Releituras - A Casa dos Budas Ditosos
A Casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro, coleção Plenos
Pecados, Objetiva Editora, 163 páginas, é mais uma obra-prima do autor, onde o
foco norteador é a Luxúria. Quem ainda não conhece o João, nada leu sobre,
sugiro que inicie com Viva o povo
brasileiro, de qualidade prazerosa e essencial. Mas, voltemos ao livro em
questão...
‘A Casa dos Budas Ditosos - Ao receber, segundo afirma, um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, o escritor João Ubaldo Ribeiro não podia imaginar o que o esperava. E o inocente leitor, que sequer pode suspeitar o que o aguarda em cada uma das páginas deste livro. Nelas se conta uma vida. E a suposta autora teria enviado seu testemunho para que fosse utilizado para o volume sobre a luxúria da Coleção Plenos Pecados. O escritor aceitou o oferecimento e o resultado final está agora diante de você. Que deve preparar-se para um relato pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônico, sempre instigante. Na verdade, dificilmente a ficção poderia alcançar os limites do que a devassa senhora viveu e narra em detalhes riquíssimos. Se o leitor tem alguma dúvida, ela logo se dissipará, neste fascinante mergulho na vida espantosa de uma mulher sem dúvida excepcional, cuja narrativa alcança as dimensões de um retrato sociológico de toda uma cultura e uma geração, envolvendo um dos pecados mais indomáveis, e capitais. A luxúria.’
A casa
dos Budas Ditosos é o relato da vida sexual de uma mulher; sem romantismo ou
camuflagem. Sem puritanismo, visto que a luxúria não permite tal contraponto. Não
tem quatro paredes, certo ou errado. Ubaldo desvela um universo livre e
selvagem, em que a mulher abre a essência sexual de suas entranhas e diz... diz
tudo o quanto ela é capaz e pode realizar em vida.
Também
aborda a liberdade sexual da mulher, em muitos trechos, a protagonista relata
como precisou maquiar certas situações para não ser perseguida ou caluniada. E isso ainda existe, agora, com a força da internet. Também não era
nenhuma ‘santa’, não por fazer sexo, mas por provocar diversos tipos de
situações que a colocavam, em certos momentos, quase como um monstro. O que
também não a deixava sentir culpa ou remorso... Conservadores podem ter ataque
do coração com a obra.
O tom de
ironia e sarcasmo rememora em vários momentos o elemento central psicossexual
da personagem. A crítica social é de rir e revirar o estômago, pertinente e esdrúxula.
Orgias, incesto, voyeurismo, sadismo, masoquismo, feminismo, sodomia etc. não
são marginalizados, passam para o centro das atenções, inquietações e reflexões,
além da desconstrução de muitos estereótipos.
‘Atraso, atraso, vivemos segundo regras e padrões para os quais nenhum ser humano foi feito e, claro, ficamos malucos por isso. Não sei se já falei que encaro com piedade a mulher que diz sincera e proibitivamente “meu negócio é homem, minha filha” e frequëntemente, é irrecuperável para uma visão do mundo e uma vida sadias, até porque fortificada por trás de sua muralha de neuroses e crendices. Fico com pena. A bem dizer, fico com pena não só das mulheres como dos homens em condições análoga, fico com pena de todos esses exclusivos de araque. Preferências, sim; exclusividade, jamais.’
Apesar
de não recomendar a obra para menores, o livro não é só sacanagem, gente.
Alguns trechos são tão hilários que não contive minha maior e mais ousada
gargalhada durante a madrugada.
“Meu avô materno era aristocrata, elegantíssimo (...), mas, depois que passou de uma certa idade, peidava em público. Assisti a ele peidar na frente do inventor, na época do Estado Novo. (...). Quando minha avó reclamava, ele dizia que o que está preso quer ser solto e todo mundo peidava, inclusive o inventor, então não era ele que, àquela altura da vida, ia arrolhar um peido. Quem quisesse que arrolhasse, mas ele não.”
Norma
Lúcia é uma amiga, apresentada quase como uma mestra da Luxúria, alguém para
ser admirada, uma entidade sexual. Lembrada com saudosismo e que de tanto
carinho, merecia um museu ou memorial, coisas do tipo.
A
protagonista e narradora, é uma mulher intelectual, faz citações que há muito
não via e outras que sequer conhecia. Um desses nome é o Pierre Choderlos de
Laclos, vi o nome dele num livro de Linguística (eu acho), há anos, e nunca
mais... Ele é francês e sua obra mais célebre é "As Relações
Perigosas". Há trechos em que ela se expressa numa língua estrangeira,
fiquei voando, salvo os que ela explicava... ainda bem que existe o Google.
O livro,
para mim, teve a mesma funcionalidade de um bom Hot. Sim. Causou o mesmo efeito
sensorial. Mas, vou logo advertindo, não quer dizer que cause em todo mundo,
alguns amigos não tiveram a mesma sorte que eu...
‘A casa
dos budas ditosos’ é erótico, libertador, feminino, feminista, machista,
difícil, humano, cruel, filosófico, encantador, divertido, enigmático. Minha
vontade era de conhecer a personagem do livro e conversar com ela... na obra,
ela já não é mais jovem, mas suas palavras têm a força da vida eterna...
Esse é o
tipo de livro que simples resenhas não são capazes de abarcar sua
grandiosidade, recomento, para maiores de dezoito, que leiam, mas abertos e
dispostos a desconstruir e desaprender algumas vezes. A obra teve adaptação
teatral com a atriz Fernanda Torres. Nunca tive o prazer de ver, mas quem sabe
um dia...
Reli o
livro nesse último fim de semana, junto com Filhos de Lilith, de Elaine Velasco
(ver resenha) e O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, umas das
próximas resenhas do ‘Releituras’. Espero que vocês apreciem essa coluna
semanal, destinada a livros que já apreciei, mas nunca fiz resenha para o mundo
virtual.
Fazer
releituras é um hábito constante, com A casa dos Budas ditosos a sensação é que
estava mais madura para a leitura. A primeira vez, eu gostei muito, mas não
existiu a relação sensorial e me parece que deixei escapar alguns elementos.
Outro detalhe é que conseguir fazer ligações intertextuais bem rápido, os ‘insights’ eram momentâneos ao tempo do
trecho lido. Acredito que o motivo seja que o tempo que se passou, eu li outras
coisas, mais teóricos, minha experiência pessoal aumentou, 2014 não foi um ano
fácil, minha relação com os livros muda diariamente, parafraseando Heráclito, a
água que passa hoje no rio não é a mesma água de ontem, somo fluídos e
mutáveis, nascemos e morremos todos os dias.
Eu gostaria de reler alguns livros... E terminar os novos. Mas tem tanto artigo da faculdade pra ler já, que acabo me cansando! :/
ResponderExcluirSobre o livro, eu acho interessante, até certo ponto. A temática do livro em si não me agradaria a ponto de comprar e ler. Mas acho que legal o fato de ser a mulher sabe. Mulher pode fazer nada que é feio, isso enche o saco, então apoio tudo (ou quase) que incentiva a mulher a fazer o que ela bem entender. Acho que é isso, hehe! Beijos.
Olá,
ResponderExcluiracho que curiosa é a palavra para descrever como me sinto agora, confesso que se visse esse livro em uma estante não daria muita atenção, mas sua resenha me deixou realmente muito curiosa, tenho costume de ler livros Hots porém acho que esse pode ser uma nova experiência para mim.
beijão*...*
http://notinhasderodape.blogspot.com.br
Esse livro tá na minha listinha há um bom tempo... gostaria de conhecer a obra de Ubaldo com ele, mas já me falaram de Viva o povo brasileiro tbm...
ResponderExcluirMas creio que a temática de A casa dos Budas é mais minha cara...
bj, Lili ^^
Olá, esse livro olhando não seria um que eu leria, mas depois, conforme fui lendo sua resenha ele foi entrando na minha listinha de desejados. Gostei dessa abordagem da liberdade sexual da mulher, então eu curti muito, por conta dos temas!
ResponderExcluirBeijos
cheireiumlivro.blogspot.com.br
Olá :) Bem, eu não gosto de livro nesse estilo, rs mas, fiquei com curiosidade, gosto de fazer leituras de livros diferentes. Sem dúvida, é um assunto de certa forma "polêmico" e chama atenção, kkkk :o acredito que "A Casa dos Budas Ditosos" aborda o "sexo" de uma boa maneira, pois, tornar-se mais agradável por ter partes divertidas. :D Adorei a resenha! *-* ;) Beijos!
ResponderExcluirBlog: http://my-stories-wonderful-books.blogspot.com.br/
Página: https://www.facebook.com/BlogWonderfulBooks
Que intrigante já tinha ouvido esse titulo mais
ResponderExcluirnão sabia que se tratava da vida sexual de uma mulher
fiquei bem interessada em ler
Linda Tarde!
beijokas da Nanda
Mamãe de Duas
Tenho alguns livros para ler e terminar,mas nenhum deles tem essa proposta,que me interessou bastante,algo que eu nunca havia me interessado a ler,mas sua resenha aborda esse tema sexual até interessante
ResponderExcluirwww.alfragadesign.com
Eu li muitos clássicos, mas não tive a oportunidade de ler João Ubaldo Ribeiro. Estudei sobre, mas nenhuma leitura. Não cheguei a ficar interessada pra valer... de total desinteresse que eu tinha, agora até que fiquei curiosa. Não é o estilo que eu gosto, mas já li muito sobre e me pareceu um excelente livro. Curiosa... Excelente sua resenha, impressionada com a sua forma de escrever, parabéns!
ResponderExcluirAlessandra | www.ale-dreams.net
Nunca tinha ouvido falar do livro, Lilian. Nem do autor. Deu até uma vergonha aqui, olha.
ResponderExcluirAmei sua resenha e o modo como você a conduziu. A obra recordou-me outro autor nacional que tive o prazer de resenhar, Jim Carbonera. Li apenas Verme!, que pode ser light perto de A Casa dos Budas Ditosos, mas ouvi (e li) dizer que Divina Sujeira, também do Jim, consegue ser altamente polêmico e três vezes mais cru do que Verme!. Então é uma leitura que super recomendo.
Com carinho,
Celly.
Me Livrando: Livre-se você também!
Oiii amei a sua resenha sobre esse clássico e menina uma observação antes de falar do livro em si... como você consegue ler tantos livros ou mesmo tempo? hahaha
ResponderExcluirAgora sobre o livro: ele parece ser bom realmente e é um clássico muito comentado, mas nao tenho o costume de ler clássicos e eu sei que isso é feio demais alem do mais esse tema sobre muito sexo, mesmo não sendo um livro hot acho que não me interessaria... sou mega chata com isso
beijos
Mayara
Livros & Tal
Eu ainda não conhecia o livro, apesar de já ter lido livros dele. Não me chamou tanto a atenção, mas por ser dele, vou deixar anotado ^.^
ResponderExcluirOláá
ResponderExcluirNossa, a sua resenha ficou excelente, adorei saber mais sobre o livro, afinal, sempre escuto falar ultra bem do autor e tudo mais, parece ser realmente uma leitura mais complexa e diferente, então eu leria mais só daqui um tempinho hahaha
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Catharina
Beijos
A palavra "reler" é tão distante de minha realidade...rsrs Tantos livros na estante, tantas resenhas atrasadas...OMG!
ResponderExcluirMas esse livro, vou te contar. Sempre ouvi falar muito da peça, mas nunca senti vontade de ler o livro, até agora, ao ler sua resenha. Achei seus quotes interessantes e engraçados, do tipo que faz a gente se pinicar pra ler o livro todo, e assim que puder vou ler, com certeza.
Obrigada pela dica.
Beijos
Viviane
Razão e Resenhas
Oi Lilian, tudo bem?
ResponderExcluirO que mais gosto aqui no Poesia é a diversidade e gostei bastante da ideia da coluna Releituras.
Não conhecia a obra e como não sou nem um pouco conservadora acho que irei gostar. Espero ter oportunidade de ler.
Bjs
A. Libri
Eu não conhecia, mas sua resenha me intrigou!
ResponderExcluirwww.belapsicose.com
Lilian ri muito com seu comentário que p livro não é só sacanagem kkkk, nem deve ser , caso contrário a leitura perde muito da essência que é levar emoções ao leitor. No momento não leria. Mas deixei anotado. beijos
ResponderExcluirJoyce
www.livrosencantos.com
Hey, tudo bem?
ResponderExcluirFiquei muito curiosa com esse livro. Não o conhecia, mas pelo que pude interpretar da sua resenha ele possui diversas facetas, até mesmo aquelas que podem ser o oposto uma da outra, como feminismo e machismo, então estou tentando imaginar como o Ubaldo conseguiu equilibrar isso dentro de uma narrativa. Muito interessante mesmo.
Beijos,
Dois Dedos de Prosa
Bom dia,
ResponderExcluirNão li nada do autor ainda e tenho curiosidade, não conhecia o livro e achei interessante e vou seguir a sua dica.....abraço.
http://devoradordeletras.blogspot.com.br/
Oi Liliam, é a primeira vez que leio uma resenha sua (acho), gostei bastante, e a obra me despertou o interesse muito grande, não conhecia o autor e nem a obra. Vou anotar a dica aqui e espero ler logo, logo e também espero ter o prazer de ver a adaptação do mesmo.
ResponderExcluirBjuus!
http://livrosseriesecitacoes.blogspot.com
Oiee ^^
ResponderExcluirAcho que já tinha lido algumas coisas sobre esse livro, mas não tinha muita curiosidade de ler. Já coloquei na listinha de desejados, primeiro porque as palavras "feminismo" e "liberdade sexual da mulher" chamaram a minha atenção, e segundo porque a protagonista parece ser uma mulher incrível. Adorei a sua resenha :)
MilkMilks
http://shakedepalavras.blogspot.com.br
Menina, essa resenha está em outro nível. Eu adorei. Não conhecia o autor e acho que vou seguir a sua dica de ler Viva o povo brasileiro antes, mas não serei hipócrita em não dizer: esse livro que resenhou ganhou minha atenção de um jeito que, confesso, acho que o lerei antes (haha). Gostei muito do modo como destacou o estilo narrativo e os temas que o livro aborda. Senti certa semelhança com Bukowski.
ResponderExcluirBeijos!
http://www.myqueenside.blogspot.com