Resenha Feminismo - um manifesto feminista para 99
Dividido por teses, Feminismo para os 99%: Um manifesto, de Cinzia Arruzza, Tithi
Bhattacharya, Nancy Fraser ; tradução de Heci Regina Candiani, Editora Boitempo, é um livro para
repenser que tipo de feminismo defendemos e queremos. Isso implica em pensar
sobre o feminismo liberal que nos últimos anos entra em colapso e sempre esteve
como ‘serviçal do capitalismo’, portanto, jamais priorizou o fim da exploração
das mulheres em sua maioria pobre e negra.
Confrontadas com essas duas visões de feminismo, nos encontramos em uma encruzilhada, e, dependendo de nossa escolha, há dois horizontes para a humanidade. Um caminho conduz a um planeta arrasado, no qual a vida humana é depauperada a ponto de se tornar irreconhecível – se é que ela permanece possível. O outro aponta para um tipo de mundo que sempre figurou nos sonhos mais elevados: um mundo justo cuja riqueza e os recursos naturais sejam compartilhados por todos e onde a igualdade e a liberdade sejam premissas, não aspirações.
O feminismo liberal é predatório e
atende apenas aos interesses do capitalismo e a um mínimo percentual (1%) de
mulheres da classe dominante (brancas). Questionar essa concepção de feminismo
para poucas, é questionar toda estrutura política vigente que militariza a
vida, encarcera e mata.
As autoras Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser (Arte Andreia Freire / Divulgação) Fonte: Revista Cult
O feminismo liberal é para homens e
mulheres da classe dominante e contra essa hegemonia, em 2016, na Polônia, mais
de 100 mil mulheres organizaram paralizações e marchas em pela legalização do
aborto. Esse movimento girou o globo e na Argentina, mulheres grevistas protestaram,
com o grito combativo ‘Ni Uma Menos’
contra o caso de feminicídio de Lucía Pérez, de 16 anos, que foi drogada,
estuprada e assassinada na cidade de Mar del. O Três envolvidos no caso foram
absolvidos e julgados apenas por “porte
de entorpecentes para fins de comercialização”.
Essa nova onda feminista de grevista se
espalha por vários países, dentre eles Itália, Espanha, Turquia, Peru, EUA,
México, Chile; e em 2018 um novo movimento do 8 de março ressurge, politizando
novamente a data “Dia internacional da Mulher”.
Isso, no entanto, não é tudo: esse movimento emergente inventou novas formas de greve e impregnou o modelo da greve em si com um novo tipo de política. Ao conjugar a paralisação do trabalho com marchas, manifestações, fechamento de pequenos comércios, bloqueios e boicotes, o movimento está renovando o repertório de ações de greve, amplo no passado, mas drasticamente reduzido por uma ofensiva neoliberal de décadas de duração. Ao mesmo tempo, essa nova onda democratiza as greves e expande sua abrangência – acima de tudo, por ampliar a própria ideia do que é considerado “trabalho”. Recusando-se a limitar essa categoria ao trabalho assalariado, o ativismo das mulheres grevistas também bate em retirada do trabalho doméstico, do sexo e dos sorrisos. Ao tornar visível o papel indispensável desempenhado pelo trabalho determinado pelo gênero e não remunerado na sociedade capitalista, esse ativismo chama atenção para atividades das quais o capital se beneficia, mas pelas quais não paga. E, no que diz respeito a trabalho remunerado, as grevistas adotam uma visão abrangente sobre o que é considerado questão trabalhista. Longe de se concentrar apenas em salários e jornadas, elas também têm como alvo o assédio e a agressão sexual, as barreiras à justiça reprodutiva e a repressão ao direito de greve.
O ressurgimento desse feminismo
combativo abre precedentes para uma nova luta de classes, as feministas
grevistas recuperam as raízes das mulheres da classe trabalhadora do século XX.
Essa intervenção é oportuna. A militância das mulheres grevistas irrompeu em um momento em que sindicatos anteriormente poderosos, baseados na produção fabril, foram bastante enfraquecidos. Para revitalizar a luta de classes, as ativistas se voltaram para outra arena: a agressão neoliberal ao sistema de saúde, à educação, às pensões e à habitação. Ao atingir essa outra ponta das quatro décadas de ataque do capital contra as condições de vida da classe trabalhadora e da classe média, elas exercitaram suas visões sobre trabalhos e serviços que são necessários para sustentar seres humanos e comunidades sociais. É aqui, na esfera da “reprodução social”, que hoje encontramos muitas das mais combativas greves e resistências.
O feminismo liberal prove a ascensão de
um pequeno grupo de mulheres privilegiadas do mundo corporativo com base na
meritocracia. Esse grupo de mulheres beneficiadas por esse tipo de feminismo
são, de forma feral, aquelas que já possuem consideráveis vantagens sociais,
culturais e econômicas, desse modo, as outras mulheres continuam sendo
exploradas e vendo em condições de restrições socioeconômicas, ficando inviável
a liberdade e empoderamento dessas mulheres.
O éthos do feminismo liberal encontra-se não apenas com as convenções corporativas, mas também com as correntes supostamente “transgressoras” da cultura neoliberal. Seu caso de amor com o avanço individual permeia igualmente o mundo das celebridades das mídias sociais, que também confunde feminismo com ascensão de mulheres enquanto indivíduos. Nesse mundo, o “feminismo” corre o risco de se tornar uma hashtag do momento e um veículo de autopromoção, menos aplicado a libertar a maioria do que a promover a minoria.
Feminismo para os 99%, como um nome diz,
é um manifesto que busca compreender e mostrar os enfretamentos que nascem na
atual crise global. Esse feminismo que traz em suas veias a ancestralidade das
mulheres da classe trabalhadora, é grevista e não se alia às minorias (classe
dirigente) que exploram as maiorias, não se limita as mulheres porque sua força
libertária é para todas e todos os explorados e oprimidos pelo capital. Seu enfretamento
visa uma nova sociedade e quer mudanças profundas e duradouras com educação gratuita
e de qualidade, moradia, saúde pública e de qualidade, justiça ambiental, fim
da militarização dos corpos, etc. “O
feminismo para os 99% não é apenas antineoliberal, mas também anticapitalista.”
Nossa, preciso ler esse livro pra ontem! Amei a dica, realmente precisamos discutir o feminismo, é absurdo pensar que existe um "movimento dentro do movimento" que só atende uma pequena parte das pessoas que já tem um certo privilégio. Amei os quotes que foram selecionados, tô indo agora comprar o meu! Simplesmente fantástico!
ResponderExcluirOi, tudo bem? Nossa, adorei a resenha. Eu sou apaixonada pelos título da Boitempo, mas ainda não pude comprar nenhum :( Esse, com certeza, me lembrou os livros da Angela Davis, em que ela diz a mesma coisa: que o capitalismo tem que acabar para que o machismo (e o racismo) também acabe(m). Eu amo demais ler coisas sobre o feminismo, é um tema que me interessa muito e, com certeza, quero ler este. Vai pra minha lista infindável de livros para ler, rs. Obrigada pela dica, amei a resenha!
ResponderExcluirLove, Nina.
www.ninaeuma.blogspot.com
Olá, adorei a resenha e livro, acredito ser uma ótima leitura para obter mais conhecimento sobre o assunto e se informar mais a respeito das coisas que o envolve.
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirestava precisando de leituras novas sobre feminismo e como temos sido levada por falsos movimentos que apenas alimentam o poder de classes favorecidas pelo capitalismo.
Vou me presentear e sair da alienação social.
Beijos
Olá!
ResponderExcluirComo assim ainda não tinha conhecimento dessa belezura!, adorei sua resenha, confesso que livros do gênero não são muito minha praia, mas preciso inovar e já salvei sua dica, espero gostar e poder compartilhar sua indicação.
Olá!
ResponderExcluirAdorei sua resenha! O feminino anda bastante distorcido e acredito que livros assim são uma ótima ferramenta para esclarecer o real objetivo da causa.
Dica anotada!
Olá!
ResponderExcluirEu não conhecia esse livro e sem dúvidas é algo diferente e que precisamos abordar nessa realidade na qual vivemos. Gostei de conhecer e já vou seguir seu blog para mais dicas como essa <3
Beijos,
Blog PS Amo Leitura
Eu nunca ouvi falar desse livro, mas é interessante em consequências da atualidade. Além de ser uma leitura válida, ajuda e muito em outros aspectos tanto acadêmicos quanto visão pessoal. Adorei! @yelloobowXluneta
ResponderExcluirOi, que interessante o manifesto, é super necessário pensar nessa questão de para que serve o feminismo liberal, quais as consequências dele e também a questão da relação com a opressão capitalista.
ResponderExcluirOiieee
ResponderExcluirGostei de conhecer esses dois tipos tão diferentes de feminismo, realmente se faz necessario que a gente se aprofunde e entenda mais do movimento, achei a leitura bacana, super válida. É bem fora da minha zona de conforto e isso me anima bastante, porque acho que pode me surpreender e me fazer refletir muito.
Beijos, Alice
www.derepentenoultimolivro.com
Olá!
ResponderExcluirEu acho que o feminismo é um tema muito importante e precisa ser debatido. Foi ótimo saber sobre este outro tipo de feminismo, acredito que seja uma leitura enriquecedora em muitos aspectos.
Beijos,
Blog Diversamente
Adorei a proposta do livro e fiquei interessada na leitura, ver sua opinião sobre a obra aguçou a minha curiosidade, com certeza é um ótimo livro.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirUma coisa que sei que sempre vou encontrar aqui são essas dicas de livros com temas mais sérios e necessários. É uma beleza ver uma indicação de algo tão pra gente, pra lermos, refletirmos e colocar em prática na nossa vida. Tenho certeza que é uma leitura enriquecedora!
Olá!
ResponderExcluirFaz tempo que venho querendo ler livros sobre o feminimo, e esse parece retratar bastente a atualidade em que vivemos. Vou levar em consideração essa dica de leitura, pois quero muito aprender e me conscientizar sobre esse assunto tão pertinente.
Beijos,
Eli - Leitura Entre Amigas