Header Ads

A guerra do Chaco – por Eduardo Galeano

A Pocket Guide to Birds / RPC / 2011 - by poema-colagem




1933
CAMPO JORDÁN
A GUERRA DO CHACO

Bolívia e Paraguai estão em guerra. Os dois povos mais pobres da América do Sul, os que não têm mar, os mais vencidos e despojados, se aniquilam mutuamente por um pedaço de mapa. Escondidas entre as dobras de ambas as bandeiras, a Standard Oil Company e a Royal Dutch Shell disputam o possível petróleo do Chaco.

Metidos na guerra, paraguaios e bolivianos estão obrigados a se odiar em nome de uma terra que não amam, que ninguém ama: o Chaco é um deserto cinzento, habitado por espinhos e serpentes, sem um pássaro cantor nem uma pegada de gente. Tudo tem sede neste mundo de espanto. As mariposas se apinham, desesperadas, sobre as poucas gotas de água. Os bolivianos vêm da geladeira ao forno: foram arrancados dos picos dos Andes e arrojados nestes matagais calcinados. Aqui morrem de bala, mas morrem mais de sede.

Nuvens de moscas e mosquitos perseguem os soldados, que agacham a cabeça e avançam trotando através do emaranhado, em marchas forçadas, contra as linhas inimigas. De um lado ou de outro, o povo descalço é boi de piranhas que paga os erros dos oficiais. Os escravos do patrão feudal e do padre rural morrem de uniforme, ao serviço da imperial avareza.

Fala um dos soldados bolivianos que marcha rumo à morte. Não diz nada sobre a glória, nada sobre a pátria. Diz, resfolegando:

Maldita a hora que nasci homem.


(Galeano, Eduardo, 1940 – Memória do fogo 3: O século do vento / Eduardo Galeano; tradução Eric Nepomuceno. – Porto Alegre – L&PM, 1998. p.378. pág. 137 e 138)

26 comentários:

  1. Nunca havia pensado nessa forma sobre esses conflitos. O texto é interessante e bem escrito. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Olá!
    Nossa que texto forte, guerra é algo que sempre mexe comigo, fico com dó pois os soldados sempre saem prejudicados, como diz no texto " terra que não amam", muito bem escrito.
    P.S: Ainda bem que eu no caso nasci mulher kaka.

    ResponderExcluir
  3. Ge-ni-al a resenha! Objetivíssima e despertou curiosidade, viu? Adorei... Ah, meu Deus! Mais um livro pra minha lista de compras! rsrsrs... E eu adoro livros assim! Você fecha o texto muito bem. Eu conheci rapidamente o Eduardo Galeano! Ele é um gênio! Gostaria de ter mantido contato e selado um amizade com ele.

    ResponderExcluir
  4. Cada vez mais eu me sinto atraída para ler algo de Galeano, não é a primeira vez que eu leio sobre ele aqui no seu blog e gosto muito do conteúdo que você traz sobre ele, sempre com uma excelente qualidade.

    ResponderExcluir
  5. Aí que triste!
    Me emocionei com este texto sobre conflitos de países, pois os menos favorecidos são os que mais sofrem. Tudo que envolve guerras e destruição me deixam arrasada.

    ResponderExcluir
  6. Que texto bacana!!!!!!
    Guerra é algo que me deixa um pouco aflita pela situação dos soldados, das famílias, dos países que estão em guerra.

    ResponderExcluir
  7. Uau! Que texto! Mostra realmente uma face da guerra que os livros de história não mostram! Muito interessante!
    Beijos
    Mari
    www.pequenosretalhos.com

    ResponderExcluir
  8. O Eduardo Galeano é um gênio! Tive a oportunidade de conhecê-lo uma vez... Lamentei não ter sedimentado um elo mais forte de amizade, pois o tempo era curto para tanto. No entanto, eis aí um gênio! Gostaria de ler esse... Tudo que leio dele é incrível! Esse título ainda não conheci. Super atual... Diante dos conflitos que vivemos no mundo. Na verdade, a guerra é um ciclo vicioso que parece não acabar nunca.

    ResponderExcluir
  9. Oie,
    O texto é muito baca e retrata a guerra vista de um outro ângulo. Homens morrendo e lutando por algo que nem mesmo eles entendem. Na linha de frente, em nome de seus oficiais e de sua pátria, por um lugar que ninguém realmente quer.
    Beijos
    Blog Relicário de Papel

    ResponderExcluir
  10. Olá!
    Que texto incrível!
    E apesar de estar tendo um primeiro contato com essa obra através do seu blog, certamente leria mais se tiver oportunidade.
    Gosto muito de mesclar as leituras e a gama de conhecimento que esse tipo de leitura nos proporciona sem dúvidas me atrai.
    Beijos!

    Camila de Moraes.

    ResponderExcluir
  11. Oii, tudo bem?
    Não curto muito textos, livros, etc que envolvam guerra, mas gostei bastante desse. Fala sobre a guerra de um outro ângulo, um que eu ainda não havia pensado. Apesar de conhecer pouco sobre o assunto, achei o texto bem informativo. Parabéns.

    ResponderExcluir
  12. Que texto incrível!
    É a primeira vez que tenho contato com um texto do autor, e espero que tenha mais textos do mesmo por aqui. Contextos de guerra sempre me deixam pensativo e conhecer mais sobre essa realidade aqui na América do Sul me deixou bem reflexivo e triste. Beijos do Wes ^^

    ResponderExcluir
  13. Olá! Ótima indicação, ainda não conhecia essa obra mas tem uma temática importante da história e interessante.
    Espero estar lendo em breve também, bjoooooo

    ResponderExcluir
  14. Oi
    Nossa que texto incrível .
    Você trouxe a perceptiva da guerra por um outra forma nunca tinha pensado pro este ângulo sobre a guerra amei vou sempre volta para ver seus textos

    ResponderExcluir
  15. Que texto bem escrito!
    Adorei a maneira como foi explorado esse conflito.

    Parabéns pelo blog.
    www.sobrecadamomento.com.br

    ResponderExcluir
  16. Que texto forte! Acho que até então nunca tinha parado para ver a guerra dessa maneira.
    Vou ver se encontro esse livro por aí, pois fiquei bem curiosa com os demais textos que se encontram nele.
    Beijo.

    ResponderExcluir
  17. Nossa, nao é comum escrever sobre esses angulos principalmente em meio a conflitos. Sua escrita é otima, parabens! Amei seu texto.

    Bjs

    ResponderExcluir
  18. Galeano é sempre algo dolorido. Começa como uma narrativa qualquer, e termina te fazendo pensar acerca de coisas sobre as quais não se quer cogitar.

    Forte.

    ResponderExcluir
  19. Bom não é a primeira vez que me emociono ao ler Galeano, ele está tomando conta de mim já diante de suas postagens, eu não sei como nunca havia conhecido ele antes,além de nos cativar, emocionar, nos faz pensar e repensar, fica aquela pulguinha atrás da orelha.
    Abraços

    ResponderExcluir
  20. Olá!
    Sempre nos apresentando textos forte e reflexivos. A guerra não é boa pra ninguém, em ambo os lados todos sofrem. Mesmo sendo uma terra de ninguém, uma terra mal amada, ainda assim é terra pra se morar e semeada. Gostaria que o mundo fosse mais de paz. A morte me assusta e os maus me mata.
    Abs
    Nizete
    Cia do Leitor

    ResponderExcluir
  21. Oii
    Achei muito intenso e forte! Guerras fazem isso, acabam com os homens!
    Bjus

    ResponderExcluir
  22. Nossa! Acho que a única coisa desse autor que já havia lido é uma frase que constava no meu uniforme do curso técnico que fiz rs.
    É muito forte "observar" as guerras pelos olhos de quem as (sobre)vive diretamente :/

    ResponderExcluir
  23. Oie
    muito bom o texto, prefeito para a reflexão de muitos, adorei o que vc colocou aqui e espero poder mostrar para vários amigos que assim como eu se interessam pelo assunto, parabéns

    beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  24. Oie tudo bom? Achei bem forte o texto, que nos deixa refletindo bastante. Não sei muito o que dizer sobre isso, guerras e suas cicatrizes são doloridas, machucam de várias maneiras.

    ResponderExcluir
  25. Olá,

    Nunca li nada do autor e confesso não conhecia a obra de onde esse trecho foi retirado, achei interresante o modo que o autor usou para expressar o que - acredito eu - estava vivenciando.

    ResponderExcluir

O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

Instagram: @poesianaalmabr