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Resenha – Pensamento Feminista Conceitos Fundamentais

Heloisa Buarque de Hollanda. Foto: Fabio Seixo.



Organizado por Heloisa Buarque de Hollanda, o livro Pensamento Feminista conceitos fundamentais não foi uma escolha ao acaso. Apesar de com frequência trazer livros sobre a temática, recentemente em parceria com o blog Barda Literária e patrocinado pela Editora Bazar do Tempo, iniciamos um projeto de leitura de obras  feministas e este é o primeiro livro. O Projeto de Leitura Coletiva busca opinar, e divulgar, sobre obras que trazem conteúdo sobre o movimento feminista, que está tão em voga nos dias de hoje, mas, ainda permanece sendo uma incógnita para alguns leitores.

Foto Blog Barda Literária

Pensamento Feminista conceitos fundamentais é uma coletânea de 19 ensaios, dividido em três categorias: Gênero com método; Primeiras Interpelações; Novas Interpelações e conta com as vozes de Audre Lorde, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Judith Butler, Gayatri Spivak, Gloria Anzaldúa, Teresa de Lauretis etc. A ideia da coletânea surge em 2018, durante um curso ministrado pela Heloisa Buarque de Hollanda, na UFRJ, denominado “O Cânone Feminista”.

Simplificando, este livro é um compartilhar de leituras e de descobertas. Mas é também um alerta, subentendido na sequência de seus capítulos, para que o feminismo do século XXI coloque na agenda a urgência do questionamento às tão perigosas quanto dissimuladas tecnologias de produção das sexualidades e a responsabilidade de recusar qualquer hierarquia ou prioridade na luta contra a opressão de todas as mulheres, em suas diversas características de gênero, raça, etnia ou religião.

A primeira parte do livro, Gênero como método, reúne 7 dos 19 artigos, e abre com o ensaio de Nancy Fraser, Feminismo, Capitalismo e a astúcia da história. “Quero olhar para a Segunda onda do Feminismo”. A autora teoriza sobre o feminismo-socialista a partir da Segunda onda do Feminismo até as ‘últimas tendências do movimento’ na relação histórica com o Capitalismo.

Estou sugerindo, então, que esse é o momento em que as feministas devem pensar grande. Tendo observado como o violento ataque neoliberal instrumentalizou nossas melhores ideias, temos uma abertura agora para reivindica-las.

Já o texto da historiadora Joan Scott, Gênero: uma categoria útil para análise histórica, aponta para o aspecto que a definição de opressão feminina e gênero cabe ao feminismo porque, segundo a autora, “As teóricas do patriarcado concentram sua atenção na subordinação das mulheres e concentram a explicação na ‘necessidade’ do macho dominar as mulheres”. Em Não se Nasce Mulher, de Monique Wittig, título que remete ironicamente à famosa frase de Simone de Beauvoir “ninguém nasce mulher, mas se torna mulher”, faz uma crítica sobre as ideias na concepção da heterossexualidade que encadeiam base da opressão da mulher. Sandra Harding, em A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista, denuncia que a noção consagrada do conhecimento científico é patriarcal, visto que os modelos teóricos a que recorremos em parte não se aplicam às mulheres e relações de gênero. 


Foto Blog Barda Literária


Ainda sobre a primeira parte deste livro, as autoras, Teresa de Lauretis, Donna Haraway e Judith Butler discorrem, respectivamente sobre as limitações do pensamento feminista; a simbologia do ciborgue tal como ficção e experiência vivida capaz de reestruturá-las; e, por fim, a performance de gênero como ações.

Se a base da identidade de gêneros é a contínua repetição estilizada de certos atos, e não uma identidade aparentemente harmoniosa, as possibilidades de transformação dos gêneros estão na relação arbitrária desses atos, na possibilidade de um padrão diferente de repetição, na quebra ou subversão da repetição do estilo mobilizado.

A segunda parte do livro, Primeiras Interpelações, conta com sete ensaios, sendo o primeiro e segundo de Audre Lorde, que, respectivamente, critica a noção hierárquica de opressão, visto que como mulher, negra e lésbica não há benefícios específicos; e a necessidade reconhecer e interpretar a diferença entre as mulheres, “Não são nossas diferenças que separam as mulheres, mas a nossa relutância em reconhecer essas diferenças e lidar de maneira eficaz com as distorções provocadas pelo fato de ignorarmos e interpretarmos de modo errado essas diferenças”. Ainda nessa segunda parte, contamos com as vozes de Gayatri Spivak, Patricia Hill Collins, Sueli Carneiro, Gloria Anzaldúa e Lélia Gonzalez, que tratam respectivamente sobre a reconstrução da narrativa histórica; o pensamento feminista negro (raça, gênero e classe); identidade.



Por fim, a terceira parte do livro, Novas Interpelações, com cinco artigos, começa com uma releitura da modernidade colonial capitalistas e os modos de resistência, de Maria Lugones; Silvia Federici traz uma nova perspectiva sobre o feminismo-marxista; Teresa de Lauretis com a Teoria Queer; e por fim, não menos importante, Paul B. Preciado com a noção de contrassexualidade e a noção de sujeito como crítica à ideia sexopolítica heteronormativa.

Para reivindicar queer como uma palavra de contestação social que realmente inclua o aspecto sexual, precisamos de uma concepção de sexualidade que vá além dos equívocos nebulosos dos gêneros.

Há muito o que se dizer sobre esse livro, de contrapartida, há muito que se ler, pesquisar e repensar depois desse livro. Considero uma leitura essencial no meio acadêmico e social, para além do discurso da moda, a obra é capaz de promover debates úteis e de resistência aos conceitos impostos pelo patriarcado e concepção heteronormativa. Agradeço a participação da editora nesse projeto que ganhará força e por também ceder o livro Pensamento Feminista Brasileiro: Formação e Contexto que logo terá resenha por aqui. 



33 comentários:

  1. Olá tudo bem?

    Já havia escutado alguns comentários sobre esse livro, mas confesso que ainda não o li. Gostei bastante da sua resenha e concordo com a sua opinião sobre o quão válido e necessário é iniciar uma reflexão sobre esse tema. Dica mais do que anotada.

    Beijos

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    1. Realmente, é uma forma de debate bem necessária , principalmente em um país como o Brasil em que ser ser burro e neofascista é algo de se vangloriar. Ademais, com a simbologia de um governo militante, neofascista e machista, o número de violência e a forma de violência aumentaram drásticamente, ler e debater obras do tipo torna-se sinal de resistência. Obrigada por vir aqui...

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  2. É um livro interessante.. Para estudo, certamente. Mas vou dizer que achei ele bem chato e olha que nem li. Prefiro leituras criativas que me mostrem o real aspecto de forma fácil e curiosa.. Agora esse não é um livro que iria ler, embora o conteúdo seja de interesse meu

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    1. Sempre tem coisas simples e fáceis no mercado editorial, principalmente ao público jovem, leitores iniciantes e os que têm dificuldade de leitura por qualquer razão.

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  3. Se uma pessoa pega uma obra rica de informações como essa e não compreende o básico do que está sendo passado, melhor recorrer a livros de colorir, que não exigem um cérebro pensante para uso do tal... Tsc tsc..


    Título mais que anotado em minha lista de leituras feministas. Se faz urgente e necessário discutir esses artigos, desmistificar alguns pontos abordados e compreender pondo em prática as suas observações...

    Parabéns pela resenha formidável. 💜

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    1. Entre os artigos, tem de historiadoras Latinas, eu amei isso

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  4. Eu tinha visto uma divulgação desse livro e até tinha anotado o nome dele para procurar mais informações. Estava curiosa para saber mais sobre o viés da publicação. Foi ótimo ter encontrado essa sua resenha, que está super completa e bem escrita. Agora que sei mais sobre a abordagem da obra, já percebo que não é algo irá me acrescentar.
    Adoro ler sobre o tema, mas prefiro a abordagem feminista de autoras como Camille Paglia.
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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    1. Paglia é bastante peculiar em suas fragmentações necessárias a determinados grupos de poder.

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  5. Oi Lilian.

    Estava curiosa para ler uma resenha sobre este livro e realmente preciso conferir porque sua resenha mostrou que essa é leitura poderosa e essencial. Parabéns pela resenha e obrigada pela dica. Amei!

    Bjos

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    1. Que bacana, não sabia de seu interesse, vem participar do grupo, nossa próxima leitura é O ano da Graça.

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  6. Oi oi!
    O livro parece ser muito bem elaborado. E ando vendo resenhas maravilhosas pelos blogs.
    Temos uma colunista que capta todos esses livros em temas assim... então eu só acompanho de longe.
    Eu adorei a resenha, principalmente a foto do gatíneo. hehehehe Super expressivo.

    Carol, do Coisas de Mineira

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    1. Convida a colunista para participar do grupo representando seu blog ^^

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    2. Que ideia boa!!! Vou avisar lá na nossa próxima reunião.

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    3. Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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  7. Nossa ideia legal de ler obra com a temática feminista, tô dentro e já anotei este, gosto de livros que me levam a refletir e me impulsionam a pesquisar e buscar mais e é algo que acontece com este livro.

    Bjo
    Tânia Bueno

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    1. heiii, vem fazer parte de nosso grupo, nossa próxima leitura é O Ano da Graça ^^

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  8. Olá, tudo bem? Eu ando muito interessada em ler livros do gênero e é obvio que sua dica vai ser anotada com muito carinho!
    Sua resenha está muito boa ♥

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  9. Olá, amei poder saber um poco do que há nas partes desse livro, ainda mais se é uma publicação que nos faz querer ir além, buscar por mais.

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  10. Esse livro está na minha lista de desejados! Ando lendo ótimas resenhas sobre ele e espero poder lê-lo em breve, estou só esperando uma folga nas leituras da faculdade hahaha ♥️

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  11. Olá! Bem interessante esse livro pela forma que você colocou, mesmo que não seja muito minha praia..rs :)

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  12. Oi, tudo bem?
    Eu ainda não conhecia esse livro, mas achei uma indicação super interessante. Muitas pessoas ainda não entendem o que é o feminismo e criticam, então, acho importante livros que esclareçam mais o assunto. Além disso, até para quem já entende o movimento e se declara feminista, acredito que essa é uma leitura que permite uma compreensão melhor e que desperta mais reflexões. Adorei a resenha e vou anotar a dica.
    Beijos!

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  13. Oi!

    Antes de mais nada, adorei a foto com o ou a gatinho/a. Esse livro é tão a minha cara que você não imagina. Ainda não o conhecia, mas fiquei bastante empolgada com as suas considerações.

    Seu comentário sobre a questão da reflexão e pesquisa que se fazer após a leitura me deixou bem empolgada com a leitura.

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  14. Olá! Muito interessante esse livro. Com certeza, vale muito a pena a indicação e o debate do tema. Ótimo você compartilhar. Ótimas leituras em 2020, bjo

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  15. Ah.... q fantástico... são assuntos capiciosos, mas absurdamente relevantes em qualquer época e nessa se faz urgente. Eu não conhecia esse livro e fiquei muito curiosa por esse projeto, adoraria saber a lista de leituras pra poder acompanhar as resenhas, equem sabe ler também.

    Nelmaliana Oliveira (Profissão: Leitora)

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  16. Eu sempre saio daqui com alguma dica para adicionar na minha lista de desejados.E sem dúvidas, me interessei por esse livro. Estou gostando de me aprofundar no assunto e quanto mais material, melhor <3

    Sai da Minha Lente

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  17. Olá!!!
    Eu não conhecia o livro, mas é mais um livro pra lista de livros com a temática que quero ler.
    Gostei da analogia que a autora fez com o título do ensaio que relacionou a da Simone de Beauvoir.

    lereliterario.blogspot.com

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  18. Olá, tudo bem? Não conhecia o livro, mas como sempre, fiquei super curiosa! Aliás, achei a ideia do projeto maravilhoso, então sucesso. Espero que tenha bastante pessoas participando, e que assim mais pessoas se interessem pelo assunto. Dica super anotada e já quero resenha das outras obras ao longo mesmo. Adorei!
    Beijos

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  19. Eu ainda não conhecia o livro e apesar da temática ser bem diferente e necessária para os dias de hoje, não é um livro que eu leria agora, mas que, de qualquer forma, deixarei a dica anotada para um futuro. E eu adoro projetos de leituras coletivas. É maravilhoso compartilhar com mais pessoas essas experiências.

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  20. Gosto de livros que não terminal com o ponto final, que quando chegamos ao seu fim ainda tem muito o que aprender. Livros que nos ajudam a crescer, nos agregam conhecimento. Eu ainda não conhecia esse e fiquei muito interessada nele.

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  21. Oi Lilian, tudo bem?
    Esse livro sem dúvida é muito importante para esclarecer muitos pontos que as pessoas ainda tem dúvida sobre o feminismo, que apesar de ainda ser altamente necessário, é muito odiado por muita gente tacanha e ignorante que acha mais conveniente manter certas coisas em silêncio.
    Um beijo de fogo e gelo da Lady Trotsky...
    http://www.osvampirosportenhos.com.br

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  22. Oi, Lílian! Já conheço o livro, apesar de ainda não ter lido, mas pretendo. Estou num grupo de estudos feminista e já falamos sobre. Iremos ler.

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  23. Nossa! Esse parece ser um livro e tanto! Estou muito curiosa para poder ler, coloquei em minha meta ler pelo menos um livro da temática e até já selecionei o meu, mas vou guardar essa dica!

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  24. Olá!
    É a primeira vez que leio a respeito desse livro. Achei interessante a abordagem, já tem um tempo que não leio um livro assim com ensaios, muito bacana a proposta!
    bjos
    Lucy - Por essas páginas

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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