não temos uma linguagem para os finais
Não temos uma linguagem para os
finais,
para a perda do amor,
para os concentrados labirintos da
agonia,
para o escândalo amordaçado
dos desmoronamentos irreversíveis.
Como dizer a quem nos abandona
ou a quem abandonamos
que juntar outra ausência à ausência
é afogar todos os nomes
e erguer um muro
em redor de cada imagem?
Como fazer sinais a quem morre,
quando todos os gestos já secaram,
as distâncias se confundem num caos
imprevisto,
as proximidades ruem como pássaros
doentes
e o caule da dor
se quebra como o pedal
de um tear desalinhado?
Ou como falar cada um a si próprio
quando nada, quando já ninguém fala,
quando as estrelas e os rostos são
secreções neutras
de um mundo que perdeu
a memória de ser mundo?
Talvez uma linguagem para os finais
exija o total abandono das outras
linguagens,
a imperturbável síntese
das terras devastadas.
Ou talvez criar uma fala de
interstícios,
que reúna os mínimos espaços
intercalados entre o silêncio e a
palavra
e as ignotas partículas sem desejo
que só ali promulgam
a equivalência última
entre o abandono e o encontro.
(Roberto Juarroz
in A Árvore Derrubada Pelos Frutos)
Olá, obrigada pela oportunidade de ler essas palavras, realmente não temos uma linguagem para os finais no mundo em que vivemos atualmente.
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirRealmente quando algo acaba e vem a separação inevitável não existe palavras para expressar o que sentimos ou pensamos para o outro. É como se o momento descartasse a necessidade de palavras que acabam sendo insignificantes.
Beijos
Como alguém que cursou Letras e teve maior contato com a linguagem através do curso, posso dizer que tenho um afeto pelas palavras e pela linguagem em si; linguagem essa que muda em todos os aspectos e momentos da nossa vida e que nunca permanece igual, imutável. É difícil falar sobre o fim, mas achei belíssima a maneira que o poeta o dissecou.
ResponderExcluirwww.sonhandoatravesdepalavras.com.br
Realmente é difícil nos expressar, pensamos que isso seria mais fácil com o tempo, mas nem sempre é. Adorei as palavras
ResponderExcluirSai da Minha Lente