Resenha – Coisas que não quero saber
Coisas
que não quero saber – Uma resposta ao ensaio ‘Por que
escrevo, de George Orwell’, de Deborah Levy,
Editora Autêntica, é um retrato
sobre o poder da escrita, a autora, sul-africana, relata como surge, em meio ao
silêncio promovido pela violência, a escritora que lhe habita.
Disseram-me para expressar meus pensamentos em voz alta e não só em minha cabeça, mas resolvi escrevê-los.
O motivo de escrever é o
que norteia o livro que está dividido em quatro ensaios, dialogando com o livro
de George Orwell: Objetivo político;
Impulso histórico; Puro egoísmo e Entusiasmo estético. A narrativa
autobiográfica não se perde em dicas de escrita, mas na necessidade da escrita.
Na década de 80, Deborah viu seu pai ser preso por lutar contra o Apartheid,
logo depois, a família vai para Inglaterra em exílio.
Papai tenta abrir um sorriso para mim, um sorriso igual ao do boneco de neve, com os cantos virados para cima. Agora os homens o levam embora a passos largos, homens que torturam outros homens e que às vezes têm suásticas tatuadas no pulso
Se você não acredita no apartheid, pode acabar sendo presa. Você precisa ser corajosa, hoje e amanhã, e um monte de crianças também precisa, porque o pai e a mãe delas também foram levados embora.
A menina que vivenciou os
horrores do apartheid, não queria ter que guardar tantos segredos, não queria
ver tanta crueldade e assim como a sua boneca de plásticos, que nada sente,
também queria ser de plástico. Sua voz era baixa, quase inaudível, em alguns
momentos, não saia, o que irritava os adultos, principalmente a professora que
a obrigava a falar alto.
Na adolescência, influenciada
por Simone de Beauvoir e outros intelectuais, descobriu que gostava de escrever
e rememoro aqui as palavras de uma de sua professora na escola de Freiras ainda
quando era pequena “não deveria ter medo
de algo tão transcendental como ler e escrever, porque a escrita poderia
levá-la para algum lugar melhor do que aquele que ela se encontrava”.
A vida no exílio era o
que atormentava a menina na adolescência, ela gostava de viver na Inglaterra e pensar
em sua condição e na da família, era uma angústia.
Eu estava desesperada quando cheguei em casa. Como é que ia conseguir sair daquela vida de exílio? Queria viver no exílio do exílio.
Apesar dos acontecimentos
e dos inúmeros traumas de infância, é na Inglaterra que Deborah descobre que
ser escritora é sua vida, mas a opressão a impedia de começar. Ela precisou
encontrar sua voz, o tom que lhe pertencia e ir profundamente a todos os
lugares que que não queria, olhar para as coisas que não queria saber. Ser ou não ser, eis a questão. Para ser
escritora era preciso voz, para ter voz, era preciso olhar para dentro para
própria história. George Orwell disse em
“Porque Escrevo”: “(... ) porque não acho
que alguém pode penetrar nos motivos de um escritor sem saber alguma coisa de
seu desenvolvimento anterior”.
Sinceramente não é o tipo de livro que me desperta interesse pela leitura, no entanto gostei muito da forma como a história dessa autora e sua necessidade pela escrita pois era o único modo de sua voz ser ouvida em meio a tanta opressão e retratada. Dessa forma, para quem gosta desse gênero com certeza vai se sentir interessado pela obra. Gostei muito da resenha.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirConfesso que sempre sofro com histórias ou temas que falem sobre o apartheid, sempre dói um pouquinho ler esse tipo de coisa. Não leio tantos ensaios quanto gostaria, mas gostei do tema deste.
Debyh
Eu Insisto
Oi, tudo bem? Achei a temática bem intensa ainda mais pelos temas que aborda. Acredito que pessoas que sofreram com guerras, conflitos, ou qualquer situação semelhante sempre trazem consigo uma bagagem muito grande de aprendizado. É bom saber que ela encontrou sua voz e pode mostrar ao mundo suas ideias. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Nossa um livro com teores biográficos, ainda mais com uma temática forte, provavelmente vai mexer bastante comigo. Não conhecia a obra, na realidade não conhecia nem esse do George Owell, mas com certeza dica anotada!
ResponderExcluirÓtima resenha, e escolha de trechos!
Beijos,
http://diariasleituras.blogspot.com/
que ensaio interessante, não li o de orwell, mas acho que se fosse ler esse leria o dele primeiro pra enteder exatamente do que ela fala, mas me soa uma leitura dolorosa, no sentido de entender e ler sobre um período da história que se fossemos dizer, ainda seria parte da realidade atual.
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