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Resenha – A Complexa e sutil Conversas entre amigos, de Sally Rooney




Conversas entre amigos, de Sally Rooney, Editora Alfaguara, é aquele livro despretensioso que em poucas páginas te cativa de tal forma que o final deixa saudade. Com uma linguagem sensível, fluída e direta, a autora traz a temática juventude sem deixar de se aprofundar na complexidade desse período da vida. Frances e Bobbi são amigas e ex-namoradas, estão na casa dos vinte anos e viverão as experiências da juventude, que nos introduzem no mundo adulto rumo ao amadurecimento.

Amigas desde a escola, Frances e Bobbi tiveram um relacionamento amoroso que não deu certo, mesmo assim, permaneceram unidas e fiel uma a outra. Elas se apresentam em Dublin recitando poemas escritos por Frances. Foi num desses recitais que conheceram Melissa, importante fotógrafa e jornalista de 37 anos, que no mesmo dia, apresenta as meninas o seu marido Nick e as introduz num fascinante e diferente mundo adulto, com relações de poder, amizade, paixão e descobertas. Enquanto Bobbi flerta com Melissa, Frances entra de cabeça numa relação extraconjugal com Nick.


Pequenas lágrimas começaram a escapar dos meus olhos e a cair no travesseiro. Eu não estava triste, não sabia por que estava chorando. Eu já tive esse problema antes, com a Bobbi, que acreditava ser uma expressão de meus sentimentos reprimidos.

É nesse compilado de vivências extraordinárias e fortes que a construção da personalidade de Frances e Bobbi vai tecendo uma teia complexa que reverbera na amizade das duas, no corpo, ideias, emoções, relações sociais e familiares, produção artística. E se por um lado o mundo adulto força ao amadurecimento de forma rígida e imediata, as lembranças da adolescência podem causar certo acalento.

Ela pôs uma fotografia de nós duas de uniforme da escola, sentadas na quadra de basquete. Estávamos de saia longa xadrez e sapatos feios com furinhos, mas estávamos rindo. Olhamos juntas para a foto, nossos dois rostinhos nos perscrutando como se fôssemos ancestrais, ou talvez nossas próprias filhas.

E no processo de transição a vulnerabilidade e dependência se tornam evidentes subordinando essa ‘conversa de amigos’ a se tornar simbiótica e por vezes, pautada na relação de poder nos relacionamentos. Entretanto, como o livro está situado no atual momento da história, a junção de duas gerações distintas – jovens e adultos – coloca em pauta o lugar da mulher e o conceito de heteronormatividade.

Tinha mentido para todo mundo, para Melissa, até mesmo para Bobbi, só para ficar com Nick. Não me restava ninguém para fazer confidências, ninguém que fosse sentir qualquer empatia pelo que eu tinha feito. E no final das contas, ele estava apaixonado por outra. Fechei os olhos com força e apertei a cabeça contra o travesseiro. (...) Ele não me ama e isso me magoa.


Sally Rooney cria um ambiente transicional e caótico, dramático pela complexidade dos relacionamentos, da resistência, das mudanças de comportamentos e é justamente a experiência desse caos que culmina na tão esperado equilíbrio e maturidade. Mas, como a vida é cíclica, até que se possa adentrar de cabeça em outra polaridade.  

9 comentários:

  1. Olá! Confesso que eu não me interessei pelo livro por saber desses relacionamentos extraconjugais. Não me sinto por em ler histórias em que há traição.
    Mas sua resenha ficou muito boa.
    Abraços

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  2. Olá!
    Já vi algumas criticas bem positivas para esse livro, mas essa é a primeira resenha que leio.
    Tua resenha foi muito bem escrita, o que nos deixa com o "gostinho" de quero mais, apesar de não gostar muito desse tipo de relacionamento envolvendo traições, leria o livro sim.
    Vou anotar a dica.
    Beijo

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  3. Vendo a sinopse do livro eu acho que não seria um tipo de leitura que me atrairia, mas lendo a sua resenha eu fiquei curiosa para poder ver um pouco mais e acredito que daria uma chance á leitura se tivesse a oportunidade.

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  4. Eu nao dava nada por esse livro, a julgar pela capa, acredita? Vi um pessoal do instagram recebendo e nao esperei muita coisa, mas que bom que me enganei completamente e essa é uma obra que transforma o leitor.

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    1. Não minto que também julguei pela capa e ainda bem que foi uma ótima leitura.

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  5. É... Então...
    Eu evoluí um pouco, tenho que lidar com todo o tipo de situações, mas livros que saem demais da minha visão de mundo, que fogem aos meus valores e daquilo que eu tenho como moral, ainda são complexos pra mim.
    E eu entendo que todo livro que lida com a realidade, deve seguir a linha crível, portanto, deve ter elementos agradáveis e nem tão agradáveis, porque a realidade é isso.
    No entanto eu leria, para ter uma visão mais ampla sobre ele e para saber o que o livro poderia me dizer.
    Grata pela sugestão!

    Eliziane Dias

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  6. Olá, tudo bem? Eu não conhecia esse livro ainda e apesar da não gostar de histórias sobre casos extra-conjugais ou triangulo amoroso, eu fiquei interessada em saber como vai acontecer o desenvolvimento dessa história e também o final dessas duas amigas..rs!

    Beijos e Abraços Vivi
    Resenhas da Viviane

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  7. Olá, boa tarde!
    Eu cheguei ao livro porque primeiro assistir a série. ok!
    Não me importo com quem pensa que primeiro devemos lê o livro. Aliás, não me importo com a opinião dos outros.
    Gostei demais da série e estou encantada pelo livro.
    Amei os assuntos abordados. Gosto de pensar diferente e essa possibilidade de amar
    duas pessoas ao mesmo tempo, é um assunto que daria várias noites de debates regadas a um bom vinho.
    Para mim, não é só porque vivemos numa sociedade monogâmica que essa possibilidade de amar duas pessoas, independente do sexo, seja impossível. Tudo vai depender da maneira que você for criado, e do valor dado as diversas possibilidade de expressar esse amor.

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  8. Amei a sua resenha, ainda estou lendo o livro e estou gostando muito, em certos pontos super me identifico com a Frances, ao contrário, da maioria não tenho nada contra ler romances que envolvem casos extraconjugais, pois embora a fidelidade seja um valor inegociável para mim, tenho uma visão aberta e sei que a realidade nem sempre condiz com o que projetamos na nossa mente.

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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