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25 contos de Machado de Assis





“Ler os clássicos não é um dever, é um direito.
É uma parcela do Patrimônio da Humanidade. ”
(Ana Maria Machado).


Nascido em 21 de junho de 1839, este ano, Machado de Assis comemoramos seus 180 anos e desde a publicação de seus primeiros contos, em 1870, já se passaram mais de cento e cinquenta anos e sua obra continua atual e necessária. Publicado recentemente pelo Grupo Editorial Autêntica, 25 contos de Machado de Assis, segundo Nádia Battella Gotlib, responsável pela seleção e organização dos contos:

(...) se os detalhes são construídos tendo por modelo a cidade e os habitantes do Rio de Janeiro do século XIX, ou os pequenos povoados da província, os comportamentos, posturas, conflitos, emoções, paixões, egoísmos e outros vícios são os nossos de cada dia: os da nossa sociedade, que ainda carrega a carga do patriarcado, do machismo, do escravismo disfarçado e da desigualdade entre gêneros

Alguns dos contos selecionados já são conhecidos por parte dos leitores, como A cartomante e a Missa do galo, outros, menos, como Curta história e O caso da vara, e isso confere ao leitor um olhar mais ampliado para além do autor romancista, bem como a maneira como o autor traz para seus contos uma participação proeminente de grupos marginalizados que não têm sua importância destacada em seus romances.



A exemplo disso, em O caso da Vara, conto publicado originalmente em 1891, Damião foge do Seminário que João Carneiro, seu padrinho, o levou, e pede a ajuda de Sinhá Rita, uma viúva. O rapaz simpatiza com Lucrécia, escrava da casa de Sinhá Rita, que não consegue finalizar uma de suas tarefas e acaba sendo acusada de vadiagem, como castigo, Lucrécia apanhará com uma vara. Damião, que prometera apadrinhar Lucrécia, é incumbido de entregar a vara a viúva.   

Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa e ameaçou-a: Lucrécia, olha a vara!

Os mecanismos de opressão presentes no conto, determinam a vida de João Carneiro e Lucrécia, ambos aprisionados pelo desejo senhorial e paternalista. Apesar de livre, Damião é dependente do pai e de Sinhá Rita e Lucrécia é escrava. E pelo símbolo da vara, os laços de dependência são selados e fortificados entre gerações. Outro ponto destacado por Machado neste conto é o trabalho infantil, afinal, Lucrécia é uma criança (11 anos).

O reflexo da escravidão e dos mecanismos de opressão ainda são presentes no Brasil, apesar da ligação na história entre João Carneiro e Lucrécia, o futuro de João, por ser branco e rico, é tornar-se o opressor, assim como a madrinha e o pai, fortalecendo o sistema patriarcal, racista e escravocrata. Enquanto Lucrécia, “uma negrinha magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda”, que tem no corpo marcas de violência, não tem quem a defenda, quem a apadrinhe. A casa de sinhá Rita, cuidado do jovem branco da dureza do pai e agredindo uma criança negra é o retrato do Brasil.

Não é possível tratar aqui de todos os contos ou trazer mais detalhes dada a riqueza cultural e social detalhada por Machado, entretanto, é notório que 25 contos de Machado de Assis, é um soco no estômago de nosso atual processo político.

5 comentários:

  1. Tenho aprendido muito sobre Machado De Assis, acho a forma de escrita dele fascinante, adorei saber sobre os contos!

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  2. Que demais!!! Estou apaixonada por essa edição.
    No momento estou lendo uns contos de terror dele, no livro Medo Imortal da Darkside e estou amando

    Sai da Minha Lente

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  3. Que bom saber da publicação da coletânea de contos. Recentemente li A cartomante, e quero ler mais contos do autor. Gostei de conhecer esse que destacou no post.

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  4. Olá, tudo bem? Eu só li um conto do autor até o momento, que foi "Missa do galo", para a escola, e como achei bem interessante, pretendo ler outros. Achei essa edição bem interessante. Ótima dica!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  5. Que edição mais linda! Este livro deve ser uma excelente leitura, li poucas coisas do Machado depois do período da escola, mas gosto muito dos escritos dele. Não conhecia a edição ainda e já quero

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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