Projeto Literário - Senhoras Obscenas
“De cigarras e pedras, querem nascer palavras./Mas o poeta mora / A sós num corredor de luas, uma casa de águas./ De mapas-múndi, de atalhos, querem nascer viagens./ Mas o poeta habita /O campo de estalagens de loucura./ Da carne de mulheres, querem nascer os homens./ E o poeta preexiste, entre a luz e o sem-nome.” (Hilda Hilst)
Após divulgação de uma pesquisa realizada
pela Universidade do Sul da Califórnia (EUA), revelando que o número de
diretoras, roteiristas e criadoras de séries não ultrapassa a faixa de 20%, o YouTube lançou o Programa Global Para
Mulheres, uma campanha onde o objetivo é encorajar mulheres na produção de
vídeos e suas publicações.
Assim surge a ideia de um canal no YouTube
e página no Facebook com o intuito de incentivar as mulheres a publicarem seus
vídeos nas redes sociais - Senhoras Obscenas.
As idealizadoras Graziela Brum e Carla Cunha, ambas escritoras, convidaram-me para
contribuir com um de meus poemas para o canal. Instantaneamente encantei-me
pelo projeto e entre trocas de conhecimentos e afinidades literárias, tornei-me
parte integrante dele, o projeto, com mais uma proposta, o resgate de memórias.
Tanto o canal quanto a página têm o
intuito de apresentar nossas artistas
atuais. Publicar a poesia, a prosa, o verso, o conto, que estão escondidos
em gavetas, pastas e mentes, ou uma dança, música, atuação, enfim, diversas
manifestações artísticas. A proposta é divulgar a escrita de muitas mulheres
que estão produzindo literatura e de muitas artistas que não encontram um
espaço para mostrar suas criações. Queremos salientar a necessidade de termos
as mulheres inseridas ativamente neste meio, pois sabemos que existem grandes
artistas que vivem às escondidas.
Primeiramente o nome escolhido faz uma
alusão ao livro de Hilda Hilst, “A
Obscena Senhora D.” , devido admiração de todas idealizadoras à escritora.
Depois, com o amadurecimento das ideias do projeto o significado ganhou outras
considerações.
Há séculos, a mulher possuía um lugar
inferior na sociedade brasileira sendo representada como uma propriedade.
Primeiramente do pai, que era o responsável pelos arranjos matrimoniais, e
depois do marido, onde para este último a mulher deveria ser além de um objeto
para procriação, uma esmerada dona de casa, recatada e manter a “moral e os
bons costumes” da família. Para piorar a situação, existia o conceito de que
para exercer este papel, não necessitaria de estudos. Por isso, muitas mulheres
eram semianalfabetas. Com o passar dos anos a mulher foi conquistando espaço na
esfera intelectual, obviamente sua classe social favorecia para ser incluída
neste meio.
Vale lembrar que a formação acadêmica das
mulheres no Brasil deu-se de maneira conturbada, pois a lei que permitia o
ingresso destas nos cursos superiores foi promulgada somente em 1879. Antes
disso, as mulheres eram impossibilitadas de qualquer profissionalização, com
exceção ao professorado, que exigia somente Escola Normal. Esse atraso por
melhores condições profissionais ocorreu por diversos motivos. Devemos
considerar que a ausência de uma tradição feminista, como na França ou nos
Estados Unidos, na luta pelos direitos sociais, contribuiu para essa delonga.
Em relação às manifestações artísticas, no
século XIX havia a concepção de que as mulheres consideravam a arte como
diversão, porém nem todas encaravam como passatempo. Havia àquelas que
almejavam, com as atividades artísticas, uma elevação profissional. Precisamos
salientar que neste período a Escola de Belas Artes, assim como a Academia
Brasileira de Letras, era conservadora, resistia às mudanças, e fazia grandes
restrições na inclusão feminina no corpo discente.
Durante muitos anos a mulher foi obrigada
aceitar sua condição de inferioridade. Em algumas situações onde havia mais
liberdade no lar, já durante o século XX, quando se casava era reprimida, se
não pelo marido, pela família do mesmo. E, por mais que fosse algo “normal”
para o período, nem todas aceitavam essa condição de submissa.
Não sendo questionadas sobre os próprios
desejos, seus anseios e inquietações eram abafados por ordens. As que se
aventuravam na escrita eram consideradas feministas, pois a ruptura do
paradigma doméstico, a ânsia por liberdade, principalmente de expressão, a magia
do pensamento e questionamento sobre essas obrigações, caracterizavam-nas como
subversivas e obscenas. E este é um fato que precisamos destacar, pois mesmo há
séculos, com muitas barreiras, existiram mulheres guerreiras que defenderam
seus objetivos e ideais, sendo na época malvistas e hoje como exemplos de
determinação e autenticidade para nós, mulheres do século XXI. Infelizmente até
hoje no Brasil a mulher é vista em algumas situações, e por algumas
mentalidades conservadoras, ainda como este ser inferior. Porém, felizmente,
gradativamente esse quadro tem se modificado através de inúmeras lutas diárias
por respeito e igualdade. Mostrando a cada dia, que tão forte quanto os homens
as mulheres suportam qualquer dificuldade na conquista de sua emancipação,
independente da área de atuação escolhida.
Outro ponto importante é que mesmo
realizando grandes feitos e obras muitos fatores contribuem para uma pessoa ser
desconhecida, principalmente no que tange à classe social do indivíduo. Se a
pessoa que realizou estes feitos for uma mulher o reconhecimento é ainda mais
prejudicado, haja vista o período em que viveu.
Com isso, iremos também divulgar mulheres
esquecidas e apresentar, fazendo uma simples explanação, do porquê de seu
esquecimento. Para além de um resgate de memória suscitar o conhecimento
àqueles que por algum motivo nunca ouviram tais nomes. Trazendo à luz grandes
mulheres que estão na sombra do conhecimento comum.
Afinal, nosso aprendizado é constante e
essa interlocução só contribui para uma melhor compreensão da vida e seus
percalços. Evoluímos e nos modificamos através do conhecimento e a melhor forma
de expressão, seja das maravilhas e mazelas do viver, é através de
manifestações artísticas e literárias.
O grande vilão das novas conquistas e
descobertas sempre será o medo. E este é o que empurra a mulher para seu
abrigo, sua zona de conforto, onde qualquer pequena modificação gera receio.
Receio do que os outros pensarão. Esse pensamento abala as estruturas, congela
as ações e muitas vezes como resposta à esse medo, a culpa sobressai à falta de
tempo. Onde é comum as mulheres protelarem os enfrentamentos de uma nova forma
de expressão mantendo muitos sentimentos retraídos. É sabido que sentimentos
retraídos podem gerar grandes problemas psicológicos, a começar pelo vazio
interior. Quando a pessoa acredita neste vazio não enxerga sentidos em sua
vida. De fato, essas características não se condicionam somente às mulheres,
estas fazem parte do indivíduo na atualidade, um ser com poucos ou fugazes desejos.
Não podemos ser coadjuvantes de nossa própria existência! Somos donas, e donos, de nossa própria História e essa só se dá através das conquistas que realizamos, das emoções que afloramos, dos sonhos que almejamos e, principalmente das experiências que possuímos. Não há
fórmulas de como adquirir experiências, simplesmente precisamos fazer uso de
nossa sensibilidade e ousadia. Elas surgem durante uma passagem pelo
desconhecido, onde alargamos nossas perspectivas, identidade, sapiência e nos
encaixamos no mundo.
Em suma, Senhoras Obscenas são todas as
mulheres que desde séculos como até hoje em dia, deixam seus próprios medos e
preconceitos de lado e lutam por seu espaço em meio às desigualdades de gênero,
principalmente àquelas abriram mão de outros caminhos e almejam uma carreira
literária, que sentem desejos de transbordar amores, de aliviar as cargas
emocionais cotidianas e que sabem que não devem ser reprimidas. Portanto,
expressam livremente nas letras e artes suas inquietações e sensibilidades devendo
assim incentivar às demais mulheres que tenham essa inclinação artística.
“Ouse, ouse... ouse tudo! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!” (Lou Andreas Salomé)
Confira aqui a entrevista com As Senhoras Obscenas
Sobre a autora
ADRIANA CALÓ
Reflexiva sobre a vida e as ações cotidianas. Curiosa e intuitiva, rabisca poesias, brinca com pincéis e tintas. Amadora por natureza com uma marcante característica: Liberdade Artística!
Fonte: obvious
Que ideia massa, vou acessar o canal! A iniciativa do YouTube veio na hora certa, acredito que muitos escritores estejam atentos. Belo post, bela iniciativa! Beijos e sucesso!
ResponderExcluirCarolina Gama
Gente, que projeto mais bacana!
ResponderExcluirVou passar lá no canal pra conferir o trabalho dessas mulheres que nem conheço, mas já considero muito. *-*
Beijos!
Olá,
ResponderExcluirAchei maravilhoso esse movimento de incentivo, quantos talentos não podem ser descobertos? Já estou divulgando esse lindo trabalho para algumas amigas e espero que tudo corra bem. Preciso dizer que depois de ler esse post, me senti tão inspirada, é tão bom ver o quanto as mulheres tem lutado e sido reconhecidas. Dá força para a alma.
Abraços
colecoes-literarias.blogspot.com.br
Oii!
ResponderExcluirQue projeto mas incrível! Com certeza vou passar no canal para conferir o trabalho maravilhoso dessas mulheres!
Vitória, www.vicio-de-leitura.com
Caraca! Sério, ainda chocada que não ultrapassa a faixa dos 20%!
ResponderExcluirE que projeto incrível, meu! Vou correr no canal para conferir este ótimo trabalho delas! :D
Beijo, Min
Olá...
ResponderExcluirQue post incrível! Esse projeto é ótimo e estou bem animada por poder conhecer. Obrigada!
Vou correr pra conferir.
Abraços
Conheci o projeto do Youtube e é super legal conhecer o canal e ver que tá dando resultado :D Estamos caminhando para a igualdade, mesmo que com passinhos pequenos. Vou conferir o canal com certeza!
ResponderExcluirBjs, Cass
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirAchei a ideia do projeto muito interessante e gostei mais ainda da ideia de vocês de falar sobre mulheres esquecidas na nossa sociedade. Ainda tem gente que acha que não precisamos do feminismo, é só olhar tudo o que conquistamos ao longo dos anos.
Gostei muito do seu post e ideia para o projeto, com certeza acessarei seu canal!
Beijos, Larissa (laoliphant.com.br)
Que projeto massa! E o nome inspirado numa obra da Hilda Hilst que já tive o prazer de conhecer seu trabalho achei genial! Já curti a fanpage e adorei o post!
ResponderExcluirAbraço;
http://estantelivrainos.blogspot.com.br
Oi Lilian! Que projeto mais lindo! Vou lá conferir o canal, precisamos de mais projetos como esse!
ResponderExcluirBlog Ei, Carol!
adorei o projeto, vou dar uma olhadinha com calma.
ResponderExcluiradoro coisas assim <3 é sempre bom incentivar.
vou ver se divulgo o projeto com as amigas.
Seguindo o Coelho Branco
Olá! Achei sensacional essa ideia do canal e já desejo todo sucesso do mundo para vocês! Fiquei chocada em saber que somos apenas 20% na produção de séries e documentários, em um mercado tão gigante como esse! Reconheço os avanços, mas gostaria muito que progredíssemos mais rapidamente, tendo em vista que muita gente ainda tem aquela cabeça super antiga de tempos atrás.
ResponderExcluirBeijos!
Karla Samira
http://pacoteliterario.blogspot.com.br/
Lilian, que ideia mais bacana.
ResponderExcluirJá tinha visto a página no face, mas não sabia do canal. Já vou conferir.
Adorei a inspiração do nome.
Com certeza vão arrasar.
Lisossomos
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirAdorei toda essa ideia, desde o youtube até como está sendo aqui.
Esse projeto é necessário sempre, a falta de conscientização a respeito do espaço das mulheres ainda é um assunto tabu. Gostei muito de saber mais a respeito. Bjkas
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