Resenha – Manoel de Barros, o homem que faz palavra-passarinho
Matéria
de Poesia, de Manoel de Barros, Alfaguara Editora, publicado originalmente em 1974, é
permeado de versos sobre coisas desimportantes essenciais para a vida. A exemplo
disso: o cuspe a distância, um pente, uma árvore, o mato, um chevrolé gosmento,
como ele mesmo coloca “coisas que não
levam a nada”.
Manoel de Barros cria palavra, renomeia e
transforma poesia, reinventa poesia daquilo que está esquecido ou simplesmente
desmerecido, mas nada vira luxo, vira encanto, encontro, nostalgia, rima,
dança, canto de pássaro.
DE
VIAGEM
Parada
de almoço:
Borboletas
pousadas em trens de bois
Lagartixas
de latrina.
O insignificante vai ganhando poesia, imagem,
sonoridade. A palavra voa, ecoa e ganha significado, tudo em nome do fazer
poesia. Nada é descartado, não tem espaço para o inútil, a poesia de Manoel se
esvazia do obvio da vida moderna e agarra-se em muro podre para caramujos.
Muita coisa se poderia fazer em favor
da poesia:
a
— Esfregar pedras na paisagem.
b
— Perder a inteligência das coisas para vê-las.
(Colhida
em Rimbaud)
c
— Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.
d
— Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em
Carlitos.
e
— Perguntar distraído: — O que há de você na
água?
f
— Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas
de
Mário-pega-sapo era nua. Por isso as
crianças
e as putas do jardim o entendiam.
g
— Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos,
teréns
de rua e de música, cisco de olho, moscas
de
pensão...
h
— Aprender a capinar com enxada cega.
i
— Nos dias de lazer, compor um muro podre para
caramujos
j
— Deixar os substantivos passarem anos no esterco,
deitados
de barriga, até que eles possam carrear
para
o poema um gosto de chão - como cabelos
desfeitos
no chão — ou como o bule de Braque
—
áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro
—
um amarelo grosso de ouro da terra, carvão de
folhas.
l
— Jogar pedrinhas nim moscas...
Matéria de Poesia pode ser um lembrete de
que não somos máquinas, de que a vida moderna nem sempre precisa ser correria,
agitação, trânsito, trabalho, fadiga porque ainda tem espaço para o canto do
pássaro, brincar na chuva, tirar catota do nariz, dançar, ralar o joelho, cuspi
na bicicleta, correr. E nesse tempo em que dialogamos com o que a sociedade
moderna nomeou como inútil, nos encontramos, nos vemos e entendemos, que por
sermos breve, é preciso ser passarinho.
Creio que hoje, Manoel de Barros faz nuvem rir no céu.
"Que por sermos breve, é preciso ser passarinho" que ótima frase!
ResponderExcluirEu nunca li nada dele, só coisas avulsas, mas depois de hoje, quero muito lê-lo, aproveitar para respirar e notar que sou passarinho, que preciso ser.
Amei, de verdade.
Abraços.
Oi Lilian.
ResponderExcluirAinda não li nada de Manoel de Barros, pois eu não tenho hábito de ler poesia. Mas através da sua resenha eu fiquei com vontade de sair da minha zona de conforto e aventurar pelo caminho da poesia. Parabéns pela resenha e obrigada pela dica.
Bjos
Eu realmente preciso ler esse livro, simplesmente pelo fato de que ele mostra, por meio da poesia, que a vida não precisa realmente ser tão corrida e tão travada quanto a gente faz ser, como você mesma ressaltou.
ResponderExcluirEu amo poesia e já yô aqui procurando esse livro pra ler, adorei!!
Ai poesia transforma a gente ♥
ResponderExcluirCada palavra, cada verso, cheio de emoção e ideias que rejuvenescem a gente.
Eu leio pouco poesia, mas toda vez que leio, me sinto transformada.
Me encantei pelo post! Não lembro de ter lido nada de Manoel Barros, mas se não li, já passou da hora!
ResponderExcluirbjos
Lucy - Por essas páginas
A vida é apenas um sopro, mas a gente fica tão focado na correria do dia-a-dia, que acaba esquecendo dos pequenos detalhes que nos fazem realmente felizes...
ResponderExcluirBjks!
Mundinho da Hanna
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Não só a poesia em Manoel de Barros, mas também há poesia nessa sua resenha! Adorei o jeito da sua escrita que casa completamente com o que é escrito , adorei conhecer mais sobre Manoel e o encanto da poesia, parabéns pelo post..
ResponderExcluirBisou Bisou , Isa do Le Portrait de Isa.
Manoel é um dos poucos poetas que me atraíram a primeira leitura. Não sou conhecedor da obra dele, mas sempre que leio algo sobre ou dele me encanto. Abraços.
ResponderExcluirAchei muito curioso saber da forma em que Manoel de Barros transforma e reinventa poesia. E o melhor, essa reflexão social que ele traz por trás da poesia. Porque vejo que nessa sociedade moderna muitas pessas vivem como robôs, fazem tudo mecanicamente. Mas somos humanos e breves, e precisamos sentir pra viver e não só existir.
ResponderExcluirQue post encantador, sou apaixonada por poesia desde muito pequena e sempre gostei muito da poesia do Manoel de Barros, adorei o que você ressaltou no texto realmente me tocou!
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho
Bjs Aruom Fênix
Blog Leituras de Aruom
Eu gosto de Manuel de Barros. Já li contos dele nesse ano.
ResponderExcluirMas, me apaixonei com essa edição! Porém, o que esperar da Alfaguara, né mesmo?
Adorei tudo em seu post!!! Principalmente o que ela me fez sentir ao chegar no seu fim.
Beijão
Carol, do Coisas de Mineira
Oi, tudo bem? Achei bem criativa a ideia do autor. Ainda mais por ser poesia. Elas têm o poder de mexer com o leitor e despertar diversos sentimentos. Quanto as coisas triviais do dia a dia é muito verdadeiro. Tantas passam despercebido. Usamos pente/escova todos os dias mas nunca paramos para pensar na sua importância concorda? Assim como a grama que esquecemos de pisar. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirAaah Manoel... Ele sempre tão maravilhoso..esse dele ainda não li. Essas edições da alfaguara são lindas. Tenho um só dessa coleção. Apaixonante.
ResponderExcluir💜
aah manuel de barros é um amor de escritor... eu sou formada em letras e minhas materias preferidas na faculdade envolviam literatura e estudar esses autores. vou correndo atrás desse livro
ResponderExcluirManoel de Barros nunca foi muito do meu interesse... Já li alguns livros e alguns poemas soltos e sempre fiquei meio encucada com ele... Mas realmente, ele é maravilhosamente maravilhoso com palavras e brinca com elas numa facilidade...!
ResponderExcluirOi oi,
ResponderExcluirAdorei a fotoe a forma que você conseguiu colocar em palavras o poder da poesia, e principalmente uma ppesia do Manoel de Barros. Enfim, eu não sou fã de livros dos gênero, mas gostei bastante do post e da sua opinião sobre a obra. Espero ppder ler novamente essa obra (já que li no ensino médio).
Beijoss, Enjoy Books
Achei o conceito bem legal. Às vezes acho que a vida moderna não é vida. É uma coisa tão acelerada e maluca, faz a gente adoecer. Já ouviu falar do conceito slow life e slow blogging? Sua resenha me remeteu a ele. Beijos
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