmente entendido, acho bacana você iniciar falando sobre o direito de morrer, a morte é um tabu sendo cheo de simbologias mas o ato de querer morrer tem a forte simbologia de egoismo e ''demoniaco'', gostei da sua resenha, ler ela ouvindo desconstrução teve um efeito de peso no que senti ao ler e já quero ler esse livro.
ResponderExcluirDois pontos que mais me chamaram a atenção na postagem: a questão do direito de escolher tirar a própria vida. Tem muitas pessoas que sequer acreditam que exista essa visão da coisa. E a gente tava falando sobre isso outro dia, lembra? e a questão dos livros que tratam de maneira torpe, que chega a ser ofensivo - a temática. Histórias rasas que vendem pra adolescente.
ResponderExcluirEssa sim, deve ser uma leitura hiper foda sobre essa temática. Vou pegar emprestado com Albi pra ler o quanto antes.
Küss 😘 💜
Gostei muito da sua resenha. Geralmente eu não leio livros que abordam o suicídio, pois eu acho ruim romantizar ou menosprezar o ato, e esse ponto de vista de quem acaba ficando parece ser muito mais interessante! Adorei!
ResponderExcluirAbraços,
Liv
Esta é realmente uma temática muito delicada que nem todas as obras conseguem abordar adequadamente, fiquei curiosa para conhecer a escrita deste autor e ver como ele desenvolve está narrativa.
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho
Bjs Aruom Fênix
Blog Leituras de Aruom
Caramba obrigado pela resenha. Que dificil é achar livros que tratam dessa maneira esse tema tão complicado e polemico. Só que viveu a cerca sabe o quanto é complicado. É particularmente importante esse ponto de vista por parte de quem fica para lidar com a dor da perda. Obrigado !
ResponderExcluirOlá não conhecia essa obra e como mãe confesso que não conseguiria ler essa obra, que terrível deve ser essa dor inimaginável, por outra lado acho super importante livros que abordam esse triste tema, acredito que possa realmente ajudar outras pessoas
ResponderExcluirOi oi,
ResponderExcluirAdorei a resenha, as citações e as suas sinceras palavras sobre a obra. Mesmo não lendo livros do gênero, eu gostei de conhecer está obra e a forma que o autor tenta passar a sua mensagem. Nunca li nada parecido com essa obra, mas fiquei curiosa para conhecer mais do autor.
Beijoss, Enjoy Books
Oie, tudo bem? Esse é um assunto bem delicado. Diferente de quando falamos sobre relacionamentos, histórias de amor, amizades, etc. Muitas pessoas defendem tal atitude justificando a ação de quem cometeu suicídio. Já eu acredito que temos a possibilidade de corrigir qualquer coisa em nossas vidas e essa não é uma das opções. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirolha, eu leio muito sobre o assunto e leio muitos livros que abordam o tema, é algo sensível a mim e sinceramente, procuro saber mais sobre quem o faz. adorei esse livro e é a primeira vez em que leio uma resenha e termino com um livro comprado. muito obrigada pela indicaçao.
ResponderExcluirDesconheço obras do autor, mas imagino o quanto ele deve ser competente por abordar um tema tão espinhoso quanto o suicídio. Imagino que não deva ser uma leitura indicada para qualquer pessoa, por poder acionar algum gatilho em quem tem tendências suicidas. Ainda assim acho importante que a questão seja debatida para além de opiniões individuais e paradigmas moralistas religiosos.
ResponderExcluirOlha, muito obrigada por essa resenha. Só quem passa por isso sabe como é algo que nunca vai embora. Apesar de ser um tema muito sensível e carregado de tabu, é muito necessário falar sobre. Já fui até atrás do livro e espero que possa ajudar muitas pessoas. Parabéns pela resenha.
ResponderExcluirEu acho essa questão muito complicada porque uma boa parcela das pessoas que cometem suicídio possuem algum problema de ordem psíquica e até mesmo psiquiátrica. Então, como essas pessoas estariam em condições de decidir sobre acabar com a própria vida?
ResponderExcluirBem complicado, polêmico e até mesmo pesado esse tema 😰
Mas adorei a resenha e a indicação :3
Oi Lilian, tudo bem?
ResponderExcluirEu tive de pensar bastante antes de fazer algum comentário porque o desconforto que me atingiu lendo esse texto foi algo bem difícil de contornar. Mas eu confesso que nunca tive um caso de suicídio na família, porém, imagino como deve ser difícil para quem perde um ente querido dessa forma lidar com semelhante situação, ainda mais porque nem todos tem a ciência de que aquela pessoa tinha um problema sério. O que leva à pergunta que o Raphael fez no comentário dele.
Um beijo de fogo e gelo da Lady Trotsky...
http://www.osvampirosportenhos.com.br
Já li muitas ficções que abordam o tema, mas mesmo com toda a carga emocional e de todas as mensagens importantes sobre o assunto, são ficções.
ResponderExcluirPor isso me interessei pela leitura, é assunto que precisa ser discutido sempre.
Sai da Minha Lente