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Alteridade nos contos de Chimamanda





Numa mescla de escrita experimental e convencional, Chimamanda Ngozi Adichie se utiliza do inconsciente coletivo para ecoar a noção de alteridade e a possibilidade do confronto nos doze contos que compõe No Seu Pescoço, tradução de Julia Romeu, 233 páginas, publicado pela Companhia das Letras.



Percebe-se que por meio dos personagens um cenário social é tecido e temas como racismo, conflitos religiosos, imigração e relações familiares são explorados dentro desse cenário construindo uma ponte de empatia com o outro. A exemplo disso, no conto Fantasmas, um idoso viúvo vê uma nação padecer pelas mazelas de uma guerra perdida, lutando por oportunidades e para manter a identidade

“Eu me pergunto o que teria acontecido se tivéssemos ganhado a guerra em 1967. Talvez não estivéssemos indo procurar essas oportunidades no exterior, e eu não teria que me preocupar com nosso neto que não fala igbo, que não entendeu por que esperavam que ele dissesse “Boa tarde” para estranhos, pois em seu mundo, é preciso justificar as pequenas cortesias. ”

Já no conto Uma Experiência Privada, Ngozi apresenta ao leitor como duas personagens distintas pela cultura e religião, lutam para sobreviver a um conflito religioso nas ruas de Kano quando muçulmanos hausas atacam cristãos igbos com machados. Trancadas numa loja abandonada, Chika, não muçulmana, e uma mulher hausa muçulmana se tornam cúmplices

“Mais tarde, Chika lerá no The Guardian que “os muçulmanos reacionários do norte, falantes da língua hausa, têm um histórico de violência contra não muçulmanos” e, em meio à sua dor, irá parar para lembrar que examinou os mamilos e viveu a experiência de conhecer a gentileza de uma mulher que é hausa e muçulmana. ”



O outro, aparentemente estranho a nós, traz uma conexão conosco e a alteridade se relaciona nesse contexto por um ato de fertilidade diante das casualidades cotidianas. A exemplo disso está Chika que vivência a angustia desencadeada pela violência e intolerância religiosa dos povos hausas muçulmanos, mesmo assim, a experiência fértil da gentileza ‘de uma mulher que é hausa e muçulmana’ traz novas dimensões de coexistências dos aspectos vivenciados.

Tanto o exemplo de Chika como tantos outros no decorrer dos doze contos, faz com que essa realidade perpasse fronteiras e chegue a nós brasileiros, latinos, ocidentais porque ela é coletiva e porque todos afetam e são afetados, somos uma teia capazes de produzir transformações. Nesse sentido, No Seu Pescoço consolida a autora pelo seu êxito em manter a qualidade literária em casamento harmonioso com a militância.

19 comentários:

  1. Espero que consiga ler. Depois me disse de sua percepção do conto Uma experiência privada ☺☺☺

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  2. Olá, tudo bem? Ainda não tive a oportunidade de ler nada da Chimamanda, porém tenho bastante curiosidade, já que vejo os leitores falarem super bem. Não conhecia este livro ainda, mas fiquei bem curiosa para ler os doze contos. Adorei a resenha!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  3. eu amo muito ela! Já li Hibisco Roxo, Americana, Sejamos todos feministas e como educar crianças feministas, eu amo muito ela, acho ela super empoderada e acho super importante termos pessoas assim na nossa sociedade.

    Esse ainda não conhecia, mas com certeza vou amar também, valeu a dica!

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  4. Estou com esse livro na minha meta de leitura para esse ano. Faz tempo que não leio contos (acho que já até cheguei a comentar por aqui, que não leio o gênero com frequência) e quero muito ler este livro lindo. Só os trechos que vc selecionou já me deixou animada. <3

    Sai da Minha Lente

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  5. Que bom ler um post seu sobre um livro que também já li! Todos esses contos foram muito marcantes para mim, ampliaram meus horizontes (até fiz um vídeo sobre ele no meu canal). Acho que é em Fantasmas mesmo que fala-se de uma tradição de jogar terra, eu acho, num fantasma, para que ele se vá.

    http://petalasdeliberdade.blogspot.com

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    1. Fico feliz que tenha apreciado, esse livro traz contos impactantes e o conceito de alteridade está profundamente desenvolvido. 'Uma Experiência Privada' ainda ecoa em minhas células. Vou assistir ao seu vídeo ^^

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  6. Oiii

    Eu nunca li nada da autora mas acho interesante demais os temas que ela aborda em seus textos,especialmente no que se concerne aos conflitos religiosos. No Brasil isso não é uma realidade, mas em outras regiões a escalada da violência por questões religiosas é algo assustador (vide Síria que tinha uma comunidade cristã linda em Maaloula que foi praticamente dizimada em poucas horas).
    Gostei da dica, já queria ter conhecido a escrita da autora e com esse com certeza pretendo testar.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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    1. No Brasil conflito religioso não é uma realidade? Desculpe, não compreendi. No caso, o que acontece com as religiões de Matriz Africana no Brasil? Ou você quis dizer que não acontece como em outros países?

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  7. Esse livro está na minha lista de compras desde o seu lançamento, é uma obra que eu tenho certeza que vou gostar muito da leitura. Eu gostei de ver um pouco mais sobre o livro aqui e de ver você falando sobre os contos.

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    1. Quando você lê, me diz o que achou e qual conto, se houver, te impactou mais. ^^

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  8. Olá, tudo bem?

    Eu não conhecia o livro "No seu pescoço". Conflito ou intolerância religiosa existe em qualquer lugar. Talvez a Alice quis dizer que não há conflitos violentos no Brasil em se tratando de religião e realmente não há, não vejo notícias de Católico matando Umbandista, de Protestante degolando Católico, há conflitos sim no campo dos debates e até mesmo conflitos por falta de debates. Fiquei interessado por haver contos no livro.
    Abraço!

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    1. Então, recentemente uma menina de oito anos foi apedrejada por ser da umbanda e outros casos de terceiros incendiados,pai de santo que é agredido, etc. Mas ainda não chegamos ao nível de degolar e tal. Acho que ela pode ter dito nesse sentido. Mas, somente ela pode afirmar o real sentido das palavras que utilizou neste caso. Vamos esperar para ver se ela se o pronuncia ou seguiremos na dúvida ^^ hahahahaha

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  9. Eu fico feliz demais em ver como Chimamanda vem sendo cada vez mais reconhecida na literatura, seu modo de ver o mundo e sua escrita são incriveis demais para ficarem escondidos. Ainda não li No seu pescoço, estou aguardando uma promoção, mas já sei que vou adorar.

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  10. Olá, tudo bem? Eu ainda não tive oportunidade de ler nenhum dos contos da Chimamanda mas, tenho muita vontade de lê-los, porque eu sei a importância do conteúdo que ela escreve. Estou feliz em perceber que uma autora negra e estrangeira tem conseguido tanto sucesso com o seu trabalho no Brasil, um país com tanto preconceito. Espero conseguir uma boa promoção na BF para comprar todos os livros da autora.


    Beijos e Abraços VIVI
    Resenhas da Viviane

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  11. Olá,
    Não sabia que este livro abrangia tantos tipos de narrativas, creio que isso enriquece a leitura. Todo conflito de preconceito e religião quando bem abordado traz todo um novo conhecimento.

    Debyh
    Eu Insisto

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  12. Olá, tudo bem? Infelizmente ainda não tive oportunidade de ler nada da autora, mas sempre que vejo elogios, vejo os comentários positivos e o tema central das suas mensagens, mais me interesso. Sua postagem me abriu olhos para algo que ainda não tinha visto tanta gente falar, e isso é ótimo. Adorei e com certeza dica anotada <3
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com.br

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  13. Oi!
    Da Chimamanda li apenas um conto e gostei da forma como ela mesclou a literatura com a militância. Tenho muita curiosidade em ler outros livros dela e gostei de saber que No seu pescoço apenas consolida a autora nesse sentido.
    Acho que ela trabalha temas de suma importância e que precisa ter muita coragem para escrever como ela faz.
    Claro que vou anotar a dica.
    Beijos

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  14. Olá,

    Por serem livros com histórias reais e dolorosas, fico evitando ler algo da autora, no entanto é inevitável, sei que lerei em algum momento do futuro, pois sei que ela tem um talento incrível e abordar assuntos de suma importância e que precisam ser mais explorados.

    Beijos,
    oculoselivrosblog.blogspot.com.br/

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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