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Um canto de lamento na poesia de Gwendolyn Elizabeth Brooks




Gwendolyn Brooks, primeira mulher negra norte americana a receber Prêmio Pulitzer com a coletânea Annie Allen (1949), nasceu em 7 de junho de 1917 em Topeka, Kansas, nos Estados Unidos. Entretanto viveu a quase toda a vida na cidade de Chicago. Aos 13 anos, ela publicou seu primeiro poema numa revista infantil e aos 16, publicou cerca de 75 poemas. No ano de 1945, publicou seu primeiro livro de poesias, A Street in Bronzeville (Uma Rua em Bronzeville).  Morreu em 3 de dezembro de 2000 e deixou para o mundo muito mais que poesia, palavras de cura.

A MÃE

Os abortos não te deixarão esquecer.
Você se lembra das crianças que teve e que não conseguiu ter,
As pequenas polpas, úmidas, com pouco cabelo ou nenhum,
Cantores e trabalhadores que jamais sentiram a brisa comum.
Você jamais vai bater ou abandoná-las
Ou silenciá-las comprando balas
Você jamais vai vê-las deixar de chupar o dedão
Ou fugir dos fantasmas que virão.
Você jamais vai se afastar, para controlar seu suspiro de prazer,
E delas fazer lanchinho, com olhos de mãe com vontade de morder.

Ouço nas vozes do vento as vozes de minhas vagas crianças mortas.  
De que tenho contrações. Eu aliviei
Minhas queridas indefinidas nos seios que jamais puderam mamar.
Tenho dito, doçuras, que, se pequei, se lhes troquei
A sorte pelo azar  
E lhes tomei a vida de uma chegada bem-vinda,
Se lhes roubei seus nomes e seus nascimentos
Suas brincadeiras, lágrimas e lamentos
Seus amores, amáveis ou forçados, seus tumultos, casamentos, dores, e suas mortes,
Se envenenei seus primeiros fôlegos, os mais fortes,
Acreditem que até meu ato mais proposital não foi de propósito.
Mas por que meu lamento só cresceu?
Cresceu pra que eu afirme que esse crime não foi meu?
Seja como for, cada um é uma vida extinta
Ou em vez disso, ou ainda,
Nenhum de vocês jamais foi feito.
Mas disso também suspeito,
É imperfeito: ah, o que devo dizer, como se deve dizer a verdade sucinta?
Vocês nasceram, vocês tiveram corpo, vocês morreram.

Só que vocês nunca sorriram, ou sonharam ou sofreram.
Acreditem em mim, eu amei vocês todas.
Acreditem em mim, eu conheci vocês, ainda que vagamente, e eu amei, amei vocês
Todas.


(tradução de Lauro Maia Amorim)

2 comentários:

  1. Oi, tudo bem? Acho que foi bem recentemente que descobri que a Brooks foi a primeira mulher negra dos EUA a ganhar esse prêmio, mas nunca tinha ido atrás de qualquer parte da literatura dela. Só por ela escrever poemas já sinto que quero muito conhecer suas obras, especialmente esta! Nossa, esse poema... Queria que todas e todos o lessem, quem sabe, com um pouco de poesia, as pessoas entendam que o aborto nunca foi sobre mulheres sádicas. E, eplo fato de ela ser negra, é ainda mais incrível que ela o tenha escrito! Achei sensacional e muito pertinente! Muito obrigada por me fazer ler algo dela! <3

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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  2. Oi Lilian, sua linda, tudo bem?
    Eu fico emocionada quando vejo histórias como a dela. E ao mesmo tempo, fico triste porque preciso ficar impressionada que uma mulher e negra conseguiu uma conquista, quando isso deveria ser algo normal, alguém ser reconhecido por seu talento. Achei bem forte o texto dela.
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com/

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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