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lei sálica / inês dias


Abe Frajndlich. Imogen Cunningham. 1975





As mulheres da família sempre
tiveram um jeito quase póstumo
de existir: guardar o lume
em silêncio, comer depois de
servir os outros, morrer primeiro.

Saíam à hora de ponta do destino
para lerem os caminhos perdidos
e colecionavam a abdicação
em caixinhas de folha, entre bilhetes
caducados ou dentes de infâncias alheias.

Esperavam a vida toda por uma vida
próxima, de alma presa a alfinetes
no vestido preferido para o enterro,
os passos medidos nas suas varandas
a dar para o fim do mundo.

Retomo-lhes às vezes os gestos
neste meu exílio inventado,
mas acaba aqui: vou encher de corpo
a sombra, mesmo que nem tempo
me reste já para a pesar.


Inês Dias é uma poeta e tradutora portuguesa. Estreou com Em Caso de Tempestade Este Jardim Será Encerrado (tea for one, 2011), seguido de In Situ (Língua Morta, 2012) e, em 2013, Um raio ardente e paredes frias (Averno). É editora da Averno e da revista telhados de Vidro. (Fonte: Revista modo de usar)

18 comentários:

  1. Olá!! :)

    Eu confesso que nunca tinha lido este poema. Ainda que não costume ler poesia, gostei de ler esta composição.

    Não conhecia a autora nem o seu trabalho como tradutora. Mas de certeza que foi contributivo para essa escolha rígida e determinada de palavras.

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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    1. Oi. A Inês Dias carrega muita força em suas palavras. Adoro ler as poesias dela. Essa poesia traz uma ruptura com algo que não é saudável entre as mulheres da vida dela.

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  2. Olá!

    Eu não costumo ler poemas, confesso que tenho uma certa dificuldade de entendimento, não consigo me sentir sensibilizada como a maioria das pessoas sabe? De toda forma esse me lembrou as mulheres de antigamente, presas a ideia de que eram criadas para servir! Ainda bem que mudamos viu? ♥

    Com Carinho,
    Ana | Blog Entre Páginas
    www.entrepaginas.com.br

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  3. Olá, tudo bem? Caramba, que poema mais interessante e profundo! Eu adoro ler poemas, mas ainda não conhecia esta poeta. Sem dúvidas irei procurar mais coisas dela.

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  4. Oi! Gosto bastante de poemas! Não conhecia esse, mas gostei. Sempre acho interessante a profundidade que as palavras conseguem alcançar, os sentimentos que conseguem trazer a tona em algumas linhas. Espero ver outros poemas por aqui!

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    1. Oi. Que bom que gostou, sempre verá poemas por aqui, afinal, somos o Poesia na alma hehehehehehehe. Concordo com você sobre a profundidade alcançada na poesia

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  5. Oi, tudo bem? Não conhecia a poeta nem a literatura dela. Fiquei com vontade de ler mais :) Adoro poemas e este, com certeza, é bem concreto, do jeito que eu gosto. Vou procurar os livros da Inês, com certeza. Adorei as últimas estrofes: "vou encher de corpo a sombra, mesmo que nem tempo me reste já para a pesar". Pensando bem, é um poema bem antigo e atual ao mesmo tempo, né?

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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    1. Eu também amei o final e concordo com você é 'antigo' e atual, afinal, estamos sempre a romper. ^^

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  6. Quanta intensidade em palavras tão simples. Eu não conhecia a Inês, mas fiquei com muita vontade de conhecer outros poemas dela. Esse poema retrata anos e mais anos de sofrimento e mesmo sendo tão antigo ele ainda é a realidade de muitas famílias, em pleno século XXI ainda se vê mulheres vivendo como o poema descreve.

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  7. Olá! Eu e poemas temos uma relação complicada, pois sempre tenho que ler mais de uma vez pra entender, já que eles não seguem uma lógica comum, como a prosa. Acredito que por isso eu não costumo curtir muito. Pude perceber que é algo bem intenso em relação a sentimentos, mas não me liguei muito. Imagino que, para quem aprecia, poemas da autora sejam um "prato cheio".
    Abraços

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  8. Olá, eu não conhecia a autora e agora tô super surpresa, que força em seus poemas, que coisa mais sensacional! Obrigada por esses posts que sempre trazem o novo. Eu amo demais poesia, então foi uma grande descoberta pra mim, sem contar que essa foto é uma fofura né.

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  9. Oi Lilian, sua linda, tudo bem?
    Quantas mulheres do passado e do presente não vivem dessa forma? Como mera sombra, em função de uma família, de um marido, de filhos, e nunca em função dela. Até as lembranças guardadas não são dela. Nossa! E esse final? Encher de corpo a sombra mesmo que não reste tempo, significando uma resolução, mudanças. Amei! Traga mais textos dela.
    beijinhos.
    cila.

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  10. Olá, tudo bem? Acredito que muitas mulheres ainda vivem como sombras e, criam as filhas para viverem assim, dizendo para elas que precisam cuidar da casa, do marido e ter filhos para serem felizes e cumprirem a sua função na vida, que não tem nada melhor do que isso.

    Falo isso por experiencia própria porque, quanto eu quis entrar na faculdade minha mãe não gostou muito da ideia e preferia que eu arrumasse um marido e tivesse filhos. Mas, hoje eu tenho um bom emprego e uma família também.

    Não leio poesias com frequência mas, essa me deixou curiosa para conhecer outros poesias que falam sobre as mulheres.

    Beijos e Abraços Vivi
    Resenhas da Viviane

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  11. Olá,
    Que poema mais triste e real ao mesmo tempo. Essa obrigação que de certa forma a sociedade impõe e ao mesmo tempo destrói os sonhos de muitas mulheres é algo que sempre me deixa muito pensativa e triste.

    Debyh
    Eu Insisto

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  12. Olá, tudo bem Lilian?

    Confesso que não conhecia esse poema, achei bem forte, triste e ao mesmo real, pois retrata a situação de muitas mulheres, passado e presente. Parabéns por compartilhar conosco!
    Abraço!

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  13. Oii, tudo bem?

    Achei esse poema bem profundo. É muito triste ler essas palavras e pensar em como elas não se aplicam só ao passado, muitas mulheres atualmente ainda vivem essa realidade.
    Eu não conhecia a autora, mas vou pesquisar mais sobre ela e seus poemas.
    Obrigada por compartilhar!
    Beijinhos!!

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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