A presença dos escritores na escola, por Leonardo Nóbrega
Quando,
tardiamente, iniciei minha carreira de escritor no ano de 2013, alguns dos
primeiros eventos para os quais fui convidado, foi participar de encontros
literários em escolas; conversar com os alunos sobre escrever e publicar não me
parecia, depois de vinte e oito anos de salas de aulas, algo assim tão
diferente. Confesso, não fiquei muito entusiasmado. Eu não imaginava o quão
importante e gratificante seria a relação com alunos que não eram os meus, em
um ambiente em que eles simplesmente adoram: o mundo fantástico dos livros.
Entretanto,
conversando com colegas professores, percebi que existe, para a maioria, uma
distância enorme entre o aluno dos eventos literários – participativo,
entusiasmado, atencioso – e o da sala de aulas – inquieto, desinteressado,
apático.
Há uma angústia
pairando pelos corredores e pelas salas dos professores de nossas escolas, apelidada,
corriqueiramente, de “fracasso escolar”. Fenômeno que pode ser interpretado de
inúmeras maneiras e que já encheu muitas páginas de muitos livros. Nós vamos
caminhar por trilhas já abertas que veem o “fracasso escolar” como um sintoma
social.
Entendemos que
esse não é um fracasso do escolar,
porém, ele aponta incoerências do estilo de educação instituído pela
Modernidade. Modelo que impõe emergência, massifica e padroniza, que propõe
gozar sempre. Modernidade onde o sofrimento e a tristeza estão banidos: A
ninguém deve (ou pode) faltar nada.
Ora, educar, no
sentido mais amplo do termo, é introduzir o sujeito na civilização ou, dito de
outra forma, inserir a criança no mundo adulto. Acontece que não é possível ao
humano fazer parte da cultura e da civilização (e até mesmo se fazer sujeito)
sem abdicar de alguns (ou muitos) prazeres. Como então os educadores – pais e
professores – podem atender a essa exigência, estando, eles próprios, inseridos
nesse discurso do não-faltar-nada? Do
gozo total e irrestrito? Não podem. Aos adultos cabe compreender (e aceitar)
que, além de não ser possível fazer com que nada falte à criança, pois para
todos nós haverá sempre algo mais a desejar, os pequenos nunca conseguirão
preencher o que nos falta, não realizarão o nosso ideal. Profecias como: “ele vai ser tudo o que eu não fui” ou “ele vai ter tudo o que eu não pude ter”
não costumam cumprir-se, porém, geram uma “dívida” impagável para o sujeito
que, além de se haver com os seus conflitos, passará a precisar dar conta dos
conflitos das gerações ancestrais.
O professor
sente-se então, diante desse quadro, sozinho e confuso. Sozinho por não
encontrar sustentação na escola, nos pais e, em última instância, na sociedade
para cumprir sua missão, qual seja, educar; e confuso por não reconhecer-se
mais nesse lugar de “guia” para a cultura e civilização, de detentor de um
saber que lhe conferia autoridade, respeito e empatia, indispensáveis para
realizar sua tarefa. E aí ele se pergunta: “O que querem agora de mim”?
A escola assumiu,
há muito tempo (aliás, foi criada para isso) várias das funções parentais. Os
professores tinham então status, digamos assim, de “pais postiços” com as
características da função, inclusive a aplicação de castigos físicos a exemplos
dos pais “reais” e que era prática comum à época. Hoje, as escolas (leiam-se
professores) e a maior parte dos pais não adotam e não admitem mais essa
postura (ainda bem!), mas continuam, em tese, exercendo um papel fundamental na
construção desses sujeitos, e os professores, por lidarem diariamente e
diretamente com os alunos, têm uma porção significativa dessa responsabilidade.
Aqui surge um paradoxo: diferente do pai antigo que emprestava o seu poder ao
professor e aceitava que esse, junto com ele (pai), o exercesse, o pai da
Modernidade abre mão da sua função usando para isso (e para si próprio)
alegativas inconsistentes como: “Não
cobro muito por passar pouco tempo com ele” ou “o meu cansaço ao fim do dia é tamanho que acabo permitindo tudo” e,
por outro lado, desautoriza a escola e o professor quando esses, de dentro da
confusão da qual falamos antes, esboçam algum movimento em direção a
instituírem “bordas” que balizem a criança e o adolescente, levando-os a ocupar
o seu lugar na civilização. O pai da Modernidade não faz e não permite que seja
feito, exatamente por estar “atravessado” pela ideia de que o filho deverá ser
mais do que ele foi e que para isso a ele não pode faltar nada. O seu gozo tem
de ser pleno.
O interesse pela
leitura demonstrado por parte dos alunos nos eventos literários é algo
sensacional. Os livros, acredito, podem ser o elo que reconectará o aluno da
sala de aulas com o do auditório dos eventos literários. A leitura
complementada pelas conversas com os autores pode vir a ser mais uma ferramenta
educacional, e não apenas mais uma, mas uma importantíssima. Os Contos de
Fadas, Romances, Literatura Fantástica com seus heróis e vilões atravessando
situações que são tão presentes nas vidas de todos nós, por si só são grandes
ensinamentos sobre o certo e o errado, a ética e a moral. Eles educam, mudam as
pessoas e as introduzem na sociedade de forma lenta, calma e duradoura, quase
de forma imperceptível.
Freud classifica
o educar entre as três profissões impossíveis (as outras são governar e
psicanalisar), mas não é função dos professores e dos escritores fazerem o
impossível? Então, pessoas, se armem de amor e coragem e vão à luta.
Excelente texto, digo isso, porque me preocupo e muito com os livros obrigatórios impostos, acho que ler livros clássicos nacionais para alunos tão jovens contribui para deixar o ensino mais complicado.
ResponderExcluirBeijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog / Facebook In The Sky
Ouço muuuuito isso das pessoas. Acharem que a educação é só na escola quando, na verdade, deveria começar em casa.
ResponderExcluirOlá.
ResponderExcluirEstou no último ano do ensino médio, mais precisamente nas recuperações já.
Nunca, em todos os meus anos de escola um escritor foi à qualquer das escolas que já estudei e nem recebi incentivo de ninguém do corpo docente.
Já passei por muitas escolas, mais do que o habitual. E digo com certeza de que isso faz muita falta. Tanto pela péssima escrita, quanto pela má fala e pela dificuldade de expressão dos jovens.
Sou apaixonada por leitura, mas fui incentivada em casa.
Eles levavam nós a feiras de livros, mas era só aquela uma vez por ano e muitas vezes ocorriam de nem irmos.
Se um dia, Deus quiser que eu me torne escritora, quero abrir um projeto e visitar o máximo de escolas possíveis durante minha vida toda. Isso vai além do incentivo, são oportunidades.
Belo texto, gostei muito. Minha educação recebi a maior parte de casa.
Abraço.
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirÓtimo texto! Sou professora e sei bem do que você está falando! Passamos por situações do tipo todo dia no trabalho! Pais que não acompanham os filhos, que não os impõe nenhum limite e que acha que a escola é a única responsável por educá-los.
Vejo a leitura como fonte de inspiração e acredito que ela pode mudar nosso cenário atual sim!
Beijos :*
http://www.livrosesonhos.com/
Muito interessante o texto, com certeza as artes de forma geral são a melhor forma de conseguir a humanização :D
ResponderExcluirOlá, tudo bem?
ResponderExcluirSeu texto é muito válido! O único autor que eu conheci em contexto escolar foi no cursinho pré-vestibular (que era pago) foi o Moacyr Scliar, meu ídolo que falou que era muito bom ser autor e tal.
Eu penso em cursar Letras ou História, mas quando penso como era na escola me dá certo desânimo. Mas, acredito que a literatura é ótima para tornar uma pessoas crítica. No Brasil, poucos tem o costume da leitura, por isso que muitos nem sabem o nome do vice-presidente.
Beijos <3
Parabéns pela linda reflexão! Suas palavras expressam várias angustias que eu sinto em relação à escola, aos pais, aos professores e a sociedade. Quero destacar um ponto em especial da sua falar, que também me inquieta. Essa questão de que vivemos em uma sociedade do gozo e do não sofrimento. Isso é muito real quando estamos na sala de aula. Acho que precisamos superar esses dois pontos, para então compreendermos que a evolução só vem com caos, com desordem. A calma é estagnação.
ResponderExcluirBeijos!
Gostei muito do seu texto, são bons pontos sobre a literatura na educação. Parabéns!
ResponderExcluirLeonardo sempre coloca suas ideias tão lindamente em seus textos! Gostei muito e concordo com tudo. Quando aluna não fui, em momento algum, apresentada à literatura pelos meus professores. Acabei pegando o gosto pela leitura por ver minha irmã lendo e porque sempre fui curiosa, se não, não estaria comentando aqui hoje. Seu texto me fez refletir bastante!!
ResponderExcluirBeijos
Olá, achei o texto interessantíssimo! Sou estudante de Pedagogia e concordo bastante com o que foi dito nele.
ResponderExcluirOláá
ResponderExcluirMeu Deus, que post sensacional, adorei. Com certeza seria muito válido as escolas apoiarem mais inclusive escritores na escola seria lindo. Eu tomei gosto pela leitura por conta própria e se ia na biblioteca da minhas escola, a tia não me deixava ficar mais que dois minutos, a biblioteca nem sempre abria e eles nunca influenciaram ninguém, uma tristeza né?
Beijos
http://realityofbooks.blogspot.com.br/