O infinito mar de Sophia de Mello
A singularidade poética de Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta
portuguesa, é se ancorar em todas os meandros da imaginação, isso significa que
para além da palavra, pelo verbo, ela materializa, concretiza a paisagem. O
livro Carol e outros poemas, seleção
e apresentação do também poeta Eucanaã
Ferraz, Companhia das Letras, é
a segunda coletânea de poemas da autora, sendo a primeira, Poemas escolhidos, publicada em 2004 por mesma editora, seleção de Vilma Arêas.
“A
poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen está entre nós, concreta e viva. É
uma voz, vem de uma natureza – um corpo – que nunca se repete. Nela
reencontramos o sentido mais profundo do que seja um idioma, compreendido como
fluxo, fundado cada vez que se fala; mas também reconstituímos em nós uma
expressão comum, ou seja, anônima, na qual o particular e o coletivo se
reconhecem num tecido sem fissuras.” (Eucanaã Ferraz)
A antologia é composta de símbolos quer
seja na imagem do mar e da praia, espiritualidade ou pelo engajamento político
presente no livro De Poesia (1944) publicado em plena II
Guerra Mundial. E apesar da crueza dos tempos, a morte anunciada pelo horror da
guerra não é capaz de destruir sonhos ou a esperança.
Apesar
das ruínas e da morte
Onde
sempre acabou cada ilusão,
A
força dos meus sonhos é tão forte,
Que
de tudo renasce a exaltação
E
nunca as minhas mãos ficam vazias.
Na complexa relação do homem com a
natureza, em que o homem capitalista tenta subjuga-la, Sophia, no livro De dia
do Mar, estabelece uma relação do Eu com o Divino. “As ondas quebravam uma a uma/ Eu estava só com a areia e com a espuma/
Do mar que cantava só para mim”, na mitologia, as espumas do mar remetem o
elo com Deus, a comunicação. A natureza, portanto, é a única conexão com o
divino, uma oração para manter o homem alerta dos perigos dos desejos egóicos.
O
dia
Passa o dia contigo
Não deixes que te desviem
Um poema emerge tão jovem tão antigo
Que nem sabes desde quando em ti
vivia.
O divino de tão enraizado é quase
inacessível a consciência humana. A plenitude neste caso é não permitir que o
que acontece em volta modifique a essência do Eu, “Orai e vigiai”. Assim segue a poesia de Sophia, imensa, profunda, sempre
a explorar tal qual como o mar.
Há muito para dizer sobre o livro Carol e
outros poemas, mas eu não quero, eu não posso. Há alguns meses recebi da
Companhia das Letras o exemplar para resenha, entretanto, encontrei nessas
páginas outras páginas mais profundas e pessoais. Fiquei muda, presa em mim, sem
conflitos com externo e sem a necessidade de externalizar ideias. Não é,
entretanto, um vazio existencial, é um silencio para o que está fora. O externo
está em mim, mas me dou ao privilégio da autopoiese.
Que ótima dica de leitura, adorei. Eu gosto muito de poesias, ver uma obra como essa é impossível que eu não me interesse.
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirEu ainda não conhecia esse livro e nem a autora, mas parece ser uma leitura intensa, reflexiva e tocante. Confesso que não tenho o hábito de ler poesia e, sinceramente, não me sinto preparada para ler uma leitura como essa.
Adorei conhecer o livro e percebi que ele mexeu muito com você. Não é uma leitura que eu faria, pelo menos não nesse momento, mas acredito que seja uma ótima dica para quem gosta de poesia.
Beijos!
Olá!
ResponderExcluirApesar de não ter o costume de ler poesias eu adorei esta resenha, e este livro parece ser mesmo maravilho! Com poemas intensos e reflexivos. Adorei!
Não sei se meu comentário anterior entrou, mas vamos lá rs
ResponderExcluirOi tudo bem?
UAU pelo que pude ver, se trata de uma leitura bem intensa e reflexiva, não é mesmo?
Deu pra sentir que vc realmente ficou presa na leitura =)
Dica mais que anotada, preciso ler mais desse gênero.
Beijos
Sai da Minha Lente
Olá,
ResponderExcluirQue interessante essa mistura de homem, natureza e mitologia, não entendo tanto de poesias mas gostei dos trechos que você escolheu, creio que passam bem a idade que a autora quis.
Debyh
Eu Insisto
Sinceramente, nao conhecia a autora e só pelas impressões já é possivel ver como ela é maravilhosa. Venho procurando ler mais poesias, principalmente de autoras mulheres, sua dica veio em boa hora.
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Não conhecia o livro de antologias, e como agora estou me aventurando mais no universo de poesias, fiquei com curiosidade. Gosto dessa relação de um livro que talvez a gente não espere muita coisa, mas quando vai ver ele toca mais profundo do que se imagina. Adorei!
ResponderExcluirBeijos,
http://diariasleituras.blogspot.com.br