Resenha - Na contramão do que está fora com Leonardo Padura
O herege – palavra de origem grega ‘hairesis’ que significa ‘escolher’, mais tarde, pela igreja,
passa a ter um novo significado “o que
está fora da Igreja” – para além do senso comum e da visão
marginalizada, é um corajoso disposto a causar estranhamento num grupo a ponto
de promover mudanças. ‘É preciso ter
valor para ser herege’, segundo Leonardo
Padura, autor do livro HEREGES,
503 páginas, Boitempo Editorial.
(...) chegavam com a ratificação de uma condenação à morte já anunciada, Daniel Kaminsky, chafurdando nas brumas de sua dor, tomou a drástica decisão de, por vontade própria e do fundo do seu coração, a partir desse instante renegar sua condição de judeu.
HEREGES é
um romance de caráter histórico e policial, com três protagonistas: Daniel,
Elias e Judith que têm em comum o quadro Rembrandt e a necessidade de
liberdade. A história do Saint Louis em 1939 e o envolvimento de Cuba é ponto
de partida. Daniel Kaminsky, judeu de apenas oito anos, está em Cuba aos cuidados
do tio e espera sua família – pai, mãe e irmã – refugiados do Holocausto que
virá no navio Saint Louis. Sua família era portadora de um quadro de Rembrandt
desde o século XVII que poderia garantir a estadia em Cuba.
A proposta é que o navio aportasse em
Havana e depositasse “sua carga humana de
937 judeus alvoroçados por sua boa sorte”. Assim como a Europa, Cuba havia
sido tomada por campanhas nazistas contra os Judeus.
O mais doloroso, contudo, foi ver como a gente comum, sempre tão aberta, muitas vezes repetia o que lhe inculcavam: os Judeus são sujos, criminosos, trapaceiros, avarentos, comunistas, diziam. (...) Era evidente, como depois chegaria a entender, que a propaganda e o dinheiro nazistas haviam atingindo seu objetivo, com a colaboração – por ele prevista – do governo dos Estados Unidos e sua política de cotas de imigrantes.
Após dias, atracado em Havana, o Saint
Louis fora rejeitado por Cuba, Estados Unidos e Canadá, e Daniel, apenas com
oito anos, viu sua família partir naquele navio direto para morte. “Também aprendeu, para sempre, que o processo
de manipular as massas e trazer à baila os seus piores instintos é mais fácil
de explora do que se costuma pensar”. Resultando num dos mais vergonhosos e
desumanos atos políticos do século XX.
Daniel neste momento renega sua condição
de Judeu e decide viver integralmente a cultura e rotina de Cuba ao passo que o
Rembrandt desaparece. E então o já conhecido Conde, personagem de outros livros
do autor, agora ex-policial, contratado pelo filho de Daniel anos depois, também
participa dessa trama.
A segunda parte do livro, Elias, traz a
história de Elias Ambrosius, no
século XVII, discípulo de Rembrandt, emprestou seu rosto para
pintura do quadro de famoso quadro Jesus de Nazaré e é condenado por heresia. A
terceira parte do livro traz o desaparecimento de Judith Torres, uma jovem ‘emo’
de dezoito anos e mais uma vez a presença de Conde se faz necessária fazendo um
pingue pongue entre romance histórico e romance policial.
O último capítulo do livro, Gênesis, o
autor sustenta a relação dos três personagens centrais pelo prisma da liberdade
e heresia. Durante a narrativa, outros personagens vão também dando vida ao
conceito de liberdade, de romper com o imposto que engessa e propõe repensar o
sentido da vida.
O Herege não é aquele que está fora, é
aquele que está dentro. Daniel não deixa de ser judeu visto que essa também é
uma questão de memória celular, mas ele rompe com o dogma, ele deixa de ser um
dogma, o mesmo se pode pensar de Elias Ambrosius e Juduth é a representação do juvenil
e melancólico, como se fosse o resultado de uma história que não deve mais se
repetir, que grita por progresso “Os emos
eram netos de um avassalador cansaço histórico”. Também pode ser vista como
a finitude de um conflito existencial de gerações. Conde seria o elo entre
todos esses personagens e esses conflitos e Elias, filho de Daniel, a
necessidade da verdade, para que se deixe de lado a angústia e possa gozar da
liberdade.
Se um país ou um sistema não permite escolher onde se quer estar e viver, é porque fracassou. A fidelidade por obrigação é um fracasso
A necessidade histórica e humana da
heresia mesclada ao mistério policial faz com que mais de quinhentas páginas
possam ser lidas rapidamente, onde o único crime é o de não ser livre e o
enigma, repensar valores para o coletivo. Poderia descrever de várias formas
viscerais a força dessa leitura, entretanto, deixo aqui as palavras de Eric
Nepomuceno “Fica, então, uma advertência:
ler este livro até o fim pode mudar sua maneira de ver a vida e mundo. Para melhor,
é claro.”
Parece ser um bom livro, deu vontade de ler. Gosto de livros que além de contar uma história também ensinam alguma coisa...
ResponderExcluirOlá...
ResponderExcluirNão conhecia o livro, mas fiquei completamente encantada ao terminar de ler a resenha. Adoro livros ricos em conteúdo e esse com certeza é um deles. Fiquei com a curiosidade ainda mais aguçada ao ler a frase do Eric Nepomuceno, ao final...Com certeza, dica anotada.
Parabéns pela resenha!
Oi Lilian, me pareceu uma leitura bem complexa, mas enriquecedora, a época do holocausto não me atrai tanto por eu saber que foi real. Mas tua resenha me deixou curiosa em relação ao livro, se um dia a oportunidade surgir, com certeza eu leio.
ResponderExcluirBjos
Vivi
http://duaslivreiras.blogspot.com.br/
Eu não conhecia o livro, nem o autor. Pela sua resenha, com certeza deve ser um livro excelente. É maravilhoso quando um livro nos acrescenta algo bom.
ResponderExcluirDica anotada!
Olá!
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar sobre a obra, nem o autor, mas parece ser um livro interessante para aqueles que são o seu público alvo, ou seja, para os que se interessam pela parte filosófica da história, em que tudo é muito reflexivo. Apesar de gostar, esse tipo de leitura não me atrai muito, por isso passo a dica, mas muito boa a sua resenha.
Abraços
Oi.
ResponderExcluirEu não conhecia a obra. E confesso que caí em uma zona de conforto literária nos últimos tempos. Ando lendo somente livros mais leves, voltados somente ao entretenimento. Mas estou buscando voltar a ler livros mais reflexivos, o que parece ser o caso desse.
Adorei a resenha e pretendo ler em breve.
Beijos.
Olá! Essa obra parece ser interessante, o melhor de tudo é saber que é de autores nacionais. Sinceramente não conhecia e vou dar uma chance para essa obra.
ResponderExcluirOlá, Rafael, você é Cubano? Assim, Leonardo Padura é cubano.
ExcluirOiii
ResponderExcluirNossa, como assim não conhecia o livro, gostei da premissa, adoro mistérios que carregam esse ar mais reflexivo, que convidam o leitor à mudar um pouco seus conceitos ou pensar em temas variados, que saem da mesmice. Dica ótima.
Beijos
www.derepentenoultimolivro.com
Impressionante! Pela sua resenha, parece ser um ótimo livro. E a escolha narrativa de trazer personagens em tempos diferentes também é muito interessante. O tema da liberdade sempre me fascina.
ResponderExcluirOi, tudo bem? Fiquei bem curiosa com o livro. Nunca ouvi falar dele, mas a temática, que mistura ficção com historicidade me atrai muito. Realmente, ele parece extenso, mas não fiquei com medo, não haha. Vou procurar, com certeza :) Adorei a resenha, muito bem escrita e delineada!
ResponderExcluirLove, Nina.
www.ninaeuma.blogspot.com
Não conhecia o livro e, mesmo tendo achado a história interessante, não é o tipo de leitura que me encha os olhos. Acho que o fato dele ser um livro totalmente diferente dos que leio (e aí entra em questão o fato de que não gosto muito de sair da minha zona de conforto)pesou bastante e creio que não leria.
ResponderExcluirQue bom que gostou e que as quinhentas páginas passaram praticamente voando. desejo que venham mais leituras assim.
Beijos
Olá
ResponderExcluirMeu esposo já leu esse livro e me indicou, não tenho muita curiosidade de lê-lo, mas para quem gosta do gênero é uma ótima pedida. Hoje eu passo a dica.
Beijos
Achei interessante a história, parece ter uma pegada mais filosófica também, um quê de histórico e policial e de reflexão. Sairia do que eu costumo ler, mas esse tipo de leitura é muito necessária.
ResponderExcluirBjs
Lucy - Por essas páginas
Uau, que história interessante! Eu não conhecia essa obra, mas fiquei curiosa para conferir. Ainda mais por conter tantos acontecimentos históricos e mesclar com o gênero policial. Também gostei do enredo focar em três personagens, parece ser uma história bem envolvente. Amei a sua resenha e irei anotar a sua dica, bjss!
ResponderExcluirLili, desde que vi a série ambientada nas obras de Padura,fiquei super a fim de ler tais obras <3
ResponderExcluirque edição maravilhosa de linda... ele deve ter uma escrita vigorosa, percebe-se pela empolgação que avisto nas entrelinhas da resenha <3
se quiser me presentear com o livro, tô aceitando kkkkkkkkkkkkkkkkk
Não conhecia o livro,e fiquei muito interessada nele, até por envolver o nazismo no meio da história.
ResponderExcluirBjs Rose
Como sempre, você nos traz ótimas indicações. Eu não conhecia a obra e fiquei bem interessada em realizar a leitura. Obrigada pela dica!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirMesmo não gostando de fatos históricos misturados assim, eu curto a parte do mistério policial e de toda a questão de o "que ser" e levar a frente todo este questionamento.
E claro parece ser o livro certo para nos questionarmos sobre todas estas coisas que as pessoas sempre querem respostas.
Debyh
Eu Insisto
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu não conhecia o livro, parece ser uma leitura boa, já fiquei interessado pela premissa, outro fato positivo aos meus olhos é que curto fatos históricos nos enredos. Dica anotada!
Abraço!
Oi Lilian, como está?
ResponderExcluirADOREI a premissa desse livro! Romance policial misturando fatos históricos é algo que não se vê muito, razão pela qual eu gosto disso, pois acho muito diferenciado! Simplesmente essa proposta me laçou muito.
Abraços e beijos da Lady Trotsky...
http://www.galaxiadeideias.com/
http://osvampirosportenhos.blogspot.com