Resenha – O Ano da Graça de Kim Liggett
Colagem por Deni Maliska
O
Ano da Graça, de Kim
Liggett, é mais um livro selecionado para o Projeto Leitura Feminista, com o blog Barda Literária e em parceria
com a Globo Livros, selo Alt. Voltado
para o público jovem, o livro faz críticas à alienação promovida pelo sistema
Patriarcal e como as mulheres tentam sobreviver em uma sociedade em que sua existência é uma ameaça constante ao
poder dos homens.
Nos dizem que temos o poder de fazer homens adultos saírem de suas camas, deixar garotos alucinados e enlouquecer as esposas de tanto ciúme. Acreditam que nossa pela emana afrodisíaco poderoso, a essência potente da juventude, de uma menina à beira de se tornar mulher. É por isso que somos banidas aos dezesseis anos, para liberarmos nossa magia na natureza antes de voltarmos à civilização
Ninguém no Condado de Garner pode falar do
Ano da Graça, o que cria uma atmosfera de medo, melhor forma de controlar a
massa. Tierney, personagem central dessa história, já tem a idade suficiente
para se submeter ao Ano da Graça, momento em que adolescentes são isoladas numa
ilha para se purificarem de sua magia. Ou seja, todas as mulheres desse Condado
são consideradas Bruxas e perigosas (Não
pensem que isso está longe de nossa realidade, na África do Sul, homens
queimaram mulheres idosas vivas, acusando-as de transformar morros em zumbis.
Canada registra aumento casos de mortes de mulheres indígenas, há também casos
de mulheres queimadas vivas nos últimos anos em vários países – Fonte: Mulheres
e caça às bruxas).
O Condado de Garner vive um regime
religioso e capitalista de terror contra as mulheres, impondo dessa forma um
modelo de feminilidade em que a mulher precisa ser socialmente aceita, estandardizada
institucionalmente e submissa ao patriarcado. A construção da mulher obediente
em que sua única função é procriar e ficar em silêncio.
Somos proibidas de cortar nosso próprio cabelo, mas, e o marido achar apropriado, pode punir a esposa assim, cortando sua trança.
Tierney não consegue se encaixar em
padrões, na maioria do tempo em que estava no Condado, se isolava, não tinha
amigas e aprendeu sobre pesca, medicina, acampamento com o pai. Seu único
amigo, Miachael, demonstra preocupação sobre o futuro de Tierney caso sobreviva
ao ano da graça. As jovens, antes de partirem para purificação, são expostas em
praça pública, como um objeto a venda numa vitrine, a espera de um pedido de
casamento, Tierney não quer casar e já planejou seu futuro, mas ela vai
descobrir que nem assim seu corpo ou sua vontade lhe pertencem. Nem mesmo
sonhar era permitido, quem dirá planejar uma vida tranquila.
Somos proibidas de sonhar. Os homens acreditam que os sonhos são uma forma de escondermos nossa magia. Sonhar por si só já bastaria para que eu fosse punida, mas, se descobrirem com o que eu sonho, eu iria para a forca.
O medo é a principal ferramenta de
controle social, os homens temem as mulheres e a mulheres temem a si mesmas e
quando isso não é suficiente, castigos públicos são aplicados as mulheres ou
até mesmo são queimadas vivas. A insanidade coletiva é alimentada e gera lucro
na cidade e para os que vivem à margem. Entretanto, os marginalizados estão
apenas tentando sobreviver.
O período do Ano da Graça dura um ano e
nesse tempo entre o transe e a barbárie absoluta, Tierney tenta se manter a
mais serena possível. Tudo é pensado para que o Ano da Graça seja um massacre
total, e como se não bastasse, as jovens ainda precisam lidar com os Predadores, homens mascarados que se
escondem na floresta para capturar as jovens e vender os pedaços de seus corpos
cheios de magia no mercado, como uma orelha, por exemplo. Mas preciso parar por aqui para não entrar em spoiler...
O livro não é restrito a uma visão do
feminismo, mas traz uma abordagem necessária e ainda comum no mundo, com
críticas à religião, para mim, sendo mais específica, a seita religiosa ligada
ao cristianismo, e sendo um pouco mais específica, hoje, aos pentecostais e
sionistas. O Ano da Graça, como dito
antes, é um livro para o público jovem, bem escrito e estruturado e muito
próximo da realidade em que vivemos de caça às bruxas com apoio da religião e
do capitalismo.
Este é o segundo livro do Projeto Leitura
Feminista criado por mim e a Paac, do blog Barda Literária, e que busca trazer
conteúdos sobre feminismo de uma forma mais acessível e diversificada com
debates e leituras para todos os gostos. Se tiver em interesse em conhecer mais
clique na imagem abaixo e visite também nossos posts nas redes sociais. O próximo livro que vamos apresentar é da autora Silvia Frederici, Mulheres e caça às bruxas, editora Boitempo.
Esse é um livro que eu quero ler desde que ele foi anunciado pela editora!
ResponderExcluirEu vi algumas pessoas comparando ele com O Conto da Aia e como eu gostei absurdamente desse livro, eu fiquei muito curiosa pra ler esse também.
Ainda não tive oportunidade de pegar ele pra ler, mas seus comentários me deixaram com ainda mais vontade, principalmente depois de ver os temas que o livro aborda. Adorei! E também amei o projeto de vocês, que perfeição!
Olá, tudo bem? Eu estou louca por esse livro, ele está na minha lista desde o lançamento e sinto que é uma obra que eu irei gostar muito já que li outras histórias com esse pano de funco e amei!
ResponderExcluirOlá! Eu nunca ouvi falar desse livro mas li toda a tua resenha com o coração na mal. Parece ser um livro bastante pesado mas não menos necessário. Adicionei-o na minha lista, porque adorei a premissa. Adorei, também, o projeto literário, parabéns meninas <3
ResponderExcluirAbraços.
Na sociedade em que vivemos atualmente onde o machismo esta cada vez mais disfarçado no meio da sociedade, é preciso que nos mulheres estejamos cada vez mais alerta sobre o como enxergam as mulheres no mundo, temos que ter cada vez mais conhecimento sobre o assunto, igual o livro aborda em parte, que as mulheres são simplesmente queimadas como se nos fosse um simples lixo descartável. Esses tipos de livros que temos que adquirir para ter uma forma ampla de pensamento sobre o que realmente é o feminismo. Adorei sua resenha!
ResponderExcluirEu realmente nao conhecia, mais fiquei muito intrigada.Acredito que esse seja um daqueles livros que vou detonar em um piscar de olhos. Nossa que condado terrível! Imagino a dor daquelas mulheres, e saber que ainda existe isso em muitos países na africa e tal. terrível é pouco.
ResponderExcluirOlá Lilian.
ResponderExcluirEstou lendo algumas opiniões sobre este livro que está despertando meu interesse. Eu já estou adicionando na lista de desejados, pois achei sua opinião bem convincente para uma leitura marcante. Obrigada pela dica.
Bjos
Esse livro parece incrível! Acho que é a primeira opinião que leio sobre ele e fiquei realmente interessada. Gostei de saber que ele não é restrito a uma opinião sobre feminismo, mas que aborda assuntos tão importantes quanto. Já vou adiciona-lo a minha lista.
ResponderExcluirBeijos,
Blog PS Amo Leitura
Olá,
ResponderExcluirSempre gosto de descobrir livros que falem do feminismo para jovens, gosto do assunto e acho que precisa ter muito mais para uma faixa etária mais jovem. Gostei do tema desse e todo o paralelo com o mundo real é algo para se refletir.
Ouvir falar do livro pela Tamirez do Resenhando sonhos e fiquei curiosa pra ler, depois da sua resenha com certeza ele vai entrar pra lista.
ResponderExcluirLembro de já ter lido algo sobre o enredo do livro em algum blog parceiro e a respeito desse Projeto de Leitura Feminista também. Achei muito interessante e uma leitura necessária. Eu curto bastante ler livros que mostram outra visão crítica sobre diversos assuntos na sociedade como crítica à religião, machismo, sexismo e outros que são de extrema importância serem expostos. Já tenho interesse pela leitura desse livro.
ResponderExcluirCaramba! Juro que se você não falasse que o livro foi feito para o público jovem eu poderia jurar que era para o publicar adulto. Não conhecia essa obra e já estou aqui louco de vontade para começar a ler. Amo livros com essa temática de mulheres serem submissas pois ela me causa raiva, e ao mesmo tempo mostra que a ficção não é tão diferente assim da realidade.
ResponderExcluirGente, parabéns pelo projeto! Fico imaginando os titulos que virão! Essa distopia não tão distópica se relacionada com nossos tempos continua soando incrivelmente como alerta. Também poderia ser uma ótima adaptação para o cinema!
ResponderExcluirEstou tão curiosa para ler esse livro... perceber esses temas tão próximos da nossa realidade faz a gente parar e avaliar tudo que nos rodeia. É uma pena que seja uma situação que pareça tão próxima de existir!
ResponderExcluirEstou tão curiosa para ler esse livro... perceber esses temas tão próximos da nossa realidade faz a gente parar e avaliar tudo que nos rodeia. É uma pena que seja uma situação que pareça tão próxima de existir!
ResponderExcluirEssa é a segunda resenha que eu leio desse livro e me faz refletir sobre o quanto esse evento, do Ano da Graça, me lembra alguns ritos de passagem da infância para idade adulta, sobre os quais já li.
ResponderExcluirPode ter ctz que sua escrita me deixo mais curiosa para ler a obra e refletir sobre as demais semelhanças do livro com bossa realidade.
Abreijos.
Gostei da resenha, me lembrou bastante O Conto da Aia, mas com mais fantasia. Acho que livros assim são mto interessantes para discutirmos a nossa própria realidade e natureza quanto mulheres, pois temos poder e não percebemos!
ResponderExcluirAbraços,
Liv
Oi, tudo bem? Achei bem interessante o projeto de leitura. Ainda mais por trazer livros com temas tão atuais e que permitam discussões. Quando li a sinopse pela primeira vez lembrei de O conto da Aia. Gosto muito de distopia e imaginar outras realidades é um exercício incrível. Acredito que situações extremas testam os seres humanos e percebemos do que somos capazes. Como agiríamos se acontecesse conosco. Nunca li nenhum livro da editora mas já anotei essa indicação. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirNossa, Lili. Deve ser uma puta leitura. Com certo vou querer fazer. Tinha visto a capa num café enquanto uma pessoa lia e fiquei na vontade de perguntar do que se tratava kkkkkk mas fiquei na minha. Não tinha nem visto o título direito.
ResponderExcluirAdoro tuas indicações, sempre maravilhosas e necessárias.
Küss meine Schatz 💜🌻
Oiiii
ResponderExcluirNão conhecia esse livro, mas fiquei bem curiosa com o texto. vou procurar mais sobre ele para ver se encaixa bem no meu gosto de leitura e te conto
Adorei sua resenha. Muito! Esse será um dos meus próximos livros, inclusive estou incomodada de ainda nao ter conseguido adiantar ele na lista. É muito real o q vc falou. O medo ser usado como forma de controle, principalmente o medo do desconhecido. E como não está distante do que vivemos hj. Esses temas estarem sendo mais abordados agora me dá esperança de um reconhecimento e levante de voz feminina.
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