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Resenha – Canoas e Marolas

Collage by Raf Cruz



A coleção Plenos Pecados, Editora Objetiva, é composta de sete livros, cada um traz um pecado capital. Aqui no blog, já resenhamos A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro Canoas, sobre a Luxúria. Canoas e Marolas, de João Gilberto Noll, 105 páginas, retrata a Preguiça. A escolha de preguiça para leitura foi por pura identificação ao tema, até poderia me chamar Preguiça sem o ônus do rótulo. O livro traz de um homem que procura a filha, Marta, já adulta, grávida e estudante de medicina.

“Eu poderia voltar ali todas as noites, não estivesse naquela cidade para conhecer minha filha, mulher feita que nunca me vira antes. E que morava na ilha. Uma estudante de medicina. Filha de uma enfermeira com quem, parece, tive uns encontros logo depois que a conheci, internado num hospital, por atropelamento.”

Uma pequena ilha, um rio, uma pousada simples, um jovem do sono que se parece índio e talvez seja surdo, uma filha que não se sabe se é a filha ou a mãe, e um homem, João, que silencia, são os símbolos que compõe a obra.

“(...) no peito a suspeita de que podia ser ainda mais silencioso.”

Esses símbolos expressam a poemática que emerge o espectro da preguiça numa dança entorpecente com o leitor. Se João é silêncio nada mais justo que o jovem sono seja surdo, assim limitam-se ao não falar e o não ouvir. A lentidão e a indolência, característica da preguiça, é a aversão aos padrões e a dor, no entanto, essa dor encontra-se em estado de materialização pelo vazio de sua existência.

“Sou um herói sim e não vou morrer (...). Repito, já que minha alma é repetir: sei que não deveria falar, sei que deveria calar. Ué, queriam que eu ficasse à margem do rio cantando a grandeza sem par do verbo? Queriam que eu deixasse exposto o nervo do silêncio e ali encostasse para provar que dói o centro nervoso do silêncio, é isso? E falar não dói? Dizer responder revolver perquirir avançar recuar não dói? O que não dói para você eu acho é este estado meio anestesiado furtivo invisível em que me encontro nesse ponto da estrada, isso é que não dói para você. Pois não dói mesmo. Aqui a dor dói é de não doer entende?”

João, após o nascimento do neto, e o jovem do sono vagam num ônibus até chegarem a costa de mar grosso e um novo símbolo surge, um velho, quase surdo e quase cego, já nessa trajetória final, há três representações arquetípica do animus. O jovem, o adulto e o idoso. ‘Do pó vim e ao pó voltarei’, João vivencia todos os estágios da preguiça como uma dança sedutora e (i)mortal, pungente a necessidade humana, resgatando um elo perdido.


As poucas páginas de Canoas e Marolas não torna a leitura rápida, além de também ser uma excelente simbologia. Como dito anteriormente, o leitor dança com a preguiça durante o processo dialógico da leitura, no meu caso, tive a mais forte das ressecas literária. João Gilberto Noll tornou Canoas e Marolas orgânico e um pecado necessário.

11 comentários:

  1. Achei interessante a parte dos 7 pecados capitais, mesmo e sabendo de cor todos seria legal ler um livro com uma história de cada um deles. Gostei

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  2. Olá
    Gostei muito da sua resenha. O livro por si só não me chamaria nunca atenção, mas depois de ler o que você escreveu , quero muito ler.
    Toda essa simbologia e arquétipo que o autor usa, parece tornar a história ainda mais interessante. Anotei a dica.

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  3. Oioi!
    Se o livro é sobre a preguiça, definitivamente deveria trazer minha foto na capa! ahahahahaha
    Nunca tinha visto/lido nada sobre esses livros, mas fiquei super curiosa!
    E concordo com a Rosana: se eu tivesse apenas visto o livro por aí, não teria dado a mínima importância, mas sua resenha fez toda a diferença. Está super bem escrita e me ganhou. Quero ler! :)

    Beijos!

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  4. O que seria da humanidade se não fosse a preguiça? Viva a evolução com apoio da preguiça. Adoro quando podemos vivênciar o que é retrato.

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  5. Que bacana esse livro menina, ainda mais que aborda sobre os 7 pecados capitais, é fascinante e adoraria ler, parece ser uma ótima pedida.
    Bjs

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  6. Oie, tudo bom?
    Adorei a resenha! Achei bem bacana a idéia de escrever livros baseados nos sete pecados capitais! Fiquei com vontade de ler! Haha

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  7. Suspeito que essa seja a minha história, eu sim poderia me chamar preguiça.

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  8. Olá!
    Não conhecia esse livro, mas você como sempre trazendo de forma espetacular sobre suas experiências com as leituras. Claro que o tema dos 7 pecados capitais chama atenção, mas fiquei com vontade de conhecer mais de como o autor desenvolveu ao longo da trama todos eles.
    Vou anotar essa dica para ler.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  9. Olá!
    Não era preguiçosa, mas me tornei uma. rsrs Então, somos duas! Não conhecia a obra e pareceu muito interessante toda essa questão com um dos sete pecados capitais. Gostei da dica!
    Nizete
    Cia do Leitor

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  10. Olá, tudo bem?

    Adorei o tema sobre o livro, e não conhecia ele, mas a dica já foi anotada. Adorei a forma como se trata os sete pecados capitais, e pelo que vejo, é um livro instigante. Parabéns, adorei a resenha!

    Abraços.

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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