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Resenha - A Cor Púrpura




2016 está sendo um ano de leituras interessantes, mas estou me permitindo revisitar livros que há muito tinha lido e que senti necessidade de trazer minhas impressões em resenha... A cor púrpura foi a última dessas obras...

Escrito por Alice Walker, e recentemente publicado numa linda edição pela Editora Record, esse ganhador do Prêmio Pulitzer de 1985, foi escrito dois anos antes e traz em suas páginas a história da personagem Celie, que desde muito cedo aprendeu que o mundo pode ser bem hostil quando se nasce mulher, pobre e negra numa região ao sul dos Estados Unidos, num período de segregação racial...

Desde nova, Celie sofreu abusos por parte de seu pai e acabou tendo filhos desses abusos. Sua mãe acaba morrendo de desgosto por ver sua filha sendo mãe tão nova, mas logo seus filhos são apartados da jovem, e seus paradeiros são desconhecidos... Ela se vê forçada a casar com um viúvo, que já tem filhos e mais velho que ela, sendo separada da companhia de sua irmã Nettie. Sua vida se torna um pesadelo regado a surras e maus-tratos, mas Shug Avery aparece para minimizar a dor diária que Celie é submetida... Com a chegada dessa misteriosa mulher, as coisas parecem melhorar um pouco. Ainda assim, ela é constantemente torturada pelo destino, e passa a ditar cartas para Deus, numa tentativa de amenizar seus sofrimentos...



A autora coloca em pauta temáticas de abuso sexual, patriarcalismo, Relação de poder, gravidez precoce, pedofilia, violência doméstica, machismo, enfim... assuntos que se interligam e todos têm como ponte a submissão da mulher perante o homem na sociedade. Distinção de classes sociais, de cor e homossexualidade [embora esse último de maneira poética e sutil], também têm seu espaço nessa história comovente...

Em várias passagens é evidente o discurso de poder do homem quando a mulher resolve se fazer ouvir, pois sua função é de cuidar de filhos e ser dona de casa, não sendo permitida questionar, sendo punida quando desobedece às ordens de seus maridos. E achei notória a maneira como as personagens em dado momento passam a querer mudar a situação...

Há um momento em que a fé de Celie já não é mais suficiente para se fazer ouvir por Deus, e suas cartas são direcionadas a sua irmã Nettie, que após ter fugido de casa, passa a viver com um casal de missionários na África, junto com os filhos de sua irmã, que ela julga mortos. E Nettie escreve várias cartas a Celie ao longo dos anos, mas o marido da irmã sempre as esconde e Celie não sabe delas por um bom tempo, até que Shug e ela descobrem as correspondências num baú trancado de 'Sinhô' e ela descobre como anda sua irmã...

Em paralelo, há outros personagens [secundários] ricamente trabalhados na trama, que não deixa margem para que caiam em esquecimento. Eles se mesclam ao fio principal da história, compondo uma colcha de retalhos bem distribuída, e que não deixa o leitor perdido em 'quem é quem' na obra... Todos se encaixam perfeitamente, com suas dores, dificuldades e amores...

A narrativa tem uma escrita peculiar, alternando entre as irmãs e alguns outros personagens, em forma de cartas e com a ortografia 'caipira' de alguém que não é alfabetizado, no caso de Celie e Shug. Quando são as cartas de Nettie, a escrita é de alguém que frequentou a escola... Outro fator importante é sobre o questionamento da fé, a imagem do Deus cristão [com sua imagem semelhante ao europeu], uma leve crítica ao pensamento catequista nas comunidades africanas na época do imperialismo [a história se passa no entre guerras] e quanto a segregação sulista, em que uma senhora branca não pode sentar-se no banco de um carro ao lado de uma negra, por exemplo...

"Os meninos agora aceitam Olivia e Tashi na classe e outras mães estão mandando suas filhas para a escola. Os homens não gostam disso: quem vai querer uma esposa que sabe tudo que o marido sabe? Eles se enfurecem."

É impossível não se emocionar em alguns trechos, de se indignar em outros e principalmente identificar situações que até hoje acontecem, como se ainda estivéssemos vivendo com o pensamento aquém da atualidade, ainda regados de preconceitos, tanto com os negros quanto com as mulheres. É uma leitura forte, que por certo vai ecoar no pensamento de quem a ler, por vários dias, indo e retornando em momentos propícios à lembrança de suas páginas...

"Os anos vieram e se foram sem uma palavra sua. Só o céu acima das nossas cabeças é o que temos em comum. Eu olho muitas vezes para ele como se, de alguma maneira, refletida na sua imensidão, um dia eu me encontrarei olhando nos seus olhos. Os seus queridos, grandes, límpidos e lindos olhos."



12 comentários:

  1. Olá,

    Esse livro parece carregar uma boa carga de emoções e me interessei muito pela premissa. Espero poder em breve conferir essa obra e me emocionar também.

    Abraços
    colecoes-literarias.blogspot.com.br

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  2. Olá Valéria tudo bem, estou muito ansiosa para ler esse livro que está na minha lista. Eu vejo ao filme e ele me emociona demais, mas nada melhor que o livro e seus detalhes, adorei a resenha. Bjs

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  3. Oi, como vai?

    A cor púrpura é um clássico, já li o livro e assisti ao filme, ambos excelentes. Uma história forte e comovente, sobre racismo, subserviência e violência contra as mulheres. Em outras palavras, uma obra maravilhosa que vale a pena a leitura. Parabéns pela excelente resenha!

    http://www.cristinadeutsch.org/
    Saudações literárias.
    Beijos no ♥

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  4. Olá!
    Eu nunca li esse livro, mas acho a premissa dele incrível! É um livro que aborda TANTA coisa importante, que fica impossível de não querer descobrir mais sobre essa história.
    Eu acho que já assisti a adaptação cinematográfica dele, mas não me recordo direito...
    Adorei sua resenha e sem dúvidas vou tentar lê-lo nos próximos meses.
    Beijos!

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  5. Olá, que resenha linda. Eu já tinha lido um trecho do livro, e ganhei ele recentemente mas ainda não consegui encaixá-lo em minhas leituras, tenho certeza que vou amá-lo quando ler!

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  6. Olá!
    Eu tive a felicidade de assistir o filme produzido por Spielberg e ser agraciada pela belíssima interpretação de Whoopi Goldberg no papel de Celie. Por essas razões, esse filme me arrancou lágrimas e suspiros. E quando soube da publicação dele aqui no Brasil, anos depois. Fiquei louca pra comprar e mergulhar na leitura, sinto que vou me emocionar em dobro.
    Excelente resenha!
    Abs
    Ni
    Cia do Leitor

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  7. Oioi! Tudo bem?
    Recebi otimas recomendações para ler A Cor Púrpura!
    Um classico, que a Record lancou novamente e amei demais a capa.
    Os temas abordados sao tensos e mto me interessa, como abuso sexual, relação de poder...
    Adorei a resenha e agora sei o que me espera no livro.
    Acho que vou gostar mto.
    Beijos

    Livros e SushiFacebookInstagramTwitter

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  8. Oie! Eu sempre ouvi falar do filme A cor púrpura, mas, tbm nunca vi. Não imaginava que tinha um livro até bem pouco tempo atrás. Confesso, quando soube e do que a tratava eu pensei, preciso ler. Gosto de histórias de superação com personagens fortes e onde temos nossas fraquezas expostas tbm. Eu tenho certeza que irei me emocionar e aprender com este livro. Esta no topo da minha lista. Beijos.

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  9. Nossa, que coisa horrorosa! Sofrer abusos do próprio pai e ainda ter filhos desses abusos, no plural? Que coisa mais horrorosa, porque né, depois da primeira vez acho que daria para pelo menos desconfiarem do que estava acontecendo. Acho que a leitura é forte demais para mim, não gostaria de conhecer a história.

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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  10. Oi Maria, sua linda, tudo bem?
    Eu vi o filme quando era bem mais nova e lembro que me chocou tanto, nunca tinha visto tamanha dor antes, nunca tinha visto esse tipo de abuso antes. É uma história muito difícil, porque você consegue se colocar no lugar dela e se apavora com ela. Eu fiquei marcada até hoje, acredita? Não é algo que se esquece. Não sei se teria estrutura para ler o livro e reviver tudo. Mas definitivamente, para quem não conhece, sensacional!!! Sua resenha ficou ótima!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  11. Oi, Maria!

    Caramba, esse livro deve ser o máximo!
    Com tantos temas fortes, tenho certeza de que a leitura deve ser ótima.
    Não estou no momento para ler esse livro agora, mas já deixei o nome na minha lista de desejados, porque com certeza eu quero ler.
    Adorei a dica!

    Beijos!

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  12. Oiiie
    muito legal sua resenha, li o livro e também super adorei, é uma leitura interessante e mega valida, ótima dica

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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O Poesia na Alma pertence ao universo da literatura livre, como um bicho solto, sem dono e nem freios. Escandalosamente poéticos, a literatura é o ar que enche nossos pulmões, cumprindo mais que uma função social e de empoderamento; fazendo rebuliço celular e sexo com a linguagem.

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