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Muriel Rukeyser nasce ativista e morre poeta na América acometida pela estupidez

Muriel Rukeyser  by Benjamin Voigt 



Muriel Rukeyser nasceu em 1913, em Nova York nos EUA, faleceu em 12 de fevereiro de 1980. Poeta da geração de 30/40, sua obra caiu no esquecimento como de outros de sua época. Em vida, dedicou-se ao ativismo político, jornalismo e literatura. Em 1935 publicou o livro Theory of Flight que recebe o importante prêmio Yale Younger Poets Series.

Presa em 1970 por ser contra a guerra do Veatinã e perseguida pelo FBI, Muriel Rukeyser também fez grande diferença como jornalista cobrindo o triste episódio de "Scotsboro case", 1931, em que nove homens negros foram acusados e condenados sem provas de estuprar duas mulheres brancas em Alabama, EUA. O caso, por sua vez, contava com provas de ser uma acusação por vingança, ódio de racismo vinda de homens brancos da região. Em 1936, Muriel estava na Espanha, durante a guerra, e denuncia a morte mais de 700 trabalhadores intoxicados por pó de sílica. A triste experiência resulta do seu famoso poema "The Book of the Dead".



Em vida, a militância e a poesia não se separaram de Muriel. Suas experiências, neste caso, contribuíram para textos complexos, e considerado por alguns estudiosos até intraduzíveis. Entre suas publicações, estão: Wake Island (1942), Beast in View (1944),  The Green Wave (1948), Body of Waking (1958), The Outer Banks (1967), The Speed of Darkness (1968). Também publicou um volume de ensaios ‘The Life of Poetry’ (1942), o romance Savage Coast e uma biografia do cientista Willard Gibbs (1839–1903) no período da II Guerra.



Em seu poema Rito, ela afirma: ‘A América é acometida pela estupidez’, infelizmente, as palavras de Rukeyser são um retrato ainda atual de uma América adoecida pelo Fascismo.

RITO

Meu pai lamentou; minha mãe chorou.
Entre as montanhas do Oeste
Um cervo ergueu sua garganta dourada.

Eles rasgam em pedaços o que mataram
Enquanto duas sombrias irmãs riam e cantavam. —
Os leões escondidos trombeteiam até

Que os caçadores atirem e destruam-nos todos.
E nas salas dos sombrios apartamentos
De cada cidade do país

Um pai lamenta; uma mãe chora;
Uma menina, à puberdade, chegou;
Eles guincham isso, esse é o crime

O encontro dos poderes.
Sob este primeiro sinal de sua próxima vida
A América é acometida pela estupidez.

O fio cortante de sua faca de pedra!
O primeiro sangue vertido por uma mulher!
A palavra sagrada: Erga Seus Mortos.

Mães irão chorar; deixe que os pais lamentem,
Foi exibida a bandeira do infinito.
E você jamais ficará só.

A VIDA DO POETA

Palavras? Sim, feitas de ar,
e no ar dissolvidas.
Dê a mim seu dom, para que eu me perca em palavras,
deixe que eu me torne ar em lábios vivos,
um sopro a perambular sem barreiras,
aroma de um instante espalhado no ar.

E ainda assim a luz em si mesma se perdeu.




A RAPIDEZ DA ESCURIDÃO / THE SPEED OF DARKNESS

                             I

Quem quer que deteste o clitóris detesta o pênis
Quem quer que deteste o pênis detesta a buceta
Quem quer que deteste a buceta detesta a vida da criança

Música de ressurreição,          silêncio,        e marulho.


                             II

Deixando de falar
Ouvindo com o corpo todo
E com cada gota de sangue
Ultrapassada pelo silêncio

Mas este mesmo silêncio tornou-se fala
Com a rapidez da escuridão.

                             IV

Quando se dissipa a névoa
quando dissipam-se as chuvas pesadas
o céu aparece claro
e os gritos da cidade erguida em dia
eu me lembro que os prédios são espaço
murado para permitir à vida o uso do espaço
atento que é espaço este quarto
este copo é espaço
cuja fronteira de vidro
deixa-me dar a você de beber e espaço para beber
sua mão, minha mão sendo espaço
contendo céus e constelações
seu rosto
carrega as extensões do ar
eu sei que sou espaço
minhas palavras são ar

                               VI

Eu olho adiante o real
vulnerável      envolvido     nu
devotado ao presente de tudo que me importa
o mundo de sua história culminando neste momento.


                               IX

O tempo o adentra.
Fale.            Fale.
O universo é feito de histórias,
não de átomos.


                                X
Deitada
incandescente a meu lado
você empina-se linda para cima –
seu rosto pensante –
corpo erótico alcançando
em todas as suas cores e luzes –
seu rosto erótico
colorido e iluminado –
não colorido corpo-e-rosto
mas agora completo,
cores      luzes          o mundo pensa e alcança.


Fonte:
Revista Modo de Usar
periodicos.ufsm

7 comentários:

  1. Ao ler Rito deu pra identificar muitas coisas que ainda estão presentes, né? Dá uma agonia, porque foi escrito há anos atrás e se faz presente.. Não conhecia a história dela e fiquei super feliz com sua publicação <3 Mais uma mulher para admirar =)

    Sai da Minha Lente

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  2. Olá, amei poder saber um pouco sobre Muriel, era um nome até então desconhecido para mim. Gostei de poder ler alguns de seus textos.

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  3. Oiieee

    Quanta mulher maravilhosa já existiu e tenho descoberto através deste blog também aliás, muito obrigada. Adorei conhecer a Muriel, saber sua história, sua militância e a verdade em suas palavras que se cumprem na América atual até o dia de hoje.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  4. Não conhecia ela, e adorei saber mais sobre sua história. Fiquei afim de ler seus textos, que parecem ser muito impactantes.
    beijos

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  5. Adorei seu esse seu artigo, realmente é um dos melhores blog que estou visitando. Suas postagens são excelente! Parabéns!

    Beijos 💋..

    Meu Blog: Loterias e Sorteios

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  6. Que post mais interessante! Gostei muito do que vi aqui hoje e adorei saber um pouco sobre ela, que até então eu ainda não conhecia.

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  7. Ola, tudo bem??

    Confesso que não conhecia a poetiza, mas a sua história é bem intensa e singular. Adorei os exemplos dos poemas que citou na postagem e me aguçou a curiosidade para conhecê-la mais!

    beijos

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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