Resenha – O indigesto arroz com feijão das Hienas
“Matei, mas não
tive culpa.
Ela não me amava
mais.”
O perturbador Arroz, Feijão, Crimes e Farofa e/ou O Banquete Das Hienas, de Bia Onofre, Editora Giostri, se orienta
do ponto de vista do comum e do descartável. Os arroubos da instabilidade
emocional podem se manifestar no interior de uma cultura fragmentada e nas
profundezas de uma índole mansa há de se encontrar o afrontamento entre o refinado
e a barbárie.
“Matar é fácil. Difícil é se livrar do corpo.”
A banalização da vida sob o véu da
aparência, se por um lado matar é tão corriqueiro e natural quanto peidar, o
corpo cadavérico, símbolo de sujeira que transgride a elegância, causa
conflito. O mesmo pode-se dizer sobre o
conto Anjo Loiro, Felipe vive noites
de encontros amorosos fugazes com requintes de sensibilidade e crueldade,
entretanto, no dia seguinte, mostra-se um marido fraterno e atencioso, faz um
afago na mulher acamada com Esclerose Múltipla.
“Esvaziou os bolsos e colocou o guarda-chuva ao lado de cinco outros enfeites de copos. Caminhou até o escritório, ora um quarto de hospital improvisado. A esposa, na cadeira de rodas, se encontrava em posição incompreensível. Nada no lugar certo: pernas, braços e dedos contorcidos.”
O guarda-chuva, peça de abrigo e proteção,
usado por Felipe como elo entre duas vidas opostas, a do homem transgressor,
cruel e de muitas amantes e do marido bondoso e perfeito. Ele leva as amantes
para casa e prepara drinks elaborados e enfeitados com o guarda-chuva o mesmo
objeto que ele presenteia a mulher no dia seguinte. Além disso, o guarda-chuva
também liga o dia e a noite, o homem do dia é o fragmentado socialmente e
refinado o da noite é a catarse, da barbárie.
O guarda-chuva representa a âncora que o
mantem ligado à realidade da sua existência, protegendo suas emoções e o fortalecendo
para o dia seguinte. Esse é a rebento do homem Pós-industrial, que perde sua
identidade e precisa de um abrigo para se equilibrar entre a sanidade e a
loucura; entre o bem o mal. Byung-Chul Han, em seu livro Sociedade do Cansaço,
entende essa violência como resultado de excesso de positividade, estímulos “A violência não provém apenas da
negatividade, mas também da positividade, não apenas do outro ou do estranho,
mas também do igual” (p.15).
Em cada conto uma surpresa, um personagem
novo e disposto ou imposto a mudança sem sair das convenções sociais públicas. Já
no privado, vive-se o que se deseja e o que se é: “Mais uma trepada. Só mais uma. Não faria mal a ninguém. Precisava relaxar.
Amanhã teriam um dia intenso. A noiva, o noivo. Os convidados.”. Desse modo, Paulo Rogério, no conto Até que a morte os separe, expõe a
positividade do homem público e sua rigidez ‘Precisava relaxar’ e a impotência do privado que não deve ser
exposto “Agarrou o futuro cunhado pelos
ombros e o beijou esfomeado”.
Arroz,
Feijão, Crimes e Farofa e/ou O Banquete Das Hienas
é um livro de leitura rápida de contos e microcontos para causar indigestão,
dentre eles A Filha da Puta ganhador
do prêmio Concurso Nacional de Contos ‘Newton Sampaio’. Além disso, a autora publicou
Restos de Nós também premiado pela
Biblioteca Nacional. Bia Onofre é um nome da produção literária nacional que
não vamos esquecer...
Participe do projeto Não quero flores
#querolivrosescritospormulheres
poste fotos de livros escrito por mulheres
e use a hashtag
Oiie. Essa obra parece ser realmente daquelas que vem para impactar mostrando banalidade do mundo e das pessoas. Eu não gosto de contos, contudo não abro mão de uma leitura reflexiva. Achei genial a ideia dos contos.
ResponderExcluirBeijinhos.
Blog: fanficcao.wordpress.com
Olá!
ResponderExcluirEssa parece ser uma leitura bem impactante e por mais que eu adore leituras assim, não sei se leria esse livro. Mas ainda assim sua resenha ficou ótima!
Beijos
Olá
ResponderExcluirMe parece ser um livro bem forte, não sei se conseguiria ler justamente por ser pesado. Dessa vez eu passo a dica!
Beijos
Oi Lilian
ResponderExcluirNão conhecia este livro, mas fiquei bem curiosa
Eu adoro livros com títulos diferentes e este da Bia é bem diferente mesmo!
Gosto de ler contos também
Ja vai pra lista
Muito bom seu post
Bjs
Oi Lili, eu sou muito de julgar pela capa, esta não é bonita, mas é curiosa, chamativa, estas fontes vermelhas, que remetem ao sangue... Mas se o livro não me ganhou pela capa, o mesmo não se aplica a sinopse e principalmente a resenha. Eu gosto destas leituras que embrulham o estômago, gosto de personagens que em uma situação são uma coisa e em outras, totalmente o oposto.
ResponderExcluirDica anotadíssima.
Bjos
Vivi
http://duaslivreiras.blogspot.com.br/
Olá!! :)
ResponderExcluirEu confesso que nunca tinha ouvido falar deste livro, mas ainda bem que gostaste de fazer a leitura! :)
Devo dizer que a capa não chamou muito a minha atenção, e que não sou grande leitor de contos... Mas, realmente, a autora já e bem conhecida na literatura nacional!
Boas leituras!! ;)
no-conforto-dos-livros.webnode.com
Ja ouvi falar muito sobre a autora, mas nunca li suas obras. Esse livro parece ser bem interessante, adorei sua resenha e você escreve muito bem. Tbm adorei o projeto sobre livros escritos por mulheres. Sucesso!
ResponderExcluirOiee... Não conhecia o título e a princípio me perguntei do que se tratava,
ResponderExcluirsua resenha foi tão esclarecedora que despertou em mim a vontade de ler este livro por completo... e o farei em breve.
Bjoo
Olá,
ResponderExcluirNão conhecia esse livro ainda e confesso que não fiquei curiosa para fazer essa leitura, pois não consegui simpatizar com a questão dos contos, mas é bem bacana que o livro seja rápido e que tenha te agradado. Vou repassar essa dica para uma amiga, pois acho que ela vai curtir.
Beijos
Oiiii
ResponderExcluirNunca havia visto nenhuma resenha sobre o livro, achei a proposta até interessante, mas contos e micro contos realmente não são meu estilo de leitura favorito, então de momento acho que vou deixar a dica passar. Mas foi bom saber que é uma leitura que envolve pois realmente alguns contos parecem ser fortes e não deixam o leitor indiferente.
Beijos
www.derepentenoultimolivro.com
ResponderExcluirAdorei este livro. Provoca boas reflexões. É sempre bom encontrar livros inteligentes com surpresas em suas histórias.
Você leu, né?!
ExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirNão sabia da existência desse livro porque ainda não vi nenhuma resenha pela blogosfera, mas achei bem interessante a premissa do livro, só que infelizmente não é o tipo de leitura que procuro no momento. Dessa vez passarei a dica.
Bjs
Blog Tell Me a Book
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu gostei muito da sua resenha, você trouxe os dessabores dos textos e colocou os pontos críticos, porém, vou ser chata e honesta ao mesmo tempo. Tu faz um trabalho muito bom, mas a introdução deixou a desejar. Eu não sabia direito do que se tratava e, como não tem uma sinopse dizendo nada, acabou que fui jogada dentro do teu texto. E, embora eu tenha entendido muito o que tu disse, olhando os comentários, parece que a galera não foi junto da tua linha de raciocínio porque você mudou rápido demais de uma para a outra.
É um conselho de uma pessoa insuportavelmente chata, cê pode ignorar, mas acho bacana você tentar ir com mais calma no texto e trazer mais a reflexão para chegar no ponto que quer. Acho. Mas não sei. Você que sabe. ♥
Bom, fico feliz que tenha entendido. Que bom. Se leu a resenha até o final, realmente dá para entender do que se trata a obra, é um livro de contos. No mais, minha intenção não é colonizar leitor determinando o que ele deve ou não ler, é apresentar uma resenha crítica, sem excesso de adjetivação e não mediocrizar um texto a mera autoajuda. Inclusive, eu, como leitora, muito chata que sou, não suporto a tal 'reflexão' que beira a banalização da literatura enquanto arte. Sobre críticas, adoro, quando realmente tem algo útil a se dizer. A autora escreveu uma obra de arte, eu seria no mínimo estúpida em reduzir isso a 'reflexão', como se literatura tivesse alguma obrigação reflexiva.
ExcluirSigamos...
Oi, lilian.
ResponderExcluiré a Maria Conceição , lá do tumblr, tive que vir comentar nessa resenha aqui depois que vi a divulgação por lá, infelizmente, perdi a senha de minha conta no google por pouco usar essa rede social, por isso aparece como anônimo. SOU EU, NADA ANÔNIMA.
Querida, que resenha é essa? pra mim esse livro foi ótimo para o projeto "ler livros escritos por mulheres', a gente rompe com o esteriótipo de que a mulher ou faz 'literatura mulherzinha' (odeio esse termo), hot fuleiro de banca ou então estagna em fluxo da consciência, parece um ciclo tendencioso e terrível quando se pensa na produção da mulher na literatura. Eu quero livros escritos por mulheres, mas que essas mulheres tenham autonímia em seus textos, por isso gostei dessa indicação e vou ler.
Fiz esse mesmo comentário na fanpage.
kkkkkk relaxa, eu sei que você é você, também vi seu comentário no tumblr e no facebook. Valeu pela interação.
ExcluirGostei de conhecer e saber mais sobre o livro, gostei de sua resenha, eu particularmente gosto muito de contos, mas o tema do livro não me agrada, gosto mais de romances bem românticos. Então eu passo a dica. Bjs
ResponderExcluirAté agora não consigo me acostumar com este título, que é no mínimo inusitado. Mas independente disso, os temas dos contos e crônicas apresentados são bem interessantes.
ResponderExcluirBjs, Rose
Esse título é de derrubar forninho, mas te digo, você ia gostar do livro, mas leia devagar.... hahahahahahah
ExcluirOlá, eu gosto muito de contos e tinha visto esse livro lá no seu Instagram, parece ser uma ótima leitura pelo seu post, com contos bem provocativos. Dica de leitura anotada.
ResponderExcluirOie
ResponderExcluirnossa, eu não conhecia a obra mas muito bom saber pois eu adoro livros de contos para alternar nas leituras e se um dos contos ganhou premio, imagino que o livro seja excelente no geral, adorei a resenha
beijos
http://www.prismaliterario.com.br/
mlr, desde que tu me falou desse livro fiquei super a fim de fazer a leitura... a capa tá perfeita, nada daquelas apapagaiada que vejo em mtas publicações e me fazem correr pra longe delas, adoro contos e pelos trechos selecionados, certamente é algo que vai me fazer imergir nas páginas do livro...
ResponderExcluirdica anotada... <3
Oi Lilian, como está?
ResponderExcluirNossa, onde foi que eu andei que não sabia da existência desse livro?!
ADOREI a proposta dele e o jeito que tu descreveu os contos deu uma ideia do que esperar deles, que pelo jeito são muito tensos e relatam situações cotidanas e arrepiantes.
Abraços e beijos da Lady Trotsky...
http://www.galaxiadeideias.com/
http://osvampirosportenhos.blogspot.com
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu ainda não conhecia esse livro, mas achei o nome muito criativo e chamativo. No entanto, não é muito meu estilo de leitura. Não sou muito fã de contos e a premissa desses não despertou minha curiosidade.
No entanto, adorei sua resenha e fico feliz que você tenha gostado da leitura e se surpreendido em todos os contos.
Beijos!
Eu acredito que teria problemas com essa leitura, apesar de que com certeza ela traz várias reflexões interessantes através de seus contos. Mas normalmente alguns dos assuntos que são abordados nessa obra, que eu conheci através do seu post, acabam afetando bastante o meu emocional, e não de uma maneira agradável. Porém, pelo que li, a autora fez um ótimo trabalho e com certeza é uma ótima escolha para vários leitores.
ResponderExcluirBeijos
Mari
Pequenos Retalhos
Olá,
ResponderExcluirEu li um livro com um tema bem parecido com este (e nossa que título enorme hein? rs) e todo o questionamento do valor da vida como tema principal é algo que sempre me da vontade de ler (aliás caso queira ler o livro é Gog Magog da Patricia Melo). Muito bom também serem contos, creio que mesmo sendo algo curto há possibilidade de transmitir a mensagem.
Debyh
Eu Insisto
Oi Lilian,
ResponderExcluiro título desse livro me assusta hahahahah, apesar de ter gostado muito do seu texto, ele não sanou completamente as minhas dúvidas sobre os contos. Tenho uma amiga que esta lendo o mesmo, e com certeza vai adorar.
Beijokas
Para sanar suas dúvidas, você pode ler o livro 😉😉😉
Excluir